Setembro mês da Bíblia - 2013 - Discípulos Missionários à partir do Evangelho de Lucas
Desde
o século II a obra foi considerada de Lucas. Muitos comentaristas atribuem à
profissão de médico (cf. Cl 4,14) e o identificam com o discípulo e colaborador
de Paulo (cf. Fm 23ss, 2Tm 4,11). Porém, essa relação entre Paulo e Lucas, vem
sendo questionada, visto que há muitas diferenças entre a Teologia de Paulo e
de Lucas. Baseado na falta de consenso
dos estudiosos em determinar quem é o autor do terceiro evangelho, deduz-se
pelo texto que o autor, provavelmente, é um cristão proveniente do paganismo e
de origem grega. O autor é influenciado pelo estilo dos historiadores (Lc
2,1-2) e dos poetas gregos; utiliza a tradução grega da Bíblia e conhece bem o
Império Romano.
Existem
várias formas de estruturar o Evangelho Segundo Lucas. A nossa proposta é de
subdividi-lo em seis partes. A primeira parte é o prólogo, no qual o autor
explica os motivos que o levaram a escrever o Evangelho, apresenta o método
utilizado e o dedica a Teófilo (1,1-4). Lc 1,5-4,15 corresponde à segunda
parte, na qual contém a narração, em paralelo, do nascimento e da infância de
João Batista e de Jesus. Bem como, a apresentação, pregação e encarceramento de
João Batista, e os acontecimentos que precedem o ministério público de Jesus
(batismo, sua genealogia e as tentações – Lc 3,1-4,13).
O
autor relata, na terceira parte (Lc 4,14-9,50), o início do Ministério de Jesus
na Galileia, marcado pela rejeição em Nazaré, as atividades em Cafarnaum e no
lago; controvérsias com os fariseus, ensinamentos, milagres, parábolas e
questões referentes à sua identidade. Essa parte conclui-se com a
transfiguração. Na quarta parte,
encontra-se o Relato da viagem de Jesus a Jerusalém e a sua pedagogia para com
seus discípulos e discípulas, apresentando as exigências no seguimento e os
pontos fundamentais do Reino de Deus (9,51-19,27). Em Lc 19,28-21,38, quinta parte, o autor
narra o ministério de Jesus em Jerusalém com a entrada e atividade na área do
Templo e o discurso escatológico. Na
sexta parte do Evangelho Segundo Lucas (22,1-24,53) encontram-se os relatos da
paixão, morte, sepultamento (22,1-23,56a), das aparições do ressuscitado (23,56b-24,35)
junto ao túmulo vazio e no caminho de Emaús (24,13-35); e finaliza com a
ascensão ao céu (24, 36-53).
A
teologia Lucana é marcada por uma ênfase na história da salvação, que é
dividida em três períodos: 1) o tempo da preparação, ou período da promessa,
que seria a história de Israel (AT), representado pelas personagens Zacarias,
Isabel e João Batista; 2) o tempo do cumprimento da promessa que é o tempo da
vida de Jesus; e 3) o tempo do anúncio, da Igreja, retratado no Livro dos Atos
dos Apóstolos. Uma peculiaridade na
concepção histórico-salvífica de Lucas, é sua abertura universal. Portanto, a
salvação atinge todo o tempo e todas as pessoas, a humanidade (cf. Lc 2,30-32;
3,6; 9,52-53; 10,33; 17,16). Com isso, nos aponta para outro ponto fundamental
que é o tema da Salvação.
Não
podemos compreender a salvação como um “ir para o céu” após a nossa morte, mas
a salvação acontece na história. Para a Teologia Lucana, salvação e libertação
são termos equivalentes. Com isso, podemos dizer que a salvação contempla a
totalidade da pessoa, em suas múltiplas relações, ou seja, é o restabelecer a
justa relação com Deus, com os outros, consigo mesmo e com todo o Universo.
Nesse sentido, Jesus é o nosso “Salvador” (Lc 2,11; cf. At 5,31; 13,23), pois é
ele que nos mostra, com a sua encarnação, o sentido profundo da humanização das
relações.
Jesus
Cristo, na Teologia Lucana, é apresentado como compassivo-misericordioso (cf.
Lc 7,13; 10,33; 15,20) e como um profeta eleito por Deus, para levar a Boa Nova
aos pobres (Lc 4,16-30; 7,36-50; 13,32-34). Ele também é o lugar por excelência
da revelação de Deus (Lc 1,42). O título
de Senhor está vinculado ao seu ministério público e é apresentado como o
Messias enviado por Deus, para salvar o seu povo (Lc 1,47; 2,11.30-32). Jesus, em Lucas, é caracterizado pelo
acolhimento dos samaritanos, publicanos (Lc 5,27: Levi e Lc 19,2-10: Zaqueu),
dos pecadores (Lc 7,36-50; Lc 15,11-32); da viúva (Lc 7,11-17), enfim dos
marginalizados e excluídos da sociedade.
Lucas
dá à cidade de “Jerusalém” um grande destaque, pois é o único que começa e
termina em Jerusalém (1,5-23; 24,53). Jesus também participa das festas no
templo, em Jerusalém (2,22.42), e metade do evangelho narra a sua viagem e
estadia nessa cidade (9,50-21,38). Portanto, Jerusalém é o ponto de chegada de
Jesus para realizar a obra (Lc 17,11; Lc 19,28-38) e o ponto de partida para as
comunidades que, após a ressurreição, continuarão a sua missão (Lc 24,52).
A
dimensão orante, em Lucas, está presente em toda a vida de Jesus, sobretudo,
nos momentos mais importantes (Lc 1,10-11.13; 3,21; 5,16.33; 6,12; 9,18.28;
11,1.2-8; 18,9-14; 22,32.41; 23,46). O
autor não somente nos informa que Jesus reza, mas nos apresenta o conteúdo da
sua oração (Lc 10,21-24; 22,42; 23,46), frisa o pedido dos discípulos (Lc 11,1)
para ensiná-los a rezar e enfatiza a eficácia de ser perseverante na oração (Lc
18,1-8; 19,6-8; 21,36).
Outro
ponto é a contraposição entre pobreza e riqueza, que é um dos aspectos centrais
do seu programa ético. Diante dessa implicação ética da fé, Lucas reforça a
dimensão do despojamento, como uma das principais exigências do seguimento a
Jesus (Lc 5,11; 6,29-36; 9,58; 12,33-34; 14,33; 18,22.25; 21,1-4) e sinal
concreto de conversão. Consequentemente, sublinha a confiança incondicional na
providência divina (12,29-30). Em Lucas
o termo “pobre” não é visto somente na perspectiva socioeconômica, mas
compreende também os presos, os oprimidos (Lc 4,18), os desolados, os
aborrecidos e difamados, os perseguidos (Lc 6,20-22) e inclusive os mortos (Lc
7,22).
As
mulheres têm uma presença e uma participação marcante no Evangelho Segundo
Lucas. Desde o início, Lucas apresenta a estéril Isabel, recordando a história
das matriarcas e nos aponta para a dimensão teológica, como aquela pessoa que
está totalmente disponível ao dom de Deus e reforça a intervenção
extraordinária do poder de Deus no útero feminino, lugar privilegiado da ação
divina. No útero dessa história, surge
Maria, aquela que se dispõe a participar da história da salvação. É nela que
começa a se manifestar o mistério do Deus encarnado. Ela é o modelo do discípulo/ da discípula,
pois acolhe Jesus, está presente no seu ministério (4,16-30), participa da sua
dor e da sua rejeição durante a sua missão.
Além disso, Lucas apresenta outras mulheres, que seguem Jesus desde a
Galileia (Lc 8,1-3), estão presentes na sua morte e são as primeiras
testemunhas da Ressurreição (Lc 22,27 e 23,50-56). Também são narradas várias
curas e encontros significativos, nos quais as mulheres são protagonistas.
Lucas
é o evangelista que dá maior importância à figura do Espírito Santo e a
necessidade de uma abertura à sua ação. O Evangelho inicia apresentando a ação
do Espírito, no nascimento de João Batista (Lc 1,15) e na encarnação de Jesus
(1,41). Está presente em momentos significativos do ministério público de Jesus
(3,22; 4,1.14.18; 11,13) e é Ele que revela a presença de Deus na história
(2,26). O último ponto é o tema da
alegria. O autor reforça a certeza de que a verdadeira alegria nasce do
seguimento de Jesus, do agir misericordioso, do desprendimento constante, do se
deixar guiar pelo Espírito, da experiência profunda de que Jesus Cristo morto e
ressuscitado é a Boa-Nova para toda a humanidade.
O
subsídio será dividido em quatro encontros e uma celebração final, com a
finalidade de estudar estes textos em grupos (círculos bíblicos), nas pastorais
ou por pessoas interessadas em acompanhar as atividades do mês de setembro, de
uma forma especial, escutando e aprofundando a Palavra. O primeiro encontro
tratará sobre Lc 4,14-30, com a narrativa do início da missão pública de Jesus
na Galileia. O relato é marcado pela presença de Jesus na sinagoga e tem como
centro a proclamação do cumprimento do texto do profeta Isaías (Is 61,1-2), que
descreve, de modo concreto, a missão do Messias e a salvação que é anunciada a
todos.
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