terça-feira, 23 de outubro de 2012



Notícias do Sínodo dos Bispos 15 - Pe. Lima
MENSAGEM DO SÍNODO DE 2012 - II


Síntese da primeira redação do importante documento

O Calendário do Sínodo, em latim, diz no dia 22: vacat. Significa que não há reuniões nos círculos menores, nem no Plenário. Os relatores dos círculos menores junto com a direção geral do Sínodo e um grupo de assessores continuam, nesse dia, o trabalho já começado ontem, domingo: sintetizar as mais de 350 proposições sugeridas pelos 12 Círculos em apenas 50 proposições mais ou menos, seguindo, de um modo geral, as quatro grandes linhas já estabelecidas no Instrumento de Trabalho, ou seja: a natureza da NE, o contexto sociocultural onde se realiza a NE, as respostas pastorais a essa situação, os agentes e atores da NE.

Portanto, para a maioria dos participantes do Sínodo, foi uma segunda feira livre. O Superior Geral dos salesianos aproveitou dessa ocasião e convocou os 15 religiosos de sua congregação para um encontro fraterno, na Casa Salesiana que se situa dentro do território do Vaticano. Junto com os cinco que trabalham naquela obra, éramos 20 salesianos, que durante algumas horas convivemos fraternalmente, almoçando com nosso Superior Geral.

Apresento a seguir, os últimos números da primeira redação da Mensagem do Sínodo, cuja segunda redação certamente será apresentada amanhã.

Continuação da Mensagem do Sínodo (III)

12. Na contemplação do mistério, junto aos pobres. Queremos agora indicar duas expressões da vida de fé relevantes para testemunhá-la na NE. São dois símbolos que mostram nossa vontade de trilharmos hoje um caminho de regeneração da vida cristã. 1) O primeiro é o dom da contemplação do Mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo: é daí que surgirá um testemunho crível para o mundo; esse silêncio contemplativo impedirá que a palavra da salvação seja confundida por tantos outros rumores. Somos gratos a quantos, em mosteiros e eremitérios, dedicam sua vida à oração e contemplação. Precisamos também de momentos contemplativos em nossa vida do dia a dia e de lugares que evocam a presença de Deus (santuários interiores e templos de pedra) onde todos possam ser acolhidos. 2) O rosto do pobre: colocar-se ao lado deles não é somente ação social, mas sobretudo espiritual, pois neles resplandece o rosto do Salvador. A Igreja oferece o encontro com Cristo no ensino da verdade, na eucaristia, oração, comunhão fraterna e também no serviço da caridade. Devem ter um lugar especial em nossas comunidades: sua presença é misteriosamente poderosa para mostrar Cristo Jesus. A caridade deve ser acompanhada pela luta por justiça. Daí ser parte da NE a Doutrina Social da Igreja.

13. Nosso olhar quer envolver todas as comunidades religiosas dispersas pelo mundo, um olhar unitário, pois única é a chamada ao encontro com Cristo, sem esquecer as diversidades. Em primeiro lugar olhamos para as antigas Igrejas do Oriente, herdeiras da primeira difusão do Evangelho, cuja experiência guardam zelosamente: ela ensina que a NE é feita de vida litúrgica, catequese, oração familiar, jejum, solidariedade entre as famílias, participação dos leigos na vida da comunidade e diálogo com a sociedade. Muitas dessas Igrejas vivem no meio de tribulações testemunhando a Cruz de Cristo; alguns fiéis são forçados à emigração e levam a NE aos países que os acolhem. Que o Senhor abençoe essa fidelidade e lhes traga tempos de paz. Aos cristãos que vivem na África agradecemos o testemunho de vivência do Evangelho, muitas vezes em situações inumanas; exortamos a relançarem a evangelização recebida em tempos ainda recentes, a preservarem a identidade familiar, a sustentarem o trabalho dos sacerdotes e catequistas sobretudo nas pequenas comunidades e a continuarem o esforço de inculturação. Aos políticos fazemos um forte apelo pela promoção dos direitos humanos fundamentais e a libertação da violência ainda presente nesse continente. Convidamos os cristãos da América do Norte a responderem com alegria à convocação por uma NE enquanto admiramos os frutos generosos de fé, caridade e missão de suas jovens comunidades; mas reconhecemos que muitas expressões culturais norte-americanas estão longe do Evangelho; impõe-se um convite à conversão, para que, de dentro dessa cultura, os fiéis ofereçam a todos a luz da fé e a força da vida. Continuem a acolher com generosidade imigrantes e refugiados e abram as portas da cultura à fé. Sejam solidários com os latino-americanos na permanente evangelização comum de todo continente. À América Latina e Caribe vai também o mesmo sentimento de gratidão; chama nossa atenção a riqueza de religiosidade popular desse continente. Os desafios da pobreza, violência, pluralismo religioso reforçam nossa exortação para o estado de missão permanente, anunciando o Evangelho com esperança e alegria, formando comunidades de discípulos missionários de Jesus, mostrando como seu Evangelho é fonte de uma nova sociedade justa e fraterna. Queremos encorajar os cristãos da Asia, continente que possui dois terços da população mundial; que a pequena minoria cristã seja semente fecunda germinada pelo Espírito Santo e cresça no diálogo com as diversas culturas; às vezes marginalizada ou envolta em perseguições a Igreja na Ásia é uma presença preciosa do Evangelho. Sintam a fraternidade e vizinhança dos outros países do mundo que não podem esquecer as origens asiáticas de Jesus: aí ele nasceu, viveu, morreu e ressuscitou. Reconhecimento e esperança são nossos sentimentos também pela Europa, hoje marcada em parte por uma forte secularização, às vezes agressiva e ferida por longos decênios de poder comunista. Tal reconhecimento é pelo passado e pelo presente: de fato a Europa criou experiências de fé, muitas vezes transbordantes de santidade, decisivas para a evangelização do mundo inteiro: rico pensamento teológico, expressões carismáticas variadas, formas inúmeras de serviço caritativo, experiências contemplativas, cultura humanista que contribuiu para a dignidade humana e construção do bem comum. Que as dificuldades do presente sejam vistas como oportunidades para um anúncio mais alegre e vivo do Evangelho. Saudamos, por fim, os povos da Oceania que vivem sob o signo do Cruzeiro do Sul e agradecemos seu testemunho de fé. Como a samaritana, ouçam também o apelo de Jesus: "Se conhecêsseis o dom de Deus...". Empenhem-se em pregar o Evangelho e tornar Cristo conhecido hoje no mundo.

14. Ao final dessa experiência de comunhão de Bispos do mundo inteiro colaborando com o Sucessor de Pedro, sentimos a atualidade do mandato de Jesus: "Ide e fazei discípulos todos os povos. Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo". Não se trata só de missão geográfica, mas de chegar aos corações de nossos contemporâneos para levá-los ao encontro com Cristo, vivo e presente em nossas comunidades. Essa presença nos enche de alegria e nos faz cantar: "A minha alma engrandece o Senhor... Ele fez por mim maravilhas". Fazemos nossas as palavras de Maria: ao longo dos séculos Ele fez grandes coisas pela sua Igreja e nós o glorificamos, certos de que não deixará de olhar nossa pequenez para mostrar a potência de seu braço, também em nossos dias e sustentar-nos no caminho da NE. Que Maria nos oriente no caminho, às vezes parecido com o deserto; mas levaremos o essencial: a companhia de Jesus, a verdade de sua palavra, o pão eucarístico que nos nutre, a fraternidade da comunhão eclesial, o impulso da caridade. Nas noites do deserto as estrelas são mais luminosas: assim no céu de nosso caminho resplandece, com vigor, a luz de Maria, Estrela da NE a quem nós, confiantes, nos entregamos.

Roma, 22 de Outubro de 2012, segunda feira.

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.


Notícias do Sínodo dos Bispos 13 - Pe. Lima
MENSAGEM DO SÍNODO DE 2012 – II

Síntese da primeira redação do importante documento
A manhã deste radioso domingo de outubro foi marcado pela solene liturgia do Domingo das Missões, em que foram canonizados 7 santos de várias partes do mundo cristão. A grande Praça de São Pedro estava apinhada de gente, pois havia peregrinos vindo dos 7 países desses novos santos, principalmente filipinos. O mais jovem dos 7 santos, o catequista Pedro Calungsod, 17 anos, morreu mártir em 1672, nas Filipinas; duas são leigas.
No final de sua homilia, disse o Papa: "Estes novos Santos, diferentes pela sua origem, língua, nação e condição social, estão unidos com todo o Povo de Deus no mistério de Salvação de Cristo, o Redentor. Junto a eles, também nós aqui reunidos com os Padres sinodais, provenientes de todas as partes do mundo, proclamamos, com as palavras do salmo, que Senhor é «o nosso auxílio e proteção», e pedimos: «sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos» (Sl 32,20-22). Que o testemunho dos novos Santos, a sua vida oferecida generosamente por amor a Cristo, possa falar hoje a toda a Igreja, e a sua intercessão possa reforçá-la e sustentá-la na sua missão de anunciar o Evangelho no mundo inteiro".
Continuação da Mensagem do Sínodo (II)
Ontem, 20 de outubro, enviei a síntese dos primeiros sete números da primeira redação da Mensagem. Como é muito longa, resolvi dividir esta segunda parte, também em duas. Hoje envio a síntese dos números 08-11, completando amanhã com o final.
08 - A evangelização não é tarefa de alguns; se a família é seu primeiro contexto e a vida consagrada é sinal de seu fim último, no meio se coloca a ação da comunidade eclesial onde se encontram a Palavra, os sacramentos, a comunhão fraterno, o serviço da caridade e a missão. Na paróquia, presença territorial da Igreja, as pessoas podem encontrar o Evangelho. Hoje se requer que sejam articuladas em pequenas comunidades e seu cuidado pastoral exige novas formas de presença missionária. Nela o sacerdote, pai e pastor, possui papel decisivo. O Sínodo expressa gratidão e proximidade fraterna a tantos presbíteros que se dedicam com zelo a esse ministério, e pedem que o exerçam em estreita ligação com o presbitério diocesano, com uma intensa vida espiritual e formação permanente que os qualifique sempre mais. Ao lado dos presbíteros estejam os diáconos, outros ministérios a serviço do anúncio, da catequese, da liturgia, da caridade e tantas outras formas de participação e corresponsabilidade por parte dos fieis, homens e mulheres. Todos devem se colocar na perspectiva da NE. Quanto aos leigos, apoiamos as formas tradicionais e novas de associação, movimentos e outras expressões da riqueza de dons e carismas que o Espírito Santo enriquece sua Igreja. A todos exortamos à fidelidade, ao testemunho, à incansável dedicação ao Evangelho e à comunhão eclesial. Queremos nos unir também aos cristãos com os quais a unidade infelizmente ainda não é perfeita, mas que são marcados pelo Batismo do Senhor, do qual também são anunciadores. Alguns deles estiveram em nosso meio, testemunhando sua sede de Jesus Cristo e paixão pelo anúncio do Evangelho.
9. No nosso coração nos interrogamos, preocupados, mas não pessimistas, sobre o presente e o futuro das novas gerações: nelas está o futuro da humanidade e da Igreja. Preocupados, porque são atingidos mais diretamente pelas agressões de nosso tempo; otimistas, porque quem move a história é Cristo e porque entrevemos na juventude as aspirações mais profundas de autenticidade, verdade, liberdade e generosidade, para as quais a resposta é o próprio Jesus. Queremos sustentá-los nessa procura; encorajamos nossas comunidades para que ouçam, dialoguem e façam propostas diante da difícil condição juvenil para estimularem e não reprimirem seu entusiasmo. É preciso combater as especulações interessadas em dissipar suas energias lançando-os num consumismo alienante. A NE tem nos jovens um campo de grande responsabilidade e promissoras esperanças, como mostram a Jornada Mundial da Juventude e várias formas de serviço e missionariedade.
10. A NE se concentra em Cristo e na pessoa humana para facilitar o encontro entre ambos. Mas ela não se reduz a isso: quer também dialogar com a cultura, para nelas encontrar "as sementes do Verbo". A NE busca uma renovada aliança entre fé e razão, na convicção de que a fé possui riquezas que podem fecundar a razão aberta à transcendência, sanando os limites e contradições nas quais pode cair a razão. É nisto que se fundamenta o esforço das comunidades cristãs que se ocupam da educação e cultura, sobretudo nas escolas e universidades. O Evangelho é um precioso manancial para as culturas. Daí o cuidado especial pelas escolas e universidades católicas: nelas, a abertura ao transcendente, própria de todo itinerário cultural e educativo, deve propor o encontro com o acontecimento Jesus Cristo e sua Igreja. Somos gratos a quantos, às vezes com enormes dificuldades, labutam nesse campo pedagógico. O encontro entre fé e razão se dá também no diálogo com o saber científico, que não pode estar longe da fé; ela é uma manifestação daquele princípio espiritual que Deus colocou em suas criaturas para desvendar as estruturas racionais, base da criação. Quando ciência e técnica não se fecham numa concepção materialista do homem e do mundo, tornam-se um precioso aliado para a humanização da vida. Nosso agradecimento também aos artistas em suas várias formas: se de um lado expressam a beleza, por outro manifestam a espiritualidade humana; a arte torna evidente a beleza de Deus retratada em suas criaturas. Aliás, todo o mundo do trabalho é um espaço de cooperação com a criação divina. À luz do Evangelho, lembramos ao mundo da economia e do trabalho, que a pessoa humana deve estar no centro de suas preocupações. Enfim, com relação às religiões, são destinatárias naturais de nosso diálogo: o Evangelho de Jesus é paz e alegria; seus discípulos reconhecem tudo o que há de verdadeiro e bom nas religiões. Evangelizamos porque estamos convictos da verdade de Cristo e não porque somos contra alguém. O diálogo religioso quer ser um contributo para a paz, rejeição a todo fundamentalismo e denúncia da violência que se abate sobre os crentes. Os cristãos vivem a perseguição como participação no mistério da cruz e sabem que do sangue dos mártires nascem novos cristãos. Ao mesmo tempo em que toda a Igreja reza e sofre com os perseguidos, por outro conclama aos que detêm o poder, que salvaguardem a liberdade religiosa e a livre profissão e testemunho da fé.
11. Diante dos desafios da NE às vezes nos sentimos perdidos e sem referências. Bento XVI fala em "desertificação espiritual" que grassa no mundo; mas nos estimula a descobrir a alegria de crer, a partir desse vazio e experiência de deserto: aí nos voltamos àquilo que é essencial para viver. No deserto, como a samaritana, se vai em busca de água e de um poço... bendito aquele que aí encontra Cristo! O Ano da Fé é uma preciosa entrada na NE. Ele está ligado aos 50 anos do Vaticano II, cujo magistério fundamental resplandece no Catecismo da Igreja Católica. São referências seguras da fé.
Amanhã enviarei a síntese dos 3 últimos números (12-14). Lembro mais uma vez que se trata de um texto em elaboração e à luz do Evangelho poderá sofrer modificações. Tenham uma boa e frutuosa semana!
Roma, 21 de Outubro de 2012, domingo
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.
Notícias do Sínodo dos Bispos 13 - Pe. Lima
DIÁLOGO DE JESUS COM A SAMARITANA: EXEMPLO DE EVANGELIZAÇÃO Um primeiro rascunho da grande Mensagem do Sínodo Na sessão da manhã de hoje, foi apresentada à Assembleia, um primeiro rascunho da Mensagem do Sínodo. Dom José Betori, arcebispo de Florença e presidente da Comissão de Redação, começou dizendo que é um texto para transmitir imediatamente uma mensagem a todo o povo de Deus; é um olhar orgânico sobre os grandes temas do Sínodo com muita transparência. A mensagem não é dirigida tanto àqueles que devem ser evangelizados, mas às comunidades cristãs que, se supõe, devem ser evangelizadoras. Trata-se de uma parenese (exortação) muito cálida, um encorajamento e um elogio ao trabalho evangelizador já realizado.
A Mensagem é bastante longa, pois precisa nomear muita gente, e o tema do Sínodo é vasto. O texto é bíblico, perpassado pelo ícone de Jesus junto ao poço de Jacó evangelizando a samaritana. A linguagem é fácil, incisiva e bem figurada. Ao final da leitura de uns 45 minutos, um longuíssimo aplauso (mais do que o jovem Tommaso ontem...), indicou a aprovação maciça da Assembleia. Teve início uma rodada de observações; falaram 12 bispos, mas haveria ainda 36 inscritas e foram exortadas a enviarem por escrito suas observações. Como sempre acontece, há contradições nas observações, pois todo muito diz que é longa de mais, mas não há quem não peça para inserir isso ou aquilo...
Como o conteúdo é muito extenso, dividido em 14 pontos, irei apresentá-los em dois momentos. Hoje vai uma síntese dos 7 primeiros números e segunda feira mais 7. O conteúdo essencial está presente, embora de forma abreviada.
Introdução: antes de retornar às nossas dioceses, queremos nos dirigir aos fieis do mundo inteiro para apoiar e orientar o serviço ao Evangelho nos diversos contextos onde hoje se encontram.
1. Deixamo-nos iluminar pelo encontro de Jesus com a Samaritana; não há mulher ou homem que não se encontre ao lado de um poço com um jarro vazio esperando encontrar respostas a seus problemas. Hoje há muitos poços, mas a água nem sempre é boa... está poluída! Só Jesus é capaz de ler no fundo do nosso coração e revelar nossa verdade. Então como a samaritana, tornamo-nos anunciadores da salvação.
2. Por toda parte se sente a necessidade de reavivar a fé que corre o risco de obscurecer-se diante de tantas dificuldades. Essa é a nova evangelização (NE). Não se trata de começar tudo de novo, mas de colocar-se no caminho do anúncio do Evangelho que atravessou toda história e edificou a comunidade dos fiéis por todas as partes, fruto de tantos missionários e não poucos mártires. Os tempos atuais nos conclamam para algo de novo: viver de uma forma renovada nossa experiência comunitária de fé e de anúncio através de uma evangelização "nova no seu ardor, métodos e expressões". Bento XVI nos recordou que ela tem em vista principalmente as pessoas que, embora batizadas, afastaram-se da Igreja, para que redescubram a fé, fonte de graça e esperança. Estamos conscientes do enfraquecimento da fé de muitos batizados. Queremos enfrentar o problema que os tempos geram nas formas tradicionais de transmissão da fé.
3. Queremos, de saída, afirmar nossa convicção: a fé depende inteiramente da relação que estabelecemos com a pessoa de Jesus. A NE consiste em repropor ao coração e à mente, muitas vezes distraídos, a beleza e a novidade perene do encontro com Cristo. Convidamos todos a contemplar o rosto do Senhor Jesus, entrar no mistério de sua existência, doada por nós até à cruz e confirmada com o sua Ressurreição. Em sua Pessoa se revela todo o amor do Pai por nós. A Igreja é o espaço que Ele nos oferece para encontrá-Lo, já que lhe confiou sua Palavra, o Batismo, seu Corpo e Sangue, a graça do perdão, a experiência de uma comunhão que é reflexo do mistério da SS. Trindade e a força do Espírito que gera o amor para com todos. Compete a nós hoje possibilitar experiências de Igreja, multiplicar os poços para convidar homens e mulheres a saciar sua sede no encontro com Jesus. As comunidades cristãs são responsáveis por isso e, nelas, todo discípulo do Senhor: a cada um é confiado um testemunho insubstituível, para que o Evangelho possa chegar a todos. Essa é nossa tarefa na NE: ser para os outros a beirada de um poço acolhedor, no qual aas pessoas possam encontrar Jesus.
4. Não se trata de inventar estratégias, como se o Evangelho fosse um produto a ser vendido no mercado das religiões. Devemos, sim, descobrir os modos pelos quais, na aventura de Jesus, as pessoas se aproximaram dEle e por Ele foram chamadas. Como poderemos fazer o mesmo? Sem dúvida a mídia é uma estrada na qual se entrecruzam tantas vidas, questionamentos, dúvidas e busca de respostas. Lembremo-nos: André, Pedro, Tiago e João foram questionados por Jesus no trabalho do dia a dia; Zaqueu passou da simples curiosidade ao entusiasmo de partilhar a mesa com Jesus; o Centurião pediu um milagre por ocasião da doença de uma pessoa querida; o cego de nascença o invocou como libertador de sua marginalidade; Marta e Maria o receberam em casa e no coração... Percorrendo as páginas do Evangelho encontraremos diferentes modos pelos quais a vida das pessoas se abriram para a presença de Jesus. Encontramos a mesma coisa nas experiências missionárias dos apóstolos nos inícios da Igreja. A leitura frequente da Bíblia à luz da Tradição ajuda a descobrir espaços de encontro com Ele, modalidades verdadeiramente evangélicas, enraizadas nas profundas necessidades humanas: a família, o trabalho, a amizade, a pobreza, as provações da vida, etc.
5. Ai de nós pensar que a NE não nos toca pessoalmente... a Igreja, antes de evangelizar o mundo, deve evangelizar-se a si mesma. Revigorar a fé é antes de tudo trabalho de vida interior de cada fiel e da vida interna da Igreja. O convite para evangelizar se traduz num apelo à conversão. Precisamos de conversão: reconhecemos, com humildade que a pobreza e fraquezas dos discípulos de Jesus, especialmente de seus ministros, pesam demais na credibilidade da missão. Sabemos que não estamos à altura da missão de levar o anúncio de Jesus a todos os povos; somos vulneráveis, cheios de feridas... Mas estamos convictos de que a força do Espírito do Senhor pode renovar sua Igreja e tornar resplandecente suas vestes, se deixarmo-nos plasmar por ele. O propósito da conversão nos envolve profundamente. Se tal propósito dependesse de nossas forças, pouco alcançaríamos. Mas a conversão, assim como a Evangelização, não depende de nós, mas do mesmo Espírito do Senhor. Aqui está nossa força e a certeza de que o mal não terá a última palavra, nem na Igreja, nem na história. Confiamos na inspiração e força do Espírito, que nos ensinará o que deveremos dizer e fazer, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. É nosso dever, pois, vencer o medo com a fé, o aviltamento com a esperança e a indiferença com o amor.
6. Essa coragem serena ilumina também nosso olhar sobre o mundo contemporâneo. Não temos medo dos tempos que vivemos. Nosso mundo está cheio de incongruências e desafios, porém permanece como criação de Deus, ferida pelo mal, mas também terreno no qual a boa semente pode germinar. Não há lugar para o pessimismo no coração daqueles cujo Senhor venceu a morte e nos quais o Espírito Santo opera com potência. Assim, com coragem e decisão olhamos para o mundo, sentindo o chamado de Jesus para aí sermos suas testemunhas. A globalização é uma oportunidade para dilatar mais a presença do Evangelho no mundo; as migrações são ocasião de difusão da fé e de comunhão entre culturas diferentes. A mesma secularização, reduzindo o espaço da Igreja na sociedade, pode ser uma prova dolorosa, mas também proporciona nova liberdade para propor o Evangelho, sem recuar nossa presença na Sociedade. As novas formas de pobreza aumentam os espaços para o serviço da caridade. No próprio ateísmo agressivo e inquieto agnosticismo podemos entrever, não um vazio, mas a saudade, uma expectativa de que alguém possa dar uma resposta adequada. Diante disso e dos questionamentos que as culturas dominantes colocam à fé cristã, renovamos nossa confiança de que o Evangelho também para eles possa ser luz e força do homem. A NE não é obra nossa: a iniciativa e ação primeira vem de Deus; somente inserindo-nos nessa iniciativa divina e invocando-a, poderemos - com Ele e nEle - ser evangelizadores. Essa verdade gera, naturalmente, em nós a responsabilidade; mas não podemos nos deixar abater.
7. Desde a primeira evangelização e no suceder das gerações, a transmissão da fé sempre foi nas famílias. Nelas, sobretudo pela ação das mulheres, os sinais da fé, a comunicação das primeiras verdades, a educação à oração, o testemunho dos frutos do amor foram introduzidos na existência das crianças. O Sínodo, constatando em todas as culturas e latitudes a importância da família, reafirma seu papel essencial na transmissão da fé. Não se pode pensar em NE sem a responsabilidade indispensável da família no anúncio do Evangelho e sua missão educativa. Não ignoramos que a família, constituída no matrimônio por homem e mulher, atravessa crises assustadoras. Justamente por isso devemos cuidar da família e sua missão na sociedade e na Igreja. Ao mesmo tempo, expressamos nossa gratidão a tantos esposos e famílias cristãs que dão testemunho de comunhão e serviço, sementes de uma sociedade mais fraterna e pacificada. Não ignoramos situações em que a família não reflete aquela imagem de unidade e amor por toda vida, como o Senhor nos ensinou. Há casais que convivem sem a bênção divina e humana, multiplicam-se casais de segunda união, cujas consequências os filhos padecem. Queremos lhes dizer que o amor de Deus não os abandona, que a Igreja é Casa acolhedora para todos e que a comunhão eclesial não lhes é negada, mesmo se não podem partilhar a Eucaristia e que não faltam meios para continuarem membros vivos e atuantes da Igreja. Jesus não se apresenta à samaritana como aquele que somente dá a vida, mas a vida eterna. O dom da fé não é somente para esse mundo, porém uma promessa de que o sentido último de nossa vida vai para além desse mundo, na comunhão plena com Deus que esperamos após a morte. Desta vida futura são testemunhas particulares os chamados à vida consagrada, pois vivendo na pobreza, castidade e obediência, apontam para um mundo futuro que relativiza os bens daqui da terra. O Sínodo reconhece e agradece-lhes a grande contribuição que dão à missão da Igreja e convida-os para que sejam testemunhas e promotores da NE nos vários ambientes de vida nos quais vivem o próprio carisma.
Roma, 20 de Outubro de 2012, quinta feira
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.
Notícias do Sínodo dos Bispos 12 - Pe. Lima
JOVEM CATEQUISTA RECEBE O MAIOR APLAUSO NA SALA SINODAL

As coisas começam a mudar... e para melhor. Hoje ouvimos sínteses e propostas muito interessantes durante a sessão da manhã: os 12 relatores dos Circuli Minores (grupos) expuseram, em 10 minutos cada um, o resultado dos trabalhos até hoje realizados... É um conteúdo abundante e muito precioso, que, infelizmente será reduzido nas etapas seguintes e muita coisa se perderá pelo caminho, dada a metodologia usada.
Aqui, nessa pequena crônica, também não há espaço para tudo... Apresento apenas algumas ideias. Com relação ao contexto cultural de hoje é indispensável novas categorias do saber teológico que sejam capazes de expressar, com maior coerência, os conteúdos da fé cristã; é preciso, por exemplo, oferecer uma visão nova da antropologia à luz do mistério da Trindade: as relações interpessoais como base da concepção de pessoa, opondo-se à concepção secularista e individualista. Isso é trabalho para os teólogos...
Como disse Paulo VI, não podemos chegar a uma definição rígida de evangelização, com o perigo de trair sua riqueza. Sem esquecer outros aspectos, o destinatário da NE é o fiel que deve reencontrar ou reforçar as razões da própria fé, transformando-se ele mesmo em evangelizador; ou aquele que, por motivos diversos afastou-se da fé e da comunidade; ou ainda todos os que possuem o desejo de crer e buscam pessoas capazes de comunicar a alegria do encontro com Cristo. Isso comporta o reconhecimento do primado da graça divina.
A urgência da NE impõe um sério exame de consciência da Igreja para que renove suas práticas pastorais que já não são eficazes na evangelização, ou seja: uma conversão pastoral. Para isso é necessário coragem e audácia. Tal conversão pastoral faz sublinhar o chamado à santidade, vocação de todo batizado e fonte de zelo para levar todos à conversão a Jesus Cristo. A santidade é meta de todo esforço evangelizador.
O Sínodo de 2012, em continuidade com o de 2008, insiste na importância primária e fundamental da Bíblia na missão evangelizadora da Igreja; em geral ela é pouco conhecida pelos católicos. Sem o conhecimento da Palavra de Deus a fé fica sempre fragilizada e sem condições de estabelecer um diálogo inter-religioso. O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez, como grande projeto teológico-espiritual, é um grande instrumento de fortalecimento e aprofundamento das razões de nossa esperança, de tal modo que nossa fé seja plena adesão de coração e de mente à Revelação divina. Não se pode ignorar que são muitos os batizados que não aprofundam sua fé e acabam se transferindo para grupos evangélicos.
A Liturgia é reconhecida como espaço de NE. Isso significa uma atenção especial para a formação do clero: a "arte de celebrar", o cuidado com as homilias, a revalorização e a disponibilidade dos sacerdotes para o Sacramento da Reconciliação, chamada de "irmã do batismo". A Liturgia e a catequese devem estar plenamente unidas na iniciação, compreensão e expressão da fé cristã.
A NE exige renovação de toda vida cristã que se exprime não só através dos atos de culto (liturgia, oração), mas sobretudo na caridade fraterna, no serviço aos irmãos, de modo especial em sua dimensão social. É preciso retomar, revalorizar, tornar mais conhecida e colocar em prática a Doutrina Social da Igreja.
Acentuou-se a importância da educação das novas gerações. Não haverá NE sem uma juventude entusiasmada por Jesus Cristo. A eles se deve propor o encontro com Jesus e toda a verdade revelada por seu Evangelho, que leva a um amor libertador e salvífico, e por isso mesmo, exigente.
Para a transmissão da fé, é de fundamental importância a dinâmica da iniciação cristã considerada no seu conjunto, com todos os tempos e etapas para que as pessoas (adultos, jovens, adolescentes e crianças) gradualmente, através de itinerários bem articulados e acompanhados, sejam introduzidos e consolidados na fé eclesial. Nesse sentido, é preciso cuidar muito da Pastoral do Batismo, onde tudo começa, e articular melhor a ordem dos outros dois sacramentos da iniciação: a Crisma e a Eucaristia. Indispensável para o êxito da iniciação à vida cristã é o envolvimento de toda comunidade e, sobretudo, a formação de bons catequistas e outros ministérios para que coloquem em prática esse processo iniciático tão profundo e tão promissor.
Nunca se valoriza suficientemente o papel da catequese e dos catequistas na ingente missão de transmitir a fé. A catequese possui seus mais completos princípios e orientações no Diretório Geral para a Catequese que deve continuamente ser estudado e revistado. Muitos no Sínodo pedem que a catequese seja reconhecida como "ministério instituído", mantendo a vocação tipicamente laical do catequista. Pede-se também que às mulheres seja conferido o ministério do leitorado, atualmente proibido pelo direito canônico (cân. 230).
Quase todos os pronunciamentos ou documentos do Sínodo relevam não somente a importância da paróquia, mas também das pequenas comunidades eclesiais onde é possível viver mais intensamente as relações pessoais, aprofundar a fé e dar testemunho do Evangelho. Importante também são os novos movimentos com seus diversos carismas e a maioria deles com propostas renovadas e eficazes de ação evangelizadora; alguns são verdadeiros protagonistas da NE. O Sínodo encoraja essas formas associadas de vida cristã a agirem conforme o próprio carisma, em plena comunhão com as dioceses.
Responsáveis primeiros da NE são os bispos com seus presbíteros e diáconos. Grande parte do sucesso da NE passa pela renovação do ardor missionário e zelo pastoral desses ministros ordenados. Mas também os leigos possuem tarefa importante na missão de evangelizar: devem testemunhar a própria fé nas complexas relações com as realidades do mundo em que vivem. O seu testemunho será tanto mais eficaz e crível, quanto mais derem prova de fé viva, caridade operosa e esperança invencível. De um modo todo especial, a família no seu conjunto é responsável decisiva na transmissão da fé aos próprios filhos; dado nosso estilo de vida moderno, às vezes os avós têm mais possibilidade e tempo de passarem com os próprios netos e serem os grandes transmissores da fé. Daí também o cuidado que toda a Igreja deve dispensar para a pastoral familiar: assistência, apoio, formação humana e cristã.
A vida consagrada, tanto masculina como feminina, sempre deu grande contributo à expansão da fé e à consolidação da vida cristã em diversos povos ao longo de toda a história, através dos carismas que receberam do Espírito Santo, para o bem de toda a Igreja. Hoje também as religiosas e religiosos e toda nova forma de vida consagrada são chamados a serem fiéis à própria vocação, testemunhando a alegria de uma vida totalmente entregue a Deus, vivida na oração, na comunhão fraterna e no exercício da caridade e, ao mesmo tempo tendo grande disponibilidade para levar o Evangelho para os povos não cristãos. Quanto mais evangélica, mais a vida religiosa será evangelizadora.
Até aqui é uma síntese muito por alto das conclusões de alguns dos 12 grupos. Como faltou tempo nos dias anteriores, então foi dada a palavra a alguns, principalmente os ouvintes. Dentre eles, destacou-se o mais jovem da sala sinodal, Tommaso Spinelli, catequista de jovens na cidade de Roma, 23 anos. Falando com veemência, pede que a catequese tenha "substância", que os padres sejam guias fortes, audazes, sólidos em sua vocação e identidade. "Infelizmente há padres que perderam a identidade, a cultura e o carisma... não gostamos de padres que querem se trasvestir de jovens ou, pior ainda, adotar as incertezas e o estilo de vida de jovens... a mesma coisa quando na liturgia, tentando ser originais, caem no ridículo... Eu lhes peço que tenham a coragem de ser vocês mesmos... Não tenham medo de nos propor as verdades da fé... temos fome infinita de algo de eterno e de verdadeiro". E termina pedindo três coisas: 1. Aumentar a formação dos padres, não só espiritual, mas também cultural... nunca terá credibilidade junto aos jovens o padre que não souber dar razões daquilo que diz; 2) Redescobrir o Catecismo da Igreja Católica, principalmente em suas primeiras secções, que são as mais lindas; 3) Cuidar mais da Liturgia: nós jovens não queremos celebrações simplificadas, aguadas, dessacralizadas, mas bem realizadas, dignas, que traduzam nossa identidade cristã!
Palavras um tanto duras, ditas com ímpeto juvenil... mas que dão seu recado. Tommaso falou 4 minutos e foi aplaudido durante quase um minuto pela sisuda assembleia!
Roma, 19 de Outubro de 2012, quinta feira
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

Notícias do Sínodo dos Bispos 11 - Pe. Lima
PRIMEIRO DEBATE NOS PEQUENOS GRUPOS

O tempo aqui em Roma está mudando, esfriando... inverno à vista! Mas a temperatura na Assembleia Sinodal está em alta. O dia de hoje foi todo dedicado ao estudo e respostas às questões levantadas pela Relação após as discussões apresentada ontem pelo Card. Ronald William Wuerl, Relator Geral.
Numa entrevista ele afirmou que "o ministério da Igreja se encontra hoje em uma fase de revisão de sua maneira de levar a Palavra de Deus em um contexto novo, globalizado, cheio de desafios e onde há uma grande ignorância da fé, especialmente nos países de antiga tradição cristã".
Vou agora retornar ao dia de ontem, à noitinha, quando terminei a crônica anterior. Terminada a Relação do Card. Wuerl, houve um debate livre, de uma hora e 15 minutos, como primeira reação da Assembleia diante da grande síntese feita por ele. Inscreveram-se 15 oradores. Todos foram concordes em elogiar o trabalho bem feito: conseguiu recolher os temas principais debatidos até agora, dentro naturalmente dos limites desse tipo de apresentação. Foi relevada também a boa participação dos peritos ou assessores, que permitiu chegar a essas conclusões; foi realmente um trabalho hercúleo, insano. Elogiou-se a fidelidade àquilo que foi discutido e falou-se do latim do texto, por demais clássico. Alguns comentários feitos:
1) Não se pode restringir a Nova Evangelização (NE) só como uma ação juntos aos afastados da Igreja. Ela é muito mais ampla e deve responder às novas questões dos cristãos hoje e da humanidade, na sua amplitude.
2) Faltou maior análise da Vida Religiosa em geral, e da vida contemplativa em particular (essa última nem é nomeada no Instrumento de Trabalho).
3) Não há NE sem liturgia. É necessário novamente desencadear um grande movimento litúrgico, resgatar o sentido do Domingo, revalorizar o Sacramento da Penitência, como sacramento típico da NE (acentuar mais o encontro com a graça do perdão do que a confissão formal dos pecados...)e dar maior impulso ao processo da Iniciação Cristã não só na catequese dos sacramentos da iniciação, mas também para aqueles que necessitam ser reiniciados na fé.
4) Os sujeitos da NE não podem ficar em último lugar no texto; é preciso trazê-los para o princípio do documento. Trata-se do sujeito individual (eu) e comunitário (nós), abrangendo desde a paróquia até à Igreja Universal. Não se deve falar só dos atores da NE, mas da beleza da comunidade que anuncia o evangelho. Entre tais atores deu-se destaque ao laicato.
5) Ao retratar a sociedade de hoje que deve ser evangelizada, não se pode acentuar só o negativo. Deus continua a amar o mundo tal como ele é e estamos vivendo, no século XXI, a História da Salvação. Devemos olhar com simpatia o mundo de hoje, ao qual também nós pertencemos.
6) É preciso acentuar mais o sentido da transcendência para a qual aponta a NE. Por outro lado, precisamos estar atentos à dimensão antropológica: ajudar a criar condições humanas para que as pessoas possam aceitar o Evangelho. O pecado e a morte, tão alijados ou ignorados no nosso mundo, são a base para que tenhamos consciência da salvação que a Boa Nova de Jesus nos traz.
7) Está na hora de a Igreja reconhecer o catequista como um verdadeiro ministro da Palavra, com a instituição do ministério da catequese, sem com isso clericalizar o catequista, que continua como uma vocação e um serviço tipicamente leigo na Igreja.
8) Não podemos ignorar a presença e a força do islamismo no mundo atual e muito menos vê-lo somente como ameaça e perigo. Precisamos não só conviver, mas buscar as possibilidades de evangelizar o povo mulçumano e apreciar sua riqueza cultural e espiritual. É necessário voltar à visão positiva do documento Nostra Aetate do Vaticano II sobre o diálogo religioso.
9) Na linha do ecumenismo, é preciso criar uma certa aliança com a Igreja Ortodoxa para, juntos enfrentarmos o secularismo, o relativismo e indiferentismo do mundo atual.
10) Acima de tudo, o documento deveria apontar mais para a conversão da Igreja ao Evangelho, a começar pela jerarquia, estendendo-a a todo o Povo de Deus.
Quanto ao dia de hoje, quinta feira, tanto a manhã quanto a tarde, foram dedicadas à reunião em pequenos grupos, chamados circuli minores. Não são tão pequenos assim, pois no meu grupo somos mais de 40... O critério de divisão desses grupos é a língua que os participantes melhor dominam. Assim há 4 grupos de língua inglesa, 3 de língua italiana, 2 grupos de língua francesa, 2 de língua castelhana e 1 de língua alemã. Ao todo são 12 grupos. Eles devem discutir a Relatório apresentado e discutido ontem em plenário e responder às 14 extensas questões aí levantadas, procurando já redigir algumas proposições que serão depois discutidas em Assembleia e reduzidas a 50, como expliquei ontem.
Algumas afirmações feitas em meu grupo (há outros 11 grupos...):
1) É preciso esclarecer melhor o que seja NE. Concordou-se, após várias intervenções, que é melhor apresentar as características da NE do que buscar uma definição completa.
2) O texto de nossas proposições precisam ser mais de caráter propositivo, alegre e entusiasmante. Ele mesmo deveria espelhar o espírito da NE.
3) Há uma grande insistência no caráter sobrenatural da NE:é de iniciativa divina, depende da graça de Deus e precisa começar no coração de cada um, a começar dos pastores. Tudo isso é verdade, mas não podemos esquecer que Deus quer precisar de nós. Essa dimensão antropológica e a lei da encarnação devem ser levadas em consideração. A Igreja é a extensão do Corpo de Cristo, o Sacramento universal da salvação (Lumen Gentium) para a salvação do mundo (Gaudium et Spes), que renova a obra da Redenção no hoje da história através dos sacramentos (Sacrosanctum Concílium) e anuncia a Palavra de Deus (Dei Verbum). Esse é o núcleo central do Vaticano II.
4) O novo da NE está na conversão do coração dos evangelizadores e não tanto nos projetos, metodologias ou planos mirabolantes. Ela deve se basear, em primeiro lugar, no nosso testemunho de vida, a começar dos evangelizadores.
5) O importante do título do Sínodo não é a NE, mas sua finalidade: a transmissão da fé. Portanto NE é anunciar, falar de Jesus e seu Evangelho, é catequese, evangelização. Ao lado desse dado, há o problema das mudanças culturais que estão acontecendo há muito tempo e, como Igreja, somos incapazes de reinventar a linguagem de comunicar a mensagem e os métodos de pastoral.
6) Pode-se comparar a NE a um rio: é sempre o mesmo, mas sempre novo. A fé e os sacramentos são sempre os mesmos; o que muda são os cenários de hoje, o modo de apresentar, a linguagem e suas expressões.
7) A NE deve ter duas grandes frentes: a) a pastoral normal do Povo de Deus para defender, alimentar e fazer crescer a fé; b) uma dimensão missionária de primeiro anúncio e de evangelização para aqueles que não conhecem Jesus Cristo ou estão afastados da Igreja.
Outro tipo de discussão girou em torno da metodologia a ser seguida, da natureza e estilo dessas proposições que devemos redigir e das pessoas que devem fazê-lo. Ficou claro que somente os bispos podem fazer proposições. Os peritos ou assessores (como no meu caso) e os ouvintes, apenas podem tomar parte nas discussões e sugerir tópicos para a redação.
A parte da tarde foi dedicada à tentativa de iniciar a discussão e redação das proposições a partir de propostas feitas pelos membros do grupo. Assim, por exemplo (só para me referir aos brasileiros presentes nesse grupo), Dom Geraldo Lyrio ficou encarregado de redigir uma proposição sobre a Liturgia (sempre em vista da Nova Evangelização) e Dom Odilo Scherer uma outra a respeito das mudanças de estruturas ou conversão pastoral. Eu pessoalmente colaborei na redação sobre a Iniciação Cristã e sobre o ministério do catequista e sua institucionalização.
Assim sendo, foram discutidas proposições sobre os seguintes temas, com uma primeira redação: os cenários de hoje (secularismo, relativismo...), dioceses, paróquias, pequenas comunidades, liturgia, iniciação cristã, educação, pastoral universitária, comunicação, homilia, promoção humana, novos pobres (migrantes), novos evangelizadores (principalmente a formação presbiteral), vida contemplativa, pastoral familiar.
Todos os encarregados de redigir proposições sobre esses temas devem aprontá-las até amanhã cedo e entregá-las ao relator de nosso grupo (um bispo espanhol) e ele, por sua vez, fará, juntamente com os outros 11 relatores, uma apresentação em plenário, para que elas sejam discutidas e retornem aos grupos para modificações.
As audiências do Papa às quartas feiras, como a de ontem, estão sendo feitas na Praça São Pedro e não na grande Sala Paulo VI, pois atrapalharia o trabalho do Sínodo. Foi-nos comunicado que o Papa deu início, com a audiência de ontem, a um ciclo de catequeses dedicadas à virtude da fé. Será mais um bom subsídio para a celebração do ano da fé, uma vez que Bento XVI, nessas catequeses das quarta-feiras, fala com simplicidade e linguagem fácil, sem deixar de ser profundo e completo.
Roma, 18 de Outubro de 2012, quinta feira.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

Notícias do Sínodo dos Bispos 10 - Pe. Lima
O IMPORTANTE RELATÓRIO APÓS AS DISCUSSÕES


Completo a crônica de ontem com 3 dados. Foi lida na abertura de uma sessão da manhã a mensagem de Dom Lucas Li, bispo chinês, já bastante idoso, que ficou 20 anos na prisão pelo regime comunista, por causa de sua fidelidade à Igreja e ao Papa. A mensagem que transpirava grande fé e amor à Igreja estava escrita em simples, mas perfeito latim.
Aqui recebemos muitos livros, folhetos, coleções, convites para diversos eventos... Será um problema colocar tudo isso na mala, ao voltar, além da grande quantidade de papel com os textos oficiais que recebemos. Um livro que alegrou muito os latino-americanos ontem, foi o Documento de Aparecida traduzido em italiano. Assim, muita gente que não tem acesso ao castelhano ou português, poderá entrar em contato com nossa Igreja continental, sempre muito apreciada pela sua vivacidade, articulação e projetos pastorais.
Escrevendo ontem, pela segunda vez, a respeito da polêmica ao redor de um filme sobre o avanço do Islamismo, me auto-censurei diante da chamada de atenção de alguns sobre o "vazamento de informações do Sínodo". Mas hoje, lendo o noticiário Zenit (da Opus Dei) encontrei lá a maioria das informações que estavam no trecho censurado... e os jornais italianos hoje estão falando abertamente... Então resolvi transcrever agora o que havia escrito ontem: "Ainda na sessão de ontem, no momento do debate livre, o Card. Arcebispo de Paris, D. André Vingt-Trois protestou contra a projeção do filme sobre o islamismo, chamando-o de inoportuno, alheio ao debate sinodal e com dados falsos, pelo menos com relação à França (seu país), e sem citar fontes fidedignas. Argumentou que a evolução das civilizações possuem fatores muito mais complexos do que as apresentadas no vídeo, qualificando-o de maniqueísta e extremista. O Secretário Geral, D. Nikola Eterovic, logo acrescentou que a projeção não era oficial e que cada um responde pelo que diz ou propõe. Mas a seguir, o cardeal D. Joachim Meisner, arcebispo de Colônia, disse que o vídeo não está tão errado assim, uma vez que tal ameaça é real e os dados referentes à Alemanha procedem. Defendeu a família cristã e sua teologia, pois não pode haver família em base à ideologia. Por sua vez, o Card. Kodwo Appiah Turkson, que preside o Pontifício Conselho para a Justiça e Paz explicou que a iniciativa da projeção do vídeo foi dele e a intenção era falar do problema da diminuição das famílias, sem nenhuma intenção de provocar polêmicas. Hoje comentou-se que em algum jornal italiano os dados do filmes foram considerados inexatos e de conteúdo alarmista".
Falando do dia de hoje, ouvimos entre manhã e tarde, mais 52 discursos. O Card. Marc Ouellet, da Congregação para os bispos, fez um duro pronunciamento criticando setores da Vida Consagrada que não acatam o Magistério Eclesial, tomando posições contrárias ao ensinamento da Igreja. Visava, certamente, algumas religiosas dos EUA e de outras regiões, com posturas feministas, ou religiosos que vão na mesma linha. Ele apelou para o documento Mutuae Relationes, que trata justamente das relações entre os religiosos e a Jerarquia da Igreja. Nesse documento, de João Paulo II, muito trabalhou o então Reitor Mor dos Salesianos, Pe. Egídio Viganó.
Uma vibrante intervenção foi feita por Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana (MG) sobre a dimensão evangelizadora da Liturgia. Falou da "arte de celebrar", da importância da homilia, dos ritos que comunicam o mistério e sobre o papel mistagógico da Liturgia, ou seja, os ritos, bem celebrados, por si só são uma catequese através dos sinais que favorecem à educação da fé.
Hoje, finalmente, a palavra foi dada a algumas mulheres que participam na condição de auditrices (ouvintes), como a Soror Mary Lou Wirtz, presidente da união das superioras gerais, Sra. Maria Voce, superiora geral dos focolarinos, sucessora de Chiara Lubich, a Ir. Maria Antonieta Bruscato, Provincial das Irmãs Paulinas (brasileira) e Lydia Jiménez González, fundadora das Cruzadas de Santa Maria. Também foi dado a palavras a alguns leigos, o mais conhecido é Francisco José Gomes (Kiko) Argüellos Wirtz, fundador do Neocatecumenato, e outros, como o sr. Miguel Roy, presidente da Charitas Internacional, e Zoltán Kumzabó, diácono permanente da Arquidiocese de Budapeste.
Entretanto, o acontecimento mais importante do dia, foi no início da tarde. O Papa esteve presente, prestigiando o grande momento. O Relator Geral, Card. Ronald William Wuerl, arcebispo de Whasington, leu a chamada Relatio post disceptationem, ou seja: Relação após as discussões. Na verdade, as últimas discussões (ou discursos...), tinham sido no final da manhã, e logo às 16h30 todos nós, os 400 participantes, recebemos um belo livro com o texto do discurso impresso, muito bem diagramado e... em latim! Essa peça, de grande importância na dinâmica do Sínodo, foi escrita com a colaboração de nós peritos ou especialistas. Cada perito escreveu na sua própria língua e a redação final foi feita em inglês, pois o Relator Geral é americano, auxiliado também pelo Secretário Especial, D. Pierre Marie Carré, Arcebispo de Montpellier (França).
Entretanto o texto estava num latim, da melhor cepa clássica e consequentemente, bastante difícil. Confesso que tive dificuldades de entender certas palavras e construções rebuscadas... se tivesse sido redigido num latim eclesiástico, como aliás foi sugerido em Assembleia, teria sido muito mais fácil... Mas, junto com o texto latino, veio impresso também, na mesma brochura, a versão em inglês (que certamente é a versão original, vertida depois para o latim). Além disso, havia tradução simultânea em quatro línguas (italiano, espanhol, francês e alemão). A manutenção de tal formalidade literária não ajudou em nada... e foi criticada por muitos.
O grande texto tem como título o mesmo tema do Sínodo: Nova Evangelizatio ad Christianam Fidem Tradendam. Ele procura fazer uma grande síntese de tudo o que foi falado ao longo dos quase 300 discursos desses dias ou enviado por escrito para a Secretaria Geral. O texto foi lido pausadamente com sotaque americano, durante uma hora. Está articulado em quatro partes, com uma introdução ("Sereis minhas testemunhas") e uma conclusão de três parágrafos. As quatro partes são: 1. A natureza da Nova Evangelização; 2. O contexto atual do Ministério da Igreja; 3. As respostas pastorais às atuais circunstâncias e 4. Agentes e participantes da Nova Evangelização.
Cada parte é constituída de uma exposição inicial seguidas de algumas perguntas bastante longas. A parte que possui mais perguntas é a terceira (que é o núcleo do documento), com 6 extensas questões.
Uma hora após o término da leitura do texto, ele já se encontrava na Internet, no site já conhecido: http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog onde poderá ser lido em castelhano.
Amanhã irei expor o conteúdo desse documento e algumas reações que, logo a seguir, foram manifestadas por 15 oradores. Por agora basta dizer que, em base a esse documento e às questões por ele levantadas, os 12 Circuli Minores (grupos menores... o meu tem mais de 40 participantes) farão o trabalho final de redigir as 50 proposições, que naturalmente passarão ainda por discussões e aprovação em Assembleia Geral, e entregues ao Papa que, com os Lineamenta, o Instrumento de Trabalho e estas 50 proposição, irá elaborar e publicar uma Exortação Apostólica referente ao tema.

Roma, 16 de Outubro de 2012
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

 

Notícias do Sínodo dos Bispos 06 - Pe. Lima

HOJE FALOU O SUPERIOR GERAL DOS SALESIANOS

            Hoje, solenidade de Na. Sa. Aparecida, o dia prometia ser também diferente, e o foi. Para os espanhóis é dia de Na. Sa. do Pilar e para todos os de fala castelhana, é dia da hispanidad em vista da descoberta da América, por parte de Cristóvão Colombo, nesse dia. A três datas foram lembradas em público. No Colégio Pio Brasileiro houve a tradicional Missa e Festa de Na. Sa. Aparecida, onde, em geral, comparecem todos brasileiros ligados à Igreja que estudam ou residem em Roma, como também outros. Mas nós, participantes do Sínodo, não pudemos ir por causa dos trabalhos sinodais.

            Das 09h30 às 12h00 houve mais uma longa sessão de discursos, ao todo 25. Falaram personagens bastante conhecidas como o prelado da Opus Dei (J. Echeverria), Dom G. Ravasi, do Pontifício Conselho para a Cultura). Foi um dia também salesiano, pois falaram dois bispos nossos irmãos de Congregação e o Reitor Mor.

            Uma pensamento que já foi bastante acentuado e que retornou hoje foi: a Nova Evangelização deve começar pela conversão dos Bispos, dos Sacerdotes, dos Religiosos... e nessa linha se coloca a revalorização do Sacramento da Penitência e a renovação da vida espiritual.

            Bispos do Leste Europeu (ex países comunistas), mas também de outras partes, insistiram que o guardião da fé em muitos lugares é a família, principalmente em época de perseguição ou de "desertificação espiritual", como afirmou ontem Bento XV. Alguns apresentaram experiências em que toda paróquia gira em torno da Pastoral Familiar e a evangelização, ou início de evangelização, se faz pela Pastoral da Visitação, às vezes de porta em porta. Bispos da África, como também da América Latina, sublinharam e defenderam muito as pequenas comunidades, com meio de sustentar a fé do nosso povo.

            Sobre elementos que caracterizam o sacerdócio ministerial estão: seu lugar específico na Igreja, sua origem sobrenatural e sacramental e sua ligação essencial com a Eucaristia; o celibato, por sua vez, está ligado à identidade cristológica e possui um grande valor de testemunho.

            Outro tema que nos dias passados, como hoje também aflorou com ênfase, foi o diálogo intercultural e interreligioso. Isso interessa muito às jovens igrejas da Ásia e África, que vivem num ambiente hostil, por vezes de martírio, e encontram no diálogo interreligioso, como minoria, um meio de ter espaço na sociedade e poder afirmar a própria fé. Já fiz referência às grandes dificuldades de minorias cristãs diante do fundamentalismo e fanatismo religioso islâmico. Alguns chegaram a dizer que nem aqui, num ambiente extremamente seguro e fraterno, longe daqueles territórios de perseguição, eles têm coragem de falar a verdade como ela é; temem a represália.

            Mas também o diálogo ecumênico não é fácil. Em parte nós sentimos isso com igrejas cristãs que professam a mesma fé aqui no ocidente. Mas, no oriente o confronte com a igreja ortodoxa é também, em muitos casos, extremamente difícil. Um bispo da Romênia me dizia, por exemplo, que já há ortodoxos que negam poder rezar juntos o mesmo Pai Nosso...

            O Bispo Salesiano, Dom Enrique Covolo, que esteve no Centro Unisal Pio XI (São Paulo) no mês de julho, desenvolveu o tema da evangelização nas Escolas e Universidades. Além da secularização do ensino básico, médio e superior, a tendência dos estados modernos é de domesticar também as universidades católicas, submetendo-as ao rigor e controle das leis acadêmicas, privando tais institutos da liberdade que sempre tiveram; e denunciou o perigo que temos de, em vista de obter um título civil, renunciarmos a currículos específicos de nossa formação católica ou mesmo à influência do evangelho na cultura acadêmica.

            O problema da linguagem na evangelização voltou com a intervenção de dom Gianfranco Ravasi. A nova evangelização precisa adotar os novos cânones da comunicação telemática e digital, e aprender dela a essencialidade, a brevidade e o recurso à imagem. Elogiou a iniciativa do "Pátio dos Gentios" promovido por Bento XVI. Fez referência ao mundo da arte, da cultura juvenil, das ciências e da técnica. "Não devemos ter medo de penetrar o mundo da ciência e da técnica, com o olhar sempre em Jesus que contemplava o mundo vegetal e animal e recorria até às previsões meteorológicas (cf Mt 16, 2-3) para anunciar o Reino de Deus".

            O Pe. Pascual Chávez, Superior Geral dos Salesianos, cuja fala já havia sido anunciada ontem, intitulou-a assim: "Vinde e vede: a urgência de encaminhar e favorecer uma cultura vocacional na Igreja". Chamou a atenção para a centralidade das vocações no projeto da Nova Evangelização, pois são dois elementos inseparáveis. Mais do que "vocação", devemos cultivar uma cultura vocacional, isto é, "um modo de afrontar e conceber a vida como dom recebido gratuitamente de Deus para um projeto ou uma missão conforme o seu desígnio". Nesse contexto é que se deve propor aos jovens os diversos caminhos vocacionais: matrimônio, vida religiosa ou consagrada, serviço sacerdotal, empenho social e eclesial, e acompanhá-los no trabalho de discernimento e de escolha.

            Pe. Pascual sugeriu que o Sínodo ajude todos os pastores a serem verdadeiros guias espirituais para os jovens. Propôs, ao final, quatro linhas de ação: 1. Favorecer um ambiente ou cultura em que a vocação do jovem possa germinar e desenvolver-se; 2. Acompanhamento espiritual; 3. Intenso amor pela Igreja e 4. Educar para a oração pessoal.

            Nessa grande "chuva de idéias" durante essa primeira, muitos outros temas foram abordados e aprofundados. Há uma sensação de que o Sínodo está um pouco disperso e genérico em sua impostação. Mas o pessoal que tem experiência de outros Sínodos (há gente aqui que já participou de 6....), diz que isso é normal na primeira semana. As coisas começarão a afunilarem a partir da 2a. metade, ou seja, na metade da próxima semana!

            A grande novidade do dia foi o almoço oferecido para todos (umas 400 pessoas!) pelo Papa Bento XVI. Na primeira parte da grande Sala Paulo VI (aquela das audiências gerais das 4as. feiras, que comporta milhares de fiéis) as cadeiras foram tiradas e montadas umas 50 mesas, além da grande mesa central para o Papa e os convidados mais especiais.

            Nós brasileiros (os cinco bispos e mais três participantes) fizemos uma mesa onde, além da refeição caprichada que nos foi servida, partilhamos muito nossos pontos de vista sobre o Sínodo, assim como a vida da Igreja no Brasil. Na mesa do Papa, além de cardeais, estavam dois ilustres visitantes que já haviam falado para os padre sinodais: o patriarca ortodoxo de Constantinopla, sua Beatitude Bartolomeu I e o Arcebispo Anglicano de Cantuária, sua Graça R. D. Williams. Como curiosidade, foi um banquete de 6 talheres e 4 taças. Naturalmente o tom das conversas estavam bem mais alto no final, do que no início...

            O dia foi concluído com a palestra de 45 minutos de um prêmio Nobel de Medicina em 1978 (Microbiologia), Prof. Werner Arber, da University of Basel (Suíça) e Presidente da Pontifícia Academia de Ciências da Santa Sé. É o primeiro não católico a ocupar esse cargo (ele é protestante). Assim intitulou sua palestra em inglês: "Contemplation on the Relations between Science na Faith". Em linguagem mais técnica do que teológica, como é próprio do tema, ele apresentou as relações entre ciência e fé, acentuando a compatibilidade entre o conhecimento científico e o conteúdo essencial da fé. Seguiu-se um pequeno diálogo entre o ilustre palestrante e a Assembleia.

           

 

Roma, 12 de Outubro de 2012.

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

Notícias do Sínodo dos Bispos 05 - Pe. Lima

CONCÍLIO VATICANO II: 50 ANOS

            Há 50 anos inaugurava-se o Concílio Vaticano II. Todos participantes do Sínodo fomos para a soleníssima Missa presidida por Bento XVI em ação de graças por esse magno acontecimento. A ele se uniu também a celebração dos 20 anos do Catecismo da Igreja Católica e, sobretudo, a abertura do Ano da Fé. A grandeza, beleza e solenidade da liturgia este à altura desses acontecimentos.

            Mais uma vez essas grande cerimônias foram realizadas na Praça São Pedro, debaixo de um sol escaldante e na presença de uma multidão de fieis (maioria religiosos) que acompanhou piedosamente. Como na celebração de abertura, destacavam-se os bispos e padres dos ritos católicos orientais com suas vestes esplendentes, o coral da capela sistina (foi cantada a Missa de Angelis e muita polifonia). Além dos 250 bispos que participam do Sínodo, concelebravam também os presidentes das conferências episcopais dos vários países. Estiveram presentes, mas não concelebrando, pois não são católicos, Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, Ortodoxo, e Sua Graça Rowan D. Williams, Arcebispo de Cantuária, Anglicano, que ontem discursou na Aula Sinodal. Também estavam alguns dos 38 bispos ainda vivos, que participaram do Vaticano II, inclusive o Papa.

            Deu-se grande destaque ao livro da Palavra de Deus, que estava ao lado e na frente do altar, num riquíssimo ambão, que tinha sobre si o mesmo Evangeliário usado há 50 anos atrás. Bento XVI começou sua homilia dizendo: "hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do Concílio Vaticano II, damos início ao Ano da fé". E continuou: "O Concílio Vaticano II não quis colocar a fé como tema de um documento específico. No entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência e pelo desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem contemporâneo". Evocou em seguida a figura do Bem-Aventurado João XXIII, suas intuições ao convocar o Concílio e suas finalidades. Referiu-se ao "avanço de uma desertificação espiritual desses últimos decênios". Mas é precisamente a partir dessa experiência de deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer e sua importância para nós.

            Após a oração final, o Papa foi saudado pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, que se referiu aos esforços feitos em vista do ecumenismo a partir do Vaticano II aos nossos dias. Também houve leitura de trechos da Mensagem do Concílio ao Povo de Deus: governantes, pensadores e cientistas, artistas, mulheres, trabalhadores, pobres, doentes, todos que sofrem e jovens. Representantes dessas várias categorias subiam até o Papa e recebiam o texto integral da Mensagem, distribuída também a alguns da assembleia.

            À tarde deste dia, cinquentenário do Concílio, houve a 6a. Congregação Geral do Sínodo, começando pela eleição do grupo que irá redigir a Mensagem Final do Sínodo. A eleição foi por continentes. Em seguida, ouvimos mais 15 discursos, de 5 minutos cada, de oradores inscritos; seguiram-se debate livre e restrito a intervenções de 4 minutos. Várias experiências de nova evangelização foram apresentadas, assim como sugestões, como, por exemplo, evangelizar o Direito Civil (supõe-se que o Direito Canônico esteja evangelizado, brincou o orador), uma vez que a base do Direito hoje não é a pessoa humana, mas interpretações subjetivas e ideológicas, como é o caso do matrimônio gay.

            O dia terminou com uma fiacolata, isto é, uma procissão de velas acessas, na Praça de São Pedro, recordando aquela que há 50 anos foi feita no mesmo lugar, em vista do início do Vaticano II. Ao final, como há 50 anos, também Bento XVI apareceu na janela de seu apartamento, saudou a multidão que o aclamava aos gritos, com é próprio dessas ocasiões. Fez pequeno discurso evocando esses acontecimentos e a figura de João XXIII. Disse que estava nessa praça naquele dia. Falou que o Concílio foi um grande dom de Deus, um novo Pentecostes. Hoje, como há 50 anos, ele suscitou uma imensa alegria. Hoje, porém, tal alegria é mais modesta, mais humilde... porque o pecado original existe e arma ciladas continuamente à Igreja (falou dos escândalos, divisões, abandono da fé de muitos...), mas também o Concílio renovou a Igreja, particularmente na Liturgia, no esforço Ecumênico, no aggiornamento como dizia João XXIII. Terminou com a bênção e despedida.

            Foi um dia de grandes celebrações e carregado de emoções. Recordei-me também que, nesse dia, em 1962, eu era estudante de filosofia em Lorena, e nos reunimos uns 200 seminaristas no Santuário de Aparecida, num Encontro de Seminaristas do Vale (ESVA), para celebrar a abertura do Concílio. O clima era de extremo otimismo e de grande esperança no futuro. Passaram-se 50 anos e hoje, só posso agradecer a Deus, que me deu a graça de viver não só o Concílio Vaticano II durante a segunda fase de minha formação, mas sobretudo o Pós-Concílio que gerou grandes renovações, mas ao mesmo tempo crises impressionantes que, nem sempre bem resolvidas, deixaram rastros negativos.

            Tal esperança agora renasce e se fortifica, celebrando aqui em Roma esse cinquentenário e ao mesmo tempo participando do Sínodo sobre a Nova Evangelização. E como toda minha vida foi e ainda está sendo dedicada à catequese, ao lado dessas comemorações tão importantes, tenho a graça de celebrar também os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica, um dos grandes frutos do Vaticano II.

 

Roma, 11 de Outubro de 2012.

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.