
A
palavra central é “renovação”. Atualmente, muitos são os sinais que indicam desencantamento
pela técnica, pelo lucro e pelo lazer. Pilares da sociedade atual, que colocam
o homem e a mulher diante da escolha entre dois espíritos: o espírito mundano e
o espírito divino. A escolha determinará qual espiritualidade conduzirá a vida;
ou a espiritualidade mundana ou aquela evangélica. Ou se é discípulo do mundo
ou discípulo do Evangelho. São Paulo adverte que existe uma incompatibilidade clara
entre as duas espiritualidades; uma, aliás, elimina a outra (2ª leitura). Jesus traduz isso no ensinamento:
“não podeis servir a dois senhores,
porque ou amará a um e odiará ao outro” (Mt
6,24). A identidade e o perfil do discípulo de Jesus é formado em quem
se deixa guiar pelo Espírito de Deus (2ª
leitura), que habita o seu coração como “hóspede da alma” (Seqüência de
Pentecostes). A presença do Espírito Santo na vida humana a distancia do
pecado (da espiritualidade mundana) e a aproxima de Deus (da espiritualidade
evangélica). É a dinâmica espiritual que forma o discípulo e discípula de Jesus.
Não
é uma dinâmica espiritual simples. Paulo fala de “combate espiritual” (Ef 6,10-18). O ingresso no discipulado do
Evangelho não exime de um verdadeiro combate entre a espiritualidade mundana e
a espiritualidade evangélica. Não se entra neste combate unicamente com as
forças humanas, é preciso ter em si a força divina. Jesus sabia disso e indica
o meio para vencer: a presença do Espírito de Deus no coração para caminhar nos
caminhos do Evangelho. A presença do Espírito divino, que Jesus chama de “Consolador”,
realiza-se pela observância da Palavra (Evangelho).
Por observância entende-se o cultivo da Palavra do Evangelho no coração e na
mente da pessoa, condição para ser fazer discípulo e discípula e permanecer em
Deus. Jesus lembra também que o Evangelho ainda não é totalmente conhecido, de
onde a necessidade do Espírito Santo para torná-lo cada vez mais conhecido e
acolhido através do discipulado. A missão do Espírito Santo é ajudar o
discípulo e discípula a se apropriarem cada vez mais profundamente do Evangelho
(Evangelho), ajudando-os a serem homens e
mulheres espirituais, isto é, guiados pelo Espírito Santo.
Rezar
esta celebração é assumir atitude invocativa, para que o Espírito Santo venha e
continue renovando sua Igreja, neste novo tempo, com a guia de Papa Francisco, enriquecendo-a
com seus dons e carismas (oração do dia).
É interceder o dom da Sabedoria, que ajuda a compreender o Mistério celebrado (sobre as oferendas), e invocar o crescimento
espiritual de toda a Igreja, para que os dons e carismas se manifestem e
renovem a humanidade inteira (depois da
comunhão).
O
desejo de uma Igreja mais encarnada, que fale a linguagem do povo, que se
envolva com as lutas do povo é muito antigo. Já tem história. Houve tempos que
isso foi feito com verdadeiras batalhas, misturando interesses econômicos e políticos
entre Estado e Igreja. Num tempo mais recente, especialmente na América Latina,
a busca desse envolvimento aconteceu de modo ideológico, contribuindo para um
certo descrédito da Teologia da Libertação, o que é lamentável. Ainda hoje não
está bem claro se o motivo para protestar contra as injustiças sociais se
fundamenta na fé ou se a fé é usada como motivação emocional para se fazer
ouvir. Uma coisa é certa: os grandes movimentos religiosos, fundamentados na
espiritualidade do discipulado, jamais se serviram da força que destrói porque
foram e são conduzidos pela força construtiva do Espírito de Deus. A Beata
Dulce, o Anjo Bom da Bahia, é um exemplo bem próximo de nós, brasileiros. Até
mesmo as atividades pastorais precisam ser pensadas nesse contexto
transformador a partir da espiritualidade evangélica, que forma a
espiritualidade do discipulado. Organizar, por exemplo, uma Paróquia, com
critérios empresariais, pode colocá-la mais próxima da espiritualidade mundana
que daquela evangélica. Naquela pode funcionar bem e “dar lucro”... mas deixará
de realizar sua missão evangelizadora se não for capaz de ajudar as pessoas e a
comunidade a caminhar nos caminhos do Evangelho.
O
que distingue a força transformadora social, a partir da religião e da fé, é a
espiritualidade. Todos os grandes santos da Igreja, envolvidos em obras
sociais, são exemplos vivos da força transformadora a partir da
espiritualidade. Os profetas e o próprio Jesus foram capazes de provocar
mudanças no povo, graças a sua espiritualidade. Os Apóstolos levaram o
Evangelho até os confins do mundo e provocaram mudanças sociais em todas as
culturas mundiais, graças à força de sua espiritualidade... da espiritualidade
evangélica que os fez discípulos e discípulas. A espiritualidade evangélica não
é passiva, mas ativa e revolucionária, porque provém da força do Consolador
para não recuar, mas para enfrentar os desafios com a luz e a sabedoria do
Evangelho. É o que Jesus chama de permanecer nele pela Palavra para conhecer, a
partir do cotidiano e do contexto histórico o que o Evangelho diz, como o
Evangelho ilumina uma situação (Evangelho).
Hoje,
se fala de espiritualidade mundana e até de espiritualidade do ateísmo. É
possível uma espiritualidade sem Deus? Sim, porque existem espíritos que não
são de Deus; são incompatíveis com o Espírito divino. A 2ª leitura sustenta
essa possibilidade. A espiritualidade mundana, por exemplo, é animada pelo
espírito da técnica, do lucro, do hedonismo... Compreende-se, desse modo, que a
espiritualidade é a ação interior de um “espírito” que anima e move o homem e a
mulher. Este espírito, sempre na teologia paulina (2L),
poderá ser do mundo ou de Deus. É o Consolador prometido por Jesus que garante
e sustenta a pessoa na escolha da espiritualidade evangélica. Com isso, podemos
dizer também que é a espiritualidade que movimenta e promove as transformações sociais,
em nível mais amplo, e aquelas comunitárias. Neste caso, quanto mais os
cristãos forem discípulos e discípulas do Evangelho, mais a ação transformadora,
a partir do Evangelho, estará acontecendo no meio do povo; mais estará crescendo
a credibilidade social, maior será o testemunho evangelizador, principalmente
no contexto da nova evangelização. O cultivo da espiritualidade cristã é o
segredo da renovação pessoal e social. É o segredo da nova evangelização.
(Francisco Régis)
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