Neste
domingo, celebramos a festa da Santíssima Trindade, e é-nos proposto refletir e
viver esta passagem do discurso de Jesus do quarto evangelho.
Para
compreendê-la, vamos fazer o exercício de lê-la do fim para o início. No final
deste texto, Jesus apresenta o Espírito Santo como nosso
"intérprete".
O
intérprete é aquele que faz o possível para que pessoas que falam línguas
diferentes se entendam. Colabora, então, na comunicação, no diálogo.
A
missão do Espírito seria então fazer o possível para que os discípulos/as de
Jesus pudessem entrar em relação com Ele e, por Ele, com o Pai, acolhendo e
compreendendo a Palavra de Deus e podendo, assim, responder-lhe.
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O
evangelho nos narra que o Espírito interpretará para nós tudo o que recebe do
Jesus e antes Ele mesmo disse que tudo o que o Pai tem é dele!
Maravilhosa
comunhão, em que um é totalmente do outro a ponto de não se entenderem sem a
relação com os outros, e ao mesmo tempo continuarem sendo cada um!
Essa
comunhão de amor do Pai, Filho e Espírito Santo é o que o Espírito Santo quer
fazer os amigos e amigas de Jesus participarem e viverem.
É
através da amizade com Jesus que amadurece no seguimento, que seus amigos/as
vão descobrindo e participando por obra do Espírito deste mistério de comunhão.
O
apóstolo Paulo o expressa da seguinte maneira: "Enraizados e cimentados no
amor vocês se tornarão capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a
largura e o comprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de
Cristo que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de toda
plenitude de Deus" (Ef 4, 18-19).
A
abertura da Conferência de Aparecida nos disse que quando o discípulo chega à
compreensão deste amor de Cristo «até o extremo», não pode deixar de responder
a este amor senão for com um amor semelhante: «Eu te seguirei por onde quer que
fores» (Lc 9, 57).
Esta
experiência de comunhão com Deus é também uma experiência de comunhão com toda
a humanidade, o/a discípulo/a de Jesus se descobre sendo parte viva do Corpo de
seu Mestre, que tem em sua diversidade e pluralidade uma única missão ou causa:
o Reino de Deus!
No
encontro com os Movimentos acontecido na noite do Pentecostés o Papa Francisco
expressou de uma maneira muito clara que "ir ao encontro dos pobres
significa, para os cristãos, ir “para a carne de Cristo”, razão pela qual este
compromisso concreto pertence à essência da experiência da fé vivida e
testemunhada verdadeiramente.
O
importante – destacou Bergoglio– é ter Cristo e a dignidade do ser humano no
centro. É o Espírito Santo que dá a coragem para alcançar as "periferias
existenciais", onde é preciso testemunhar o Evangelho. É a dignidade do
ser humano, é o encontro com os pobres que devem ser postos no centro desse
testemunho.
É
claro, então, que, longe de tirar-nos da realidade, a verdadeira experiência de
Deus, nos leva a um compromisso maior com o mundo no qual vivemos, fazendo-nos
trabalhar por outro mundo possível.
Parafraseando
as palavras de Paulo V, viver em comunhão com o Deus de Jesus Cristo nos
impulsiona a doar nossas vidas para que os nossos povos passem da miséria à
posse do necessário, à aquisição da cultura... à cooperação no bem comum... até
o reconhecimento, por parte do homem, dos valores supremos e de Deus, que deles
é a fonte e o fim. (Populorum progressio, 21).
Nas
palavras de Jesus, que hoje a comunidade de João nos anuncia, fica claro que é
o Espírito Santo que garante esta vida e missão. Aquele que tornou possível a
encarnação do Filho de Deus no seio da jovem Maria de Nazaré continua tornando
possível que o projeto de Deus continue visibilizando-se, em nossa história,
através da disponibilidade de homens e mulheres, jovens, idosos e até crianças!
A festa
da Santíssima Trindade nos leva por um lado a sermos cientes e agradecidos/as
pela vida de Deus da qual somos partícipes, e por outro exorta-nos a sermos
colaboradores na gestação, defesa e cuidado da Vida de nosso planeta, para que
as palavras de Jesus se façam realidade: "Que todos tenham vida e vida em
abundância".
Festa da
Trindade, festa da comunhão, festa da humanidade!
Oração
Os pobres sinal de contradição
Convidamo-los a nossos comércios,
expulsamo-los de nossas mesas.
Fechamo-los com cercas em nossas fábricas,
afastamo-los com cães de nossas casas.
Seduzimo-los com o sorriso da publicidade,
fechamos o rosto quando se aproximam
Recebemo-los quando são trabalho e moeda,
esquivamo-nos deles quando são justiça e encontro.
Arrasamos em minutos um bairro vivo,
estudamos a colocação de uma estátua morta.
Congregamo-los com promessas quando dão um voto,
dispersamo-los com balas quando exigem um direito.
Contratamo-los quando são força jovem,
varremo-los quando são bagaços espremidos.
Admiramo-los quando levantam nossas mansões,
separamo-los com as mesmas paredes que construíram.
Damos-lhes esmolas quando são pequenos e fracos,
encarceramo-los com suspeitas quando são dignos e
fortes
Exaltamos em livros e sermões sua bem-aventurança,
sua proximidade não mede o sentido de nossa vida.
Jesus, Acolhemos-te quando és bondade e perdão,
excluímos-te quando és denúncia e justiça
Como todo pobre de nossos caminhos
és um sinal de contradição.
Referências
DUFOUR,
Xavier Leon. Leitura do evangelho segundo João IV. São Paulo: Loyola, 1998.
GONZALES
BUELTA, Benjamin. Salmos para sentir e saborear as coisas internamente.
Disponível em http://migre.me/eEh41
KONINGS,
Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior
de Teologia, 1981.
QUEIRUGA,
Andrés Torres. Re-pensar a Ressurreição. São Paulo: Ed. Paulinas, 2004.
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