quinta-feira, 23 de maio de 2013

FESTA DA SS. TRINDADE - Evangelho de João 16,12-15



Festa da comunhão

Neste domingo, celebramos a festa da Santíssima Trindade, e é-nos proposto refletir e viver esta passagem do discurso de Jesus do quarto evangelho.

Para compreendê-la, vamos fazer o exercício de lê-la do fim para o início. No final deste texto, Jesus apresenta o Espírito Santo como nosso "intérprete".

O intérprete é aquele que faz o possível para que pessoas que falam línguas diferentes se entendam. Colabora, então, na comunicação, no diálogo.

A missão do Espírito seria então fazer o possível para que os discípulos/as de Jesus pudessem entrar em relação com Ele e, por Ele, com o Pai, acolhendo e compreendendo a Palavra de Deus e podendo, assim, responder-lhe.
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O evangelho nos narra que o Espírito interpretará para nós tudo o que recebe do Jesus e antes Ele mesmo disse que tudo o que o Pai tem é dele!

Maravilhosa comunhão, em que um é totalmente do outro a ponto de não se entenderem sem a relação com os outros, e ao mesmo tempo continuarem sendo cada um!

Essa comunhão de amor do Pai, Filho e Espírito Santo é o que o Espírito Santo quer fazer os amigos e amigas de Jesus participarem e viverem.

É através da amizade com Jesus que amadurece no seguimento, que seus amigos/as vão descobrindo e participando por obra do Espírito deste mistério de comunhão.

O apóstolo Paulo o expressa da seguinte maneira: "Enraizados e cimentados no amor vocês se tornarão capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de Cristo que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de toda plenitude de Deus" (Ef 4, 18-19).

A abertura da Conferência de Aparecida nos disse que quando o discípulo chega à compreensão deste amor de Cristo «até o extremo», não pode deixar de responder a este amor senão for com um amor semelhante: «Eu te seguirei por onde quer que fores» (Lc 9, 57).

Esta experiência de comunhão com Deus é também uma experiência de comunhão com toda a humanidade, o/a discípulo/a de Jesus se descobre sendo parte viva do Corpo de seu Mestre, que tem em sua diversidade e pluralidade uma única missão ou causa: o Reino de Deus!

No encontro com os Movimentos acontecido na noite do Pentecostés o Papa Francisco expressou de uma maneira muito clara que "ir ao encontro dos pobres significa, para os cristãos, ir “para a carne de Cristo”, razão pela qual este compromisso concreto pertence à essência da experiência da fé vivida e testemunhada verdadeiramente.

O importante – destacou Bergoglio– é ter Cristo e a dignidade do ser humano no centro. É o Espírito Santo que dá a coragem para alcançar as "periferias existenciais", onde é preciso testemunhar o Evangelho. É a dignidade do ser humano, é o encontro com os pobres que devem ser postos no centro desse testemunho.

É claro, então, que, longe de tirar-nos da realidade, a verdadeira experiência de Deus, nos leva a um compromisso maior com o mundo no qual vivemos, fazendo-nos trabalhar por outro mundo possível.

Parafraseando as palavras de Paulo V, viver em comunhão com o Deus de Jesus Cristo nos impulsiona a doar nossas vidas para que os nossos povos passem da miséria à posse do necessário, à aquisição da cultura... à cooperação no bem comum... até o reconhecimento, por parte do homem, dos valores supremos e de Deus, que deles é a fonte e o fim. (Populorum progressio, 21).

Nas palavras de Jesus, que hoje a comunidade de João nos anuncia, fica claro que é o Espírito Santo que garante esta vida e missão. Aquele que tornou possível a encarnação do Filho de Deus no seio da jovem Maria de Nazaré continua tornando possível que o projeto de Deus continue visibilizando-se, em nossa história, através da disponibilidade de homens e mulheres, jovens, idosos e até crianças!

A festa da Santíssima Trindade nos leva por um lado a sermos cientes e agradecidos/as pela vida de Deus da qual somos partícipes, e por outro exorta-nos a sermos colaboradores na gestação, defesa e cuidado da Vida de nosso planeta, para que as palavras de Jesus se façam realidade: "Que todos tenham vida e vida em abundância".

Festa da Trindade, festa da comunhão, festa da humanidade!


Oração

Os pobres sinal de contradição

Convidamo-los a nossos comércios,
expulsamo-los de nossas mesas.
Fechamo-los com cercas em nossas fábricas,
afastamo-los com cães de nossas casas.

Seduzimo-los com o sorriso da publicidade,
fechamos o rosto quando se aproximam
Recebemo-los quando são trabalho e moeda,
esquivamo-nos deles quando são justiça e encontro.

Arrasamos em minutos um bairro vivo,
estudamos a colocação de uma estátua morta.
Congregamo-los com promessas quando dão um voto,
dispersamo-los com balas quando exigem um direito.

Contratamo-los quando são força jovem,
varremo-los quando são bagaços espremidos.
Admiramo-los quando levantam nossas mansões,
separamo-los com as mesmas paredes que construíram.

Damos-lhes esmolas quando são pequenos e fracos,
encarceramo-los com suspeitas quando são dignos e fortes
Exaltamos em livros e sermões sua bem-aventurança,
sua proximidade não mede o sentido de nossa vida.

Jesus, Acolhemos-te quando és bondade e perdão,
excluímos-te quando és denúncia e justiça
Como todo pobre de nossos caminhos
és um sinal de contradição.

Referências

DUFOUR, Xavier Leon. Leitura do evangelho segundo João IV. São Paulo: Loyola, 1998.

GONZALES BUELTA, Benjamin. Salmos para sentir e saborear as coisas internamente. Disponível em http://migre.me/eEh41

KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.

QUEIRUGA, Andrés Torres. Re-pensar a Ressurreição. São Paulo: Ed. Paulinas, 2004.




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