Iniciação à Vida Cristã: Itinerário para Formar Discípulos Missionários
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul
Bispo de Santa Cruz do Sul
Caros diocesanos. Continuamos nossa reflexão, sobre o recente documento
da CNBB: Iniciação à Vida Cristã: Itinerário para Formar Discípulos
Missionários. Já abordamos a parte bíblica do encontro e diálogo de Jesus com a
samaritana e seus desdobramentos (Jo 4, 4-42). Hoje apresentaremos síntese do
capítulo II que destaca o VER ou a parte histórica da IVC.
Como no encontro do Senhor com a samaritana, a Igreja também é desafiada
a promover encontros com novos interlocutores. Temos um passado que pode nos
impulsionar na busca de novos caminhos para o seguimento, desde os tempos da
Igreja primitiva. No séc. II, se estruturou o catecumenato: itinerário
específico de iniciação. Era um caminho que acolhia a salvação de Deus e que se
expressava na vida da comunidade com uma série de ensinamentos e práticas
litúrgicas. Este processo se aperfeiçoou até o séc. IV e entrou em lenta
decadência, a partir do séc. V, até desaparecer no séc. VI-VII.
O declínio do catecumenato deu-se com o surgimento da cristandade,
quando a maioria da população se tornou cristã. Então os sacramentos da
iniciação cristã eram celebrados sem muita relação entre eles e o batismo de
crianças tornou-se prática comum. Era um cristianismo herdado num ambiente de
cultura cristã: tradição familiar e social. A fé era alimentada fortemente pela
devoção aos santos, pelas peregrinações e penitências. Ganharam importância as
orações decoradas. A bíblia era usada nos sermões, encenada nas procissões e
expressa na arte e no canto. Era uma catequese de piedade popular.
A partir do Concílio de Trento (1545-1563) elaborou-se um catecismo,
centrado no conhecimento da doutrina da fé, na instrução moral, na celebração
dos sacramentos e nas orações cristãs. Este tornou-se referência oficial para a
transmissão da fé até o séc. XX. O Vaticano II (1962-1965) sugeriu novos
caminhos na transmissão da fé: diversos documentos foram emitidos, em nível
universal e nacional. Muitas Dioceses, Paróquias e Comunidades reagiram com
experiências renovadoras. Em 2011, a IVC foi assumida como urgência pelas
Diretrizes Gerais: Igreja – Casa da Iniciação à Vida Cristã.
Como em Samaria, abrem-se novos poços para o encontro com o Senhor, em
nossas realidades. Pelo impulso do Espírito, estamos em estado de busca e de
recomeço. Fica para trás um determinado modelo eclesial, marcado pela segurança
da sociedade de cristandade e desponta um processo de renascimento: modelo de
Igreja pobre, samaritana, em saída missionária para as periferias geográficas e
existenciais. O novo caminho exige humildade, acolhida, criatividade,
capacidade dialogal, necessidade de conversão pastoral, de gestação permanente,
sem apego a modelo único e uniforme. Cultivar a mística do encontro: não tanto
ouvir e falar sobre Deus, mas ouvir e falar com Deus. S. Agostinho afirma:
“Devemos dizer muitas coisas ao novo crente, mas mais a Deus por ele, do que a
ele sobre Deus”. Tertuliano diz: “Os cristãos não nascem, se fazem”.
O querigma, como anúncio do essencial da fé, e a mistagogia, como
progressiva introdução no mistério pascal de Cristo, vivido na experiência
comunitária, são aspectos essenciais na renovação do processo de IVC.
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