Acolher
Jesus no Próximo
A decisão de acolher Jesus
tem seu fundamento principal no Batismo e implica um dinamismo de contínua
busca e encontro com o Senhor da Vida. Normalmente e necessariamente, temos que
buscar Jesus na Leitura Orante da Palavra de Deus, na Celebração Eucarística,
nos muitos momentos de oração e na vida fraterna em Comunidade. Todavia, é
necessário tomar cuidado para não cair na atraente tentação do devocionismo
estéril, que leva a um progressivo afastamento das pessoas para poder estar mais
tempo junto de Deus... Sobre isso, sabiamente o Papa Francisco nos orienta na
sua Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium: “É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido
cristão ao compromisso e à atividade. Sem momentos prolongados de adoração, de
encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas
facilmente se esvaziam de significado, tornamo-nos fracos com o cansaço e as
dificuldades, e o ardor se apaga. (...) Ao mesmo tempo, há que rejeitar a
tentação de uma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se
harmoniza com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação. Há o risco
de que alguns momentos de oração se tornem uma desculpa para evitar dedicar a
vida à missão, porque a privatização do estilo de vida pode levar os cristãos a
refugiarem-se em alguma falsa espiritualidade” (EG 262)
Na realidade, a fé cristã
nos coloca diante de um grande desafio: acolher Jesus Cristo no próximo,
principalmente nos mais necessitados! Para Jesus o próximo é sempre quem nos
desconcerta: é aquele a quem temos que perdoar, pois fez algo grave contra nós;
é aquele que nos perturba quando queremos saborear o sossego de uma fé
tranquila; é aquele que tem necessidades básicas para sobreviver e vem pedir
socorro justamente para nós que já resolvemos nossos problemas de subsistência;
é aquele que, de alguma forma, nos obriga a nos desinstalarmos do comodismo no
qual já tínhamos organizado a vivência de nossa fé...
No dia do encontro
definitivo com Jesus, na casa do Pai, será a vez dele nos acolher. E seremos
acolhidos exatamente da mesma forma com a qual soubemos acolhe-lo aqui nesta
realidade terrena. As horas que passamos rezando, meditando a Palavra de Deus,
indo à Missa ou fazendo Adorações ao Santíssimo não serão contabilizadas, pois
são necessidades de fortalecimento e celebração da fé. Precisamos fazer tudo
isso, para darmos conta de realizar nossa missão. Afinal, o que vai contar
mesmo, é o tempo que nos dedicamos ao encontro real com Jesus naqueles com os
quais ele se identificou: nos pobres, marginalizados, excluídos, perseguidos,
descartados, ignorados por essa sociedade que ainda não assumiu Deus e seu
plano de salvação a todas as suas amadas criaturas.
Por isso mesmo, nossa
catequese ou trabalho evangelizador deve sempre conduzir as pessoas ao
verdadeiro encontro com Jesus, concretizado no amor às pessoas enquanto “força
espiritual que favorece o encontro em plenitude com Deus (... Pois) quando
vivemos a mística de nos aproximar dos outros com a intenção de procurar o seu
bem, ampliamos o nosso interior para receber os mais belos dons do Senhor. Cada
vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir
algo de novo sobre Deus. Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer
o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer a Deus. Em consequência
disto, se queremos crescer na vida espiritual, não podemos renunciar a ser
missionários. (...) Só pode ser missionário quem se sente bem procurando o bem
do próximo, desejando a felicidade do outro. (EG 272).
Aprofundamento a partir da Palavra de Deus: Com a Festa de Cristo
Rei, encerra-se o Ano Litúrgico e desta vez somos convocados a refletir sobre o
texto bíblico: Mt 25,31-46. Convido você a lê-lo com
calma, prestar atenção e responder: Com qual frequência procuro renovar meu
encontro pessoal com Jesus? Até que ponto minha vida de oração me leva a me
encontrar com Jesus no próximo? Qual é o próximo que acolho com mais satisfação
e qual o que encontro mais resistência para acolher? Essa dimensão social, de
acolhida do próximo necessitado, está amplamente presente no meu trabalho
catequético ou fico preocupado somente com a dimensão litúrgico-sacramental?
Pe. Luís Gonzaga Bolinelli – Assistente Eclesiástico da Comissão AB-C
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