Queridos
Catequistas, neste Ano da Fé, queremos nos
comprometer mais com a vivência e o anúncio das verdades que cremos e vivemos, para
testemunhar a todos o nosso ser discípulos-Missionários do Reino.
“Com a proclamação da Páscoa, Deus
cumpre as suas promessas, ressuscitando seu Filho, Jesus.
Todos nós, cantamos ALELUIA,
anunciando o “dia que o senhor fez para nós”.
Neste “ANO DA FÉ”, a celebração da
Páscoa é, evidentemente,momento central.
A exemplo das mulheres apressada em ir
ao sepulcro, a exemplo de Maria Madalena, de João e Pedro,somos todos motivados
a madrugar e correr para “ver e crer” que o Senhor Ressuscitou.
Ele, que
prometeu permanecer conosco todos os dias até o fim dos tempos, mostrando-se
vivo e vitorioso diante do pecado e da morte ,haverá de, também em nós,
infundir novo ânimo e jubiloso entusiasmo.
É hora, tempo propício ,de a Igreja,
que “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das
consolações de Deus”, alegrar-se com o anúncio da cruz E DA MORTE DO Senhor,até
que Ele venha.
É oportunidade fecunda para todos nós, cristãos, nos sentirmos
robustecidos pela força do
Ressuscitado, de modo a vencer pela paciência e pela caridade, as
aflições e dificuldades.
O Mistério Páscoa foi confiado aos Discípulos
do senhor:”o Amor de Cristo enche os nossos corações e nos impele a
evangelizar” (2 Cor 5,14-15 )
O empenho pela “nova evangelização”
esperado pela igreja, a fim de descobrir outra vez a“Alegria de Crer” e de reencontrar o entusiasmo de comunicar a Fé, tem
na Páscoa de Jesus a grande motivação.
A Fé cresce quando é vivida como
experiência de Amor recebido e quando é comunicada como experiência da graça e
da alegria.
Isso acontece na comunidade de irmãos
reunido em volta da Palavra e da Eucaristia.
Quando diariamente ou, ao menos, aos
domingos celebramos o mistério da nossa Fé na Eucaristia, estamos proclamando
avitória de Jesus,a sua páscoa,e
aguardando o dia em que também nós poderemos dizer:”Vimos o Senhor”.
(Dom Geraldo Majella Agnelo)
UMAFELIZ E SANTA PÁSCOAREPLETADEPAZ SEMPRE EMCOMUNHÃOEMISSÃO!
Tanto
refletimos sobre a Vigília Pascal que esquecemos o clima de tristeza e luto que
perpassa o dia do Sábado Santo. Na Liturgia das Horas do Sábado Santo, a Igreja
proclama a tristeza da morte de seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo. O clima
espiritual das liturgias, especialmente aquelas matutinas, cantam lamentações,
súplicas de perdão e intercessões de misericórdia. São prenúncios preparativos
para exultar com maior força a alegria da Ressurreição. Este clima espiritual
da Igreja é iniciado após a Liturgia da Morte do Senhor, na Sexta-feira Santa,
quando a Igreja ingressa no grande silêncio. Este grande silêncio do Sábado
Santo, pela manhã, é tradicionalmente dedicado à Mãe de Jesus, exemplo de fé e
esperança, motivando os cristãos a respirar a vida com os mesmos odores da fé e
da esperança, porque Deus cumpre suas promessas e suas promessas estão sempre
do lado da vida. O Sábado Santo está envolvido nessa atmosfera de fé e
esperança que mistura a tristeza da Cruz e a esperança da Ressurreição. Por isso,
o Sábado Santo não se resume na Vigília. Esta é ponto de chegada, o grande
auge, a grande exultação que explode de alegria, que celebra a vitória da vida
sobre a morte. A grande Vigília Pascal é preparada por um dia silencioso e
carregado de profunda espiritualidade — com um quê de espiritualidade “mariana”
— contemplando a Mãe silenciosa que sofre sem deixar de crer e esperar em Deus.
Manifestando a continuidade desse dia
silencioso e enlutado, a primeira parte da Vigília Pascal acontece na escuridão
silenciosa da noite. Como tudo é simbólico nessa celebração, acendemos o fogo
da vida na escuridão da morte. No meio da noite, em uma Igreja escurecida
(enlutada) pela morte do Senhor, acendemos uma grande luz para proclamar a
vitória de Jesus Cristo recordando as maravilhas divinas, através da longa
Liturgia da Palavra que, pouco a pouco, vai acendendo as luzes da igreja e no
coração dos celebrantes, fazendo memória da criação divina (1ª leitura), da fé
de Abraão (2ª leitura), da liderança profética de Moisés, conduzindo o povo
pela Páscoa do deserto (3ª leitura). Depois, a Igreja proclama agradecida, em
forma de poemas e cânticos, as promessas divinas (4ª leitura, 5ª leitura, 6ª
leitura e 7ª leitura; mais os salmos responsoriais). Finalmente, a luz
resplandece com todo o esplendor no túmulo vazio: o Senhor ressuscitou,
proclama o Evangelho; “aleluia”, cantam os celebrantes. Nesta longa Liturgia da
Palavra, passado e presente se encontram, vida e morte duelam; a vida vence:
Jesus ressuscitou (Evangelho). O que isso significa?
Professamos nossa fé declarando que
Jesus “desceu à mansão dos mortos”. Passa
pelo mistério da morte, participa da morte como um dia dela participaremos. O Sábado
Santo é um dia no qual experimentamos um mundo sem Deus (Deus sepultus est). Por isso, o Sábado Santo começa como dia do
sepultamento, até o momento que a sepultura é aberta e deixa de ser lugar dos
mortos. Sábado Santo é também o dia, no qual os homens pretenderam enterrar
Deus, iludidos que uma pedra seria suficiente para fazê-lo desaparecer da terra.
Por isso, na celebração da Vigília Pascal, os celebrantes se colocam do lado de
Deus e exultam de alegria porque a vitória da morte foi aparente e por pouco
tempo. Depois que Jesus “desceu à mansão
dos mortos”, a morte não é mais a mesma. Jesus tirou dela o aguilhão; tirou-lhe
a possibilidade de destruir a vida, e a transformou em passagem — em Páscoa —
para a vida eterna.
Algum tempo atrás li um texto que,
penso, poderá ajudar a reflexão espiritual do Sábado Santo. Era um texto em
francês; não o lembro na íntegra, por isso faço uma adaptação do mesmo, em base
as minhas lembranças. O texto dizia que a Mãe de Jesus recebe o manuscrito do
evangelista Lucas (seu Evangelho) e, depois de lê-lo, escreve algumas
considerações e lembranças do primeiro Sábado Santo da história, que ela passou
na casa de João. Passo a algumas partes do texto...
Li o teu livro, Lucas, e mesmo que
tenhas pedido para corrigir ou ampliar a sessão, na qual meu Filho começou a
ensinar e pregar na Galiléia, não mudaria nenhuma linha. Durante a leitura a
saudade começou a falar alto e não deixo de repensar tudo que ele disse, permitindo
assim que ele continue falando no meu coração.
Até mesmo as lembranças que te contei
aparecem com nova vivacidade. Contei que quando o encontramos no Templo, por
exemplo, eu e José não tínhamos compreendido bem a explicação que nos dera, que
deveria cuidar das coisas do seu Pai. Agora vejo que tudo que dissera tem um
sentido profundo, que nos escapa num primeiro momento, mas é melhor
compreendido no silêncio da meditação, embora tudo será esclarecido no último
dia (....). Foi entre essas lembranças que considero importante dizer algo mais
sobre aquele Sábado, quando meu Filho foi colocado na sepultura. Tu dizes
simplesmente que entramos e ali o sepultamos como prescrito pela Lei e pelos
costumes dos judeus. Naquele dia, o Espírito repousou em mim com todo seu dom
de fé e esperança, como só a ele é possível. (Em Pentecostes, isso se tornou
visível nas línguas de fogo).
Depois de ter enterrado o corpo de
Jesus, João insistiu que não voltasse para minha casa, mas que ficasse com ele,
durante o Sábado. Naquele dia não conversamos quase nada, porque a voz e as
palavras nos faltavam. E, mesmo que a dor e o luto transpassassem meu coração,
quando chegou a noite, comecei a sentir uma fé e uma certeza inexprimíveis, que
jamais tinha sentido em minha vida. (....). Veio-me à mente as palavras que ele
dissera a Marta e Maria: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Esta foi a Palavra
que iluminou meu coração quando a tarde daquele Sábado ia caindo. Comecei a me
perguntar exatamente como tinha questionado Gabriel: “como será isso possível?”
A resposta foi a mesma: “A Deus nada é impossível!” No 1º dia da semana,
continuei meditando silenciosamente estas palavras em meu coração, entre trevas
de dor e dores de saudade. Mas elas estavam plenas de certeza, repletas de fé,
a ponto que meu coração se aquietou e senti vontade de novamente cantar a Deus,
meu salvador.
Mas, eu ainda nada sabia do que
aconteceria naquela manhã. Quando minhas amigas foram ao túmulo com perfumes,
eu sentia em meu coração que elas não o encontrariam mais no túmulo. No meio de
toda a confusão daquele dia, eu continuei meditando no silêncio de meu coração,
ouvindo aqui e ali alguém comentando sobre ressurreição, sem ousar crer que
pudesse ser verdade. Foi o próprio João que veio até meu quarto para dar a boa
notícia, para comunicar a grande realização de Deus: ele ressuscitou dentre os
mortos. Meu Filho ressuscitara. Grande é nosso Deus!
(Adaptação de
Serginho Valle)
Leituras deste sábado santo :
1ª leitura: Gn 1,1—2,2 = Depois da criação, Deus viu que tudo era bom
Salmo: Sl 103 - Enviai, Senhor o vosso Espírito, e renovai a face da terra
2ª leitura: Gn 22,1-18 = O sacrifício de Abraão: “não faças nada a teu filho”
Salmo: Sl 15 = Guardai-me, ó Deus, porque em vós meu refugio
3ª leitura: Os Ex 14,15—15,1 = Atravessaram o Mar Vermelho a pé enxuto
Salmo: Ct de Ex 15 = Cantemos ao Senhor, que fez brilhar a sua glória
4ª leitura: Is 54,5-14 = Com misericórdia me compadeci de ti
Salmo: Sl 29 = Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes!
5ª leitura: Is 55,1-11 = Vinde a mim, farei convosco um pacto eterno
Salmo: Ct de Is 12 = Com alegria bebereis do manancial da salvação
6ª leitura: Br 3,9-15.32— 4,4 = Marcha para o esplendor do Senhor
Salmo: Sl 18b = Senhor, tens palavras de vida eterna
7ª leitura: Ez 36,16-17a. 18-28 = Derramarei sobre vós uma água pura
Salmo: Sl 41 = A minh'alma tem sede de Deus
Epístola: Rm 6,3-11 = Cristo ressuscitado dos mortos, não morre mais
Salmo: Sl 117 = Aleluia, daí graças ao Senhor, porque Ele é bom
Evangelho: Lc 24,1-12 = Ele ressuscitou e vai à vossa frente para a Galiléia
Ressurreição de Jesus Cristo
Pedro dirige sua palavra a judeus que conheciam Jesus e os fatos históricos da Paixão e Ressurreição: “vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar da Galiléia” (1ª leitura). O acontecimento histórico da Ressurreição ilumina a reflexão dos Evangelhos e de Pedro, que define Jesus como aquele que “andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele”(1ª leitura). É a partir da Ressurreição que Pedro, os Apóstolos e todos os discípulos compreendem que a missão de Jesus se destinava a perdoar os pecados da humanidade para torná-la digna de participar da vida divina. Na sua pregação, Pedro não se detém em detalhes da história de Jesus, pois eram conhecidos. Sua pregação esclarece o significado da vida de Jesus através de uma leitura teológica de que “todos os profetas dão testemunho dele” (1ª leitura). Contemplando tais fatos, a Liturgia canta o Sl 117 para exaltar a misericórdia divina, glorificar e louvar a Deus pelas “maravilhas que ele fez a nossos olhos” (salmo responsorial). Olhos da carne, no caso de Pedro e dos Apóstolos, que comeram e beberam com o Senhor (1ª leitura), olhos da fé para quem acredita no testemunho daqueles que “comeram e beberam” com o Senhor (1ª leitura). Pois bem, este Jesus foi morto, ressuscitou e tornou-se pedra angular, a possibilidade do homem, da mulher e da sociedade humana construírem uma nova vida, com um sentido existencial novo (salmo responsorial).
Construir nova vida sobre essa pedra angular exige descartar fundamentos existenciais oferecidos pelo mundo para edificar a vida sobre Jesus e seu Evangelho. As orientações práticas para tal fim estão nas duas cartas de Paulo (propostas à escolha nessa celebração). Uma convida a iluminar a vida com o esplendor da Ressurreição de Jesus, presente em nós desde o Batismo (2ª leitura - CL). Quem é batizado na Ressurreição traz em si o esplendor da luz divina, embora escondida nos limites humanos do corpo; um dia, ela aparecerá plenamente, quando será “revestido de glória” (2ª leitura - Cl). Noutra, Paulo orienta a trocar o fermento velho do mundo pelo fermento da Ressurreição, que leveda a vida no amor divino (2ªleitura - 1Cor). Na prática, não se trata de fugir do mundo, mas nele viver iluminado pelo esplendor da Ressurreição e deixando-se levedar pelo amor divino.
Toda essa teologia e espiritualidade não passará de bela teoria a quem não fizer o caminho da Ressurreição, como as mulheres, na madrugada do mundo (Evangelho), e os discípulos de Emaús, no entardecer de um sonho que terminara em morte (Evangelho da noite). Percorrer esse caminho exige o tempo e o esforço “para alcançar as coisas do alto” (2ª leitura - Cl). A primeira experiência do discípulo e discípula, na busca da Ressurreição acontece na madrugada, com as dúvidas da fé diante de uma sepultura com uma grande pedra irremovível. “Quem irá remover a pedra da sepultura?”,perguntam as mulheres (Evangelho). Quem irá tirar de nós as pedras que encontramos nos caminhos da vida para contemplar o esplendor da Ressurreição de Jesus? O encontro com o túmulo vazio também é questionador: — quem poderia ter tirado a pedra? Quem se interessaria em roubar o corpo, dobrando os panos fúnebres? Questionador porque instiga, provoca a crer na Ressurreição lendo detalhes nos sinais. Quem aprender a gramática dos sinais divinos, que se ilumina na fé, perceberá que a morte tinha sido dobrada nos panos e colocada de lado, pois a vida voltou a resplandecer em Jesus: ele ressuscitou dos mortos (Evangelho). Aleluia!
“Onde puseram o corpo de Jesus”
“Onde puseram o corpo de Jesus”, perguntam as mulheres ao se depararem com o túmulo vazio, na madrugada da Ressurreição. O corpo de Jesus, realidade de sua presença entre nós, havia desaparecido. No Natal, encontramos Jesus no seu corpo humano (Lc 2,7). Isto não acontece na Páscoa, quando sua presença se dá de outros modos: caminha conosco sem ser conhecido, fala em sua Palavra e parte o pão na mesma Mesa onde alimentamos nossas vidas (Lc 24,13-32). No Natal, encontramos no corpo de Jesus a visibilidade do Emanuel, Deus conosco e Deus entre nós; na Páscoa essa certeza desaparece de nossos olhos. “Onde puseram o corpo do Senhor”, para que o encontremos? As mulheres se depararam com o Senhor e o confundiram com um jardineiro (Jo 20,15). Os discípulos de Emaús caminharam 13Km com Jesus, mas só o reconheceram na experiência do coração ardendo ao ouvir sua Palavra, não seu timbre de voz (Lc 24,32). Seja para as mulheres como para os discípulos, os olhos estavam fechados pelo medo, ansiedade, decepção, dor, susto, choros, deplorações... sentimentos que impedem ver e sentir a presença divina nos acontecimentos da vida. Não é falta de fé, apenas a necessidade do tempo necessário para que a fé amadureça.
Nesse “Ano da Fé”, é importante celebrar a Ressurreição de Jesus não apenas como uma convicção mental, de quem crê porque outros disseram que isso aconteceu, mas se colocando a caminho para contemplar as maravilhas que o Senhor realiza em nossas vidas (SR). Todas as nossas celebrações são memoriais: proclamam os feitos do Senhor, dão graças, e se projetam para o futuro que é eterno. Por isso, a celebração é fonte da fé, que confirma e indica o caminho capaz de dilatar o tempo e o espaço da vida. Celebrar a Ressurreição não se limita ao fato histórico em si, mas é momento para repetidamente perceber a presença do Senhor nos caminhos de nossas vidas, sejam eles no escuro da madrugada ou no lusco-fusco da tarde.
Sempre é preciso fazer e refazer o caminho, como dito acima. Por isso, a celebração é uma pausa restauradora, como proclama um “orate fratres”, no rito das oferendas. Fazer e refazer o caminho recordando (trazendo para o coração, para o centro da vida) aquilo que o Senhor fez e continua fazendo em nossas vidas. “Quantas maravilhas ele faz a nossos olhos”, em nossas vidas, canta o salmista. Não se trata de envolver a fé num sentimento bom, embora isso se torne conseqüência, mas torná-la palpável e concreta, na pedagogia de quem caminha nas estradas do mundo ao lado de Jesus ressuscitado. Para isso é importante caminhar mais atento que os discípulos de Emaús e perceber, na fé, a presença do Senhor ressuscitado ao nosso lado. Feliz Páscoa!
“teu rei vem montado num humilde jumentinho.”(Zc 9,9)
A celebração Ramos se inicia fazendo memória da
entrada de Jesus em Jerusalém. A procissão que realizamos não é um fato
folclórico, mas memória de um acontecimento salvífico profetizado por Zacarias (Zc 9,9): “teu rei vem montado num humilde jumentinho.”
Participar dessa procissão é um modo de continuar a mesma aclamação iniciada
pelo povo de Jerusalém, quando acolheu Jesus com hosanas, com ramos de
oliveiras. Nós relembra-mos a mesma
aclamação em nossa cidade, proclamando lá na rua, para que
todos escutem que o Senhor é nosso rei. Jesus vem até nós montado num jumentinho — animal usado
para o serviço e para o trabalho, entre os judeus —. Vem como servidor ao proximo,
em total humildade, anunciando o poder do amor e da paz, para que sejam plantados na terra e no coração de cada
pessoa. Em Jesus tem início uma nova ordem social, não fundamentada nos poderes
políticos, mas no poder do serviço, do amor e da fraternidade. Não aclamamos um
político e nem um revolucionário, mas o Messias, aquele que foi enviado por
Deus com a missão de trazer a paz divina para a terra.
A missão de Jesus
Jesus veio à terra com essa missão de plantar a
força do amor, da paz e da fraternidade. O evangelista Lucas descreve a missão
de Jesus como uma grande viagem, começada na Galiléia, onde Jesus inicia suas atividades,
e terminada em Jerusalém, quando entra na cidade santa para ali concluir sua
missão, oferecendo sua vida em sacrifício ao Pai. O grito de Jesus, na Cruz — “tudo está consumado” — significa que
realizou plenamente a missão que o Pai lhe confiara. Ele introduziu o Reino de
amor na terra, ensinou que a fraternidade promove a justiça, a solidariedade e
a paz. Jesus não entra na cidade com o símbolo do poder e da força política
daquele tempo, um cavalo, mas com a simplicidade de um jumentinho, um animal para
o trabalho, a serviço dos homens. Jesus entra na cidade como quem se coloca a
serviço dos homens com seu Evangelho.
É nosso dever continuar o projeto iniciado por Jesus
Jesus,
iniciada o seu projeto Divino, na Galiléia e se completa em Jerusalém, acontece no dia da Páscoa dos
judeus. Jesus tinha a intenção de mostrar aos discípulos e a todos nós, que
existe uma relação direta entre a Páscoa dos judeus e tudo que acontecia com
ele. Queria que seus discípulos entendessem que a sua morte na Cruz não era uma
derrota, o fim de um projeto que ele ensinava; era apenas o começo. O projeto
deveria ser continuado por nós. Jesus queria que seus discípulos entendessem
que aquele cordeiro pascal, que os judeus matavam e comiam para celebrar a
Páscoa, era ele mesmo, morto na Cruz. Mas, ocordeiro precisava ser consumado, ser comido numa ceia ritual, como era
a Páscoa judaica. Por isso, Jesus toma o pão e o vinho e os apresentam como seu
Corpo e Sangue. Quem come o pão e o vinho, reunido numa ceia pascal, como esta
que fazemos agora, na celebração da Missa, está comendo, está se alimentando da
Páscoa de Jesus. Cada vez que
nos sentamos ao redor da Mesa da Eucaristia, não apenas rezamos ou cantamos a
Deus, mas nos comprometemos com o projeto de Deus iniciado por Jesus.
Testemunhar o Evangelho
O tema da Campanha da Fraternidade deste ano foi
um convite dirigido a todos nós, mas especialmente aos jovens: “Eis-me aqui, envia-me!” Enviar para
onde e com que objetivo? O envio é para o mundo, para nossas comunidades, para
nossas cidades, para os locais onde vivemos. O objetivo não é, em primeiro
lugar, aumentar o número de cristãos, mas testemunhar a mensagem do Evangelho
através da vida. Testemunhar, com um sorriso no rosto, com paz e serenidade no
coração, que cremos na possibilidade de mudar os relacionamentos sociais
através do poder do amor, do serviço fraterno e com a dinâmica da
misericórdia... não queremos tomar o lugar do poder político, do poder
econômico, do poder da ciência, etc... mas queremos que esses poderes se
transformem em serviço para o bem do povo e para que nos relacionemos
fraternalmente entre nós. Quem senta à mesa com o Senhor, como fazemos agora,
se compromete com esse projeto de Jesus. A quem tem medo dos enfrentamentos,
porque eles acontecem e são inevitáveis, Jesus garante a sua oração em nosso
favor: “eis que orei por ti” — diz o
Evangelho da Paixão — “para que tua fé
não esmoreça”, não se enfraqueça, não se intimide e muito menos tenha
vergonha. Nós celebramos a Missa para nos comprometer com o projeto de Jesus,
para estar a serviço do seu Reino. Levamos esse projeto de modo simples — “montado
em jumentos”, podemos dizer — mas o levamos com a força e a coragem da fé, pois
cremos que o Evangelho é a melhor proposta que existe para o mundo e para a
vida de cada pessoa.
Antes da missa, o novo pontífice, de 76 anos, saudou os milhares de fiéis que
lotavam a Praça de São Pedro, no Vaticano, diante da Basílica, para acompanhar a
cerimônia.
Ele afirmou que seu ministério é "cuidar das pessoas, principalmente dos mais pobres".
"Peço a todos aqueles que ocupam papel de
responsabilidade nos meios econômico, politico e social, a todos homens e
mulheres de boa vontade, para que cuidem da criação. Do desenho de Deus na
Natureza. Cuidem um do outro, do meio ambiente", disse.
O pontífice, primeiro jesuíta a exercer o cargo,
também apelou aos fiéis e principalmente às pessoas em postos de comando para
que não deixem que os "sinais de destruição" dirijam o mundo.
"Vamos lembrar que o ódio, a inveja, a soberba
sujam a vida", afirmou o pontífice. "Cuidar, então, significa vigiar
nosso sentimento, nosso coração, porque é dali que vem as coisas boas e as más
intenções. Aquelas que destroem e aquelas que constroem."
Francisco terminou a homilia pedindo a intercessão
da Virgem Maria, de São José, de São Pedro, São Paulo e de São Francisco, para
que o Espírito Santo acompanhe o seu ministério.
Anel e pálio
Durante a missa, o pontífice recebeu o anel do pescador e o pálio, símbolos da
autoridade papal.
Após a cerimônia, começou o tradicional "beija
mão", em que membros de delegações de 132 países e líderes religiosos de
todo o mundo fizeram fila para cumprimentar o pontífice.
Homilia do Papa Francisco na Missa de início do Ministério Petrino
Queridos irmãos e
irmãs!
Agradeço ao Senhor por poder celebrar esta
Santa Missa de início do ministério petrino na solenidade de São José, esposo
da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência densa de
significado e é também o onomástico do meu venerado Predecessor: acompanhamo-lo
com a oração, cheia de estima e gratidão.
Saúdo, com afecto, os Irmãos Cardeais e
Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas e todos os
fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos Representantes das outras
Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos representantes da comunidade
judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo a minha cordial saudação aos
Chefes de Estado e de Governo, às Delegações oficiais de tantos países do mundo
e ao Corpo Diplomático.
Ouvimos ler, no Evangelho, que «José fez
como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa» (Mt
1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José: ser custos,
guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se
alarga à Igreja, como sublinhou o Beato João Paulo II: «São José, assim como
cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus
Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a
Virgem Santíssima é figura e modelo» (Exort. ap.Redemptoris Custos,
1).
Como realiza José esta guarda? Com
discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma
fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. Desde o casamento com
Maria até ao episódio de Jesus, aos doze anos, no templo de Jerusalém,
acompanha com solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de Maria, sua
esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difíceis da vida, na ida a
Belém para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento
dramático da fuga para o Egipto e na busca preocupada do filho no templo; e
depois na vida quotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria onde ensinou o
ofício a Jesus.
Como vive José a sua vocação de guardião de
Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus
sinais, disponível mais ao projecto d’Ele que ao seu. E isto mesmo é o que Deus
pede a David, como ouvimos na primeira Leitura: Deus não deseja uma casa
construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu desígnio; e
é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu
Espírito. E José é «guardião», porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela
sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que
lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento
àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. Nele, queridos amigos,
vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas
vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na
nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!
Entretanto a vocação de guardião não diz
respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é
simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a
beleza da criação, como se diz no livro de Génesis e nos mostrou São Francisco
de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde
vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma,
especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que
muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na
família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos
filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos
pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na
intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda
do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões
dos dons de Deus!
E quando o homem falha nesta
responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra
lugar a destruição e o coração fica ressequido. Infelizmente, em cada época da
história, existem «Herodes» que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam
o rosto do homem e da mulher.
Queria pedir, por favor, a quantos ocupam
cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os
homens e mulheres de boa vontade: sejamos «guardiões» da criação, do desígnio
de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que
sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para
«guardar», devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a
inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos
sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as
más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade,
ou mesmo de ternura.
A propósito, deixai-me acrescentar mais uma
observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura.
Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador,
mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos
fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude,
de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da
bondade, da ternura!
Hoje, juntamente com a festa de São José,
celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que
inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de
que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se
o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas.
Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa,
para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu
vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de
fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e
acolher, com afecto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais
pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no
Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu,
doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que
servem com amor capaz de proteger.
Na segunda Leitura, São Paulo fala de
Abraão, que acreditou «com uma esperança, para além do que se podia esperar» (Rm
4, 18). Com uma esperança, para além do que se podia esperar! Também hoje,
perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da
esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e
cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança,
é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!
E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança
que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada
sobre a rocha que é Deus.
Guardar Jesus com Maria, guardar a criação
inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós
mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o
qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança:
Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!
Peço a intercessão da Virgem Maria, de São
José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo
acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim! Amen.
Homilia do papa Francisco durante Missa na paróquia de Santa Ana
Como é belo isto: primeiro, Jesus a sós na
montanha, rezando. Orava sozinho (cf. Jo 8,1). Depois, ele voltou para o templo
e todo o povo foi até ele (cf. vers. 2). Jesus em meio ao povo. No fim, eles o
deixaram sozinho com a mulher (cf. vers. 9). A solidão de Jesus! Mas uma
solidão fecunda: a solidão da oração com o Pai e a solidão, tão bela, e que é
justamente a mensagem de hoje da Igreja, da sua misericórdia para com aquela
mulher.
Também há uma diferença
no meio do povo: havia todas aquelas pessoas que iam até ele; ele se sentou e
começou a ensinar. O povo que queria ouvir as palavras de Jesus, o povo de
coração aberto, necessitado da Palavra de Deus. E havia outros que não ouviam nada,
que não podiam ouvir; e eram aqueles que tinham ido até ali com aquela mulher:
“Mestre, esta é uma tal, uma qual... Temos que fazer o que Moisés mandou fazer
com essas mulheres” (cf. vv. 4-5).
Nós também, acredito, somos um povo que,
por um lado, quer escutar Jesus, mas, por outro, às vezes gosta de bater nos
outros, de condenar os outros. A mensagem de Jesus é esta: a misericórdia. Para
mim, e eu digo isso com humildade, é a mensagem mais forte de Nosso Senhor: a
misericórdia. Ele mesmo disse: eu não vim para os justos; os justos se
justificam sozinhos. Senhor bendito, se tu podes fazer, faz, porque eu não
posso! Mas eles acreditam que podem fazê-lo. Eu vim para os pecadores (cf. Mc
2,17).
Pensem naquela conversa depois do chamado
de Mateus: “Mas ele anda com os pecadores!” (cf. Mc 2, 16). E ele veio para
nós, quando reconhecemos que somos pecadores. Mas se nós somos como aquele
fariseu, diante do altar: “Obrigado, Senhor, porque eu não sou como todos os
outros homens, nem como aquele que está à porta, como aquele publicano” (cf. Lc
18,11-12), então nós não conhecemos o coração do Senhor e nunca teremos a
alegria de sentir esta misericórdia! Não é fácil confiar-se à misericórdia de
Deus, porque ela é um abismo incompreensível. Mas temos que nos confiar! “Ah,
padre, se o senhor conhecesse a minha vida, não diria isso”. “Por quê? O que
você fez?”. “Ah, eu fiz tantas coisas graves”. “Melhor! Vá até Jesus. Ele gosta
quando você lhe conta essas coisas”. Ele esquece, ele tem uma capacidade de
esquecer, especial. Ele esquece, te beija, te abraça e te diz apenas: “Nem eu
te condeno. Vai, e de agora em diante, não peques mais” (Jo 8, 11). Ele só nos
dá esse conselho. Depois de um mês, já estamos de novo nas mesmas condições...
Voltemos para o Senhor. O Senhor nunca se cansa de perdoar, nunca! Somos nós
que nos cansamos de pedir perdão a ele. E peçamos a graça de nunca nos
cansarmos de pedir perdão, porque ele nunca se cansa de perdoar. Peçamos esta
graça.
Palavras no final da Santa Missa
Alguns de vocês, aqui, não são paroquianos, como estes padres argentinos que
estão aqui, e o meu bispo auxiliar, que por hoje serão paroquianos. Mas eu
quero lhes apresentar um padre que veio de longe, que trabalha com os jovens da
rua, com os usuários dependentes de drogas. Ele fez uma escola para eles,
realizou muitas coisas para que eles conheçam Jesus. E todos aqueles jovens de
rua agora trabalham, estudam, têm capacidade de trabalho, acreditam e amam
Jesus. Gonzalo, por favor, venha saudar as pessoas. Rezem por ele. Ele trabalha
no Uruguai, é o fundador do liceu João Paulo II e faz esse trabalho. Eu não sei
como ele chegou aqui hoje. Depois vou saber. Obrigado. Rezem por ele.
A visita a Santa
Maria Maior, a etapa na Casa do Clero: tudo em nome de um estilo
decididamente informal.
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicado no sítio Vatican
Insider, 14-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O seu primeiro dia como
Papa Franciscocomeçou
cedo, pouco depois das 8 horas, com a visita – prometida na quarta-feira à
noite durante o seu primeiro discurso público – à basílica mariana de Santa
Maria Maior.
A visita logo foi uma oportunidade para continuar definindo o seu estilo papal
em nome da simplicidade: Francisco chegou à basílica em um
carro da Gendarmeria Vaticana, sem ser acompanhado por um longo
cortejo de carros. Com ele estava, dentre outros, Dom Georg Gänswein,
prefeito da Casa Pontifícia, ao lado do novo pontífice, como exigido
pelo seu cargo.
A visita do Papa Bergoglio a Santa Maria Maior foi
privada – explicou o porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi,
durante o seu encontro diário com os jornalistas – em um lugar particularmente
significativo para os jesuítas: abaixo do ícone de Maria "Salus
Populi Romani", conservada na capela Borghese, diante do
qual ele parou por cerca de dez minutos em oração silenciosa, a Basílica
do Esquilino também hospeda o altar em que Santo Inácio de
Loyola, o fundador dos jesuítas, celebrou a sua primeira missa.
Na basílica, Francisco também parou brevemente em oração
diante do altar-mor, onde, segundo a tradição, está conservado um fragmento da
manjedoura onde foi deposto o menino Jesus, e em frente ao túmulo de São
Pio V, na Capela Sistina.
No caminho de volta, o neopapa pediu que o motorista fizesse uma mudança de percurso: Francisco quis
parar na Casa do Clero, na Via della Scrofa, onde estivera hospedado
nas semanas anteriores ao conclave. O Papa Bergoglio voltou
para retirar as suas coisas e cumprimentar a equipe pessoalmente. E, antes de
ir embora, para o espanto dos funcionários da Prefeitura da Casa
Pontifícia, também pediu para pagar a conta – "para dar o bom
exemplo", disse o padre Lombardi.
O estilo informal e direta do novo pontífice certamente provocará muitos
problemas para os homens da Gendarmaria Vaticana encarregados
pela sua segurança. Mas, lembrou o porta-voz vaticano, "os responsáveis
pela segurança estão a serviço do papa e eles sabem disso. Eles tentam
interpretar o que o papa quer e adaptar o seu estilo ao estilo pessoal dele –
na consciência de que não são eles que ditam o jogo, mas sim o papa".
Um estilo que parece surgir a partir de muitos dos detalhes nessas horas. Nessa
quarta-feira, contou Lombardi, o Papa Francisco "aceitou
a obediência dos cardeais em pé", sem utilizar o pequeno trono branco
sobre-elevado que havia sido preparado para ele. Ou o porta-voz apontou para a
atenção ao hábito muito simples, sem capa, usado durante a bênção Urbi et
Orbi de quarta-feira à noite, com uma simples cruz de metal no
pescoço, não de ouro e sem ornamentos, recebida ainda antes de se tornar bispo.
Também o fato de "ter querido o Vigário de Roma ao seu
lado é um aspecto novo, para fazer referência particular ao povo de Roma",
acrescentou Lombardi, até o gesto de pedir que os fiéis rezassem
sobre ele antes de dar a bênção.
O porta-voz vaticano também contou um episódio que ocorreu na quarta-feira, ao
término da sua primeira aparição pública: Francisco quis voltar para Santa
Marta com o micro-ônibus, junto com os outros cardeais, sem utilizar o
carro oficial com a placa "SCV 1", que havia sido preparado para ele.
"Que Deus lhes perdoe", disse Bergoglio, depois de jantar
com os cardeais.
Na manhã dessa quinta-feira, retornando ao Vaticano, o novo papa se
encontrou com alguns colaboradores em Santa Marta e começou a
organizar o seu novo "trabalho". À tarde, na Capela Sistina,
a missa com os cardeais eleitores – onde fez o seu primeiro discurso "de
improviso" – e a ruptura dos selos do Apartamento pontifício, onde ele
entrará daqui a poucos dias, depois de poucos mas essenciais trabalhos de
reestruturação. Sempre, já é possível imaginar, em nome da sobriedade.