segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Artigo Pe. Luís Gonzaga Bolinelli - Novembro - 2014



Acolher Jesus no Próximo



O verdadeiro discípulo missionário é aquele que acolhe totalmente Jesus Cristo em sua vida. Isso quer dizer que Jesus Cristo é assumido como a principal referência para todas as atitudes e decisões do dia a dia. Tudo o que Ele ensinou e também o seu modo concreto de agir e de se relacionar com as pessoas são acolhidos e vividos por quem quer ser um autêntico cristão. No entanto, é necessário que essa acolhida seja renovada continuamente para que não fique desgastada ou caia num comodismo intimista que busca somente sua própria satisfação em vez do renovado ânimo para a missão.
A decisão de acolher Jesus tem seu fundamento principal no Batismo e implica um dinamismo de contínua busca e encontro com o Senhor da Vida. Normalmente e necessariamente, temos que buscar Jesus na Leitura Orante da Palavra de Deus, na Celebração Eucarística, nos muitos momentos de oração e na vida fraterna em Comunidade. Todavia, é necessário tomar cuidado para não cair na atraente tentação do devocionismo estéril, que leva a um progressivo afastamento das pessoas para poder estar mais tempo junto de Deus... Sobre isso, sabiamente o Papa Francisco nos orienta na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade. Sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, tornamo-nos fracos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor se apaga. (...) Ao mesmo tempo, há que rejeitar a tentação de uma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se harmoniza com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação. Há o risco de que alguns momentos de oração se tornem uma desculpa para evitar dedicar a vida à missão, porque a privatização do estilo de vida pode levar os cristãos a refugiarem-se em alguma falsa espiritualidade” (EG 262)
Na realidade, a fé cristã nos coloca diante de um grande desafio: acolher Jesus Cristo no próximo, principalmente nos mais necessitados! Para Jesus o próximo é sempre quem nos desconcerta: é aquele a quem temos que perdoar, pois fez algo grave contra nós; é aquele que nos perturba quando queremos saborear o sossego de uma fé tranquila; é aquele que tem necessidades básicas para sobreviver e vem pedir socorro justamente para nós que já resolvemos nossos problemas de subsistência; é aquele que, de alguma forma, nos obriga a nos desinstalarmos do comodismo no qual já tínhamos organizado a vivência de nossa fé...
No dia do encontro definitivo com Jesus, na casa do Pai, será a vez dele nos acolher. E seremos acolhidos exatamente da mesma forma com a qual soubemos acolhe-lo aqui nesta realidade terrena. As horas que passamos rezando, meditando a Palavra de Deus, indo à Missa ou fazendo Adorações ao Santíssimo não serão contabilizadas, pois são necessidades de fortalecimento e celebração da fé. Precisamos fazer tudo isso, para darmos conta de realizar nossa missão. Afinal, o que vai contar mesmo, é o tempo que nos dedicamos ao encontro real com Jesus naqueles com os quais ele se identificou: nos pobres, marginalizados, excluídos, perseguidos, descartados, ignorados por essa sociedade que ainda não assumiu Deus e seu plano de salvação a todas as suas amadas criaturas.
Por isso mesmo, nossa catequese ou trabalho evangelizador deve sempre conduzir as pessoas ao verdadeiro encontro com Jesus, concretizado no amor às pessoas enquanto “força espiritual que favorece o encontro em plenitude com Deus (... Pois) quando vivemos a mística de nos aproximar dos outros com a intenção de procurar o seu bem, ampliamos o nosso interior para receber os mais belos dons do Senhor. Cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus. Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer a Deus. Em consequência disto, se queremos crescer na vida espiritual, não podemos renunciar a ser missionários. (...) Só pode ser missionário quem se sente bem procurando o bem do próximo, desejando a felicidade do outro. (EG 272).

Aprofundamento a partir da Palavra de Deus: Com a Festa de Cristo Rei, encerra-se o Ano Litúrgico e desta vez somos convocados a refletir sobre o texto bíblico: Mt 25,31-46. Convido você a lê-lo com calma, prestar atenção e responder: Com qual frequência procuro renovar meu encontro pessoal com Jesus? Até que ponto minha vida de oração me leva a me encontrar com Jesus no próximo? Qual é o próximo que acolho com mais satisfação e qual o que encontro mais resistência para acolher? Essa dimensão social, de acolhida do próximo necessitado, está amplamente presente no meu trabalho catequético ou fico preocupado somente com a dimensão litúrgico-sacramental?

Pe. Luís Gonzaga Bolinelli – Assistente Eclesiástico da Comissão AB-C

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