sábado, 14 de julho de 2018

A paróquia e a inspiração catecumenal: rezar, ensinar e testemunhar.


A Iniciação à Vida Cristã com inspiração catecumenal não é uma tarefa apenas para a catequese. Muito embora ouve-se dizer que “a catequese mudou”, a Iniciação à Vida Cristã que tem o catecumenato como inspiração, traz à vida da paróquia, e por extensão da diocese, uma dinâmica nova.
Tal dinâmica é a mesma que antes era a base e a razão de ser da Igreja nascente: o catecumenato, conhecido como uma instituição, isto é, uma estrutura de Igreja com etapas de introdução, formação e apresentação dos novos membros da comunidade de fé. Ao final do processo, completados os ritos e formações, as pessoas até então candidatas, tornavam-se iniciadas na fé. 
Assim, por analogia, a Igreja nascente possuía apenas o Catecumenato. Hoje, enfrentamos o desafio de organizar e manter viva uma Igreja com inúmeras pastorais, movimentos, associações e setores, criando diversas estruturas, multiplicando serviços e títulos, podendo dificultar a experiência iniciática da fé e subtrair a mística dos ritos e símbolos, tão caros para a educação da fé dos candidatos aos sacramentos da iniciação cristã.
Estamos falando de modelos de ser Igreja. Estamos falando de nova eclesiologia. O Documento 107 da CNBB exorta: “Há necessidade de envolver a comunidade inteira no processo da Iniciação à Vida Cristã e na formação continuada dos fiéis. A atual mudança de época exige que o anúncio de Jesus Cristo seja explicitado continuamente e que os processos de iniciação, inspirados na tradição catecumenal, sejam assumidos de modo criativo e adequado; [...] Não se trata, porém, de uma pastoral a mais, e sim de um eixo central e unificador de toa a ação evangelizadora e pastoral” (Doc 107, 75-76). 
Da inspiração catecumenal presente na Iniciação à Vida Cristã, deverá surgir nova eclesiologia, ou não será cumprido o desejo de refletir e promover a Igreja: casa da iniciação à vida cristã. Orienta-se que a Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal seja a articuladora das urgências na ação evangelizadora (cf. Doc 107, 63-64). É urgente manter a maturidade para investir na conversão das atuais estruturas das comunidades, promovendo estudos, reflexões e atitudes concretas de mudança, sem burocracia, mas com o frescor original que brota do Evangelho, como nos inspira o papa Francisco: “Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual. Na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre ‘nova’” (EG 11). 
A inspiração para a paróquia que busca organizar suas comissões de Iniciação à Vida Cristã, pode partir da catequese de Paulo com os cristãos da comunidade de Coríntios: “Quando vocês estão reunidos, cada um pode entoar um canto, dar um ensinamento ou revelação, falar em línguas ou interpretá-las. Porém que tudo seja feito para edificação de todos” (1Cor 14,26). 
Essas palavras precisam ser lidas e entendidas no contexto de todo o capítulo 14 e do tema da nova eclesiologia suscitada pela inspiração catecumenal. Trata-se da plena participação de todos os membros dos encontros e reuniões da comunidade. Em especial, nos Conselhos Pastorais, instância de comunhão e participação, que tem o poder decisório sobre as atividades missionárias da comunidade. Infelizmente, por vezes, decidindo apenas em dimensões financeiras. 
Com a inspiração do texto de Paulo, voltemos ao Documento 107 que insiste e repete na novidade da inspiração catecumenal, afirmando que a comunidade é o lugar e a responsável pela Iniciação à Vida Cristã: “É impossível crer sozinho Deve haver uma unidade no meio da diversidade dos sentimentos e estilos de cada um. [...] O processo de Iniciação à vida Cristã incide sobre a conversão da comunidade de comunidades missionárias” (Doc 107, 225-226). 
À luz da Carta aos Coríntios e das inspirações do Documento 107, podemos resumir a eclesiologia da nova Paróquia que caminha para renovação de sua estrutura, com inspiração catecumenal, em:
a) Rezar. “Cada um pode entoar um canto”, isto é, nosso múnus sacerdotal, como herança batismal, nos permite investir em liturgias verdadeiramente mistagógicas, conduzindo ao encantamento pelo Cristo que é cantado, rezado e celebrado em nossas liturgias. Rezar uns pelos outros é sinal de unidade, bem-querer, afeto de Igreja-Mãe.
b) Ensinar. “Dar um ensinamento ou revelação”, ou seja, o múnus da profecia colocado à disposição da comunidade. Profecia que alimenta-se do querigma: o Crucificado-Ressuscitado. Infelizmente, a catequese tomou o rumo sacramentalista, e as estruturas da Igreja (pastorais, movimentos, associações e organismos) dispensam pouca atenção à catequese continuada e permanente. O ensino, na inspiração catecumenal, tem a prerrogativa de partir da Palavra de Deus, e não ensinar apenas a doutrina, mas instruir para o mistério de Cristo, os valores evangélicos e o compromisso missionário.
c) Testemunhar. “Que tudo seja para a edificação de todos” significa dar a devida atenção ao múnus pastoral/régio do Batismo. A escuta da Palavra de Deus (rezar) e o ensino da comunidade culmina em ação concreta. O testemunho da fé passa pela reinterpretação do dízimo da comunidade e seu tríplice destino. A edificação comum da comunidade exige renúncias e preferências.
As contribuições da inspiração catecumenal são muitas. E todas remetem a um mesmo objetivo: tornar as comunidades cristãs de nossos tempos um pouco mais parecidas com as comunidades da Igreja nascente. Por isso, tratam-se de inspirações, com métodos semelhantes e pessoas em tempos diferentes.
O que permanece é o Evangelho.
Ariél Philippi Machado 

http://www.catequesedobrasil.org.br/noticia/a-paroquia-e-a-inspiracao-catecumenal-rezar-ensinar-e-testemunhar

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