A
Iniciação à Vida Cristã com inspiração catecumenal não é uma tarefa apenas para
a catequese. Muito embora ouve-se dizer que “a catequese mudou”, a Iniciação à
Vida Cristã que tem o catecumenato como inspiração, traz à vida da paróquia, e
por extensão da diocese, uma dinâmica nova.
Tal dinâmica é a
mesma que antes era a base e a razão de ser da Igreja nascente: o catecumenato,
conhecido como uma instituição, isto é, uma estrutura de Igreja com etapas de
introdução, formação e apresentação dos novos membros da comunidade de fé. Ao final
do processo, completados os ritos e formações, as pessoas até então candidatas,
tornavam-se iniciadas na fé.
Assim, por analogia,
a Igreja nascente possuía apenas o Catecumenato. Hoje, enfrentamos o desafio de
organizar e manter viva uma Igreja com inúmeras pastorais, movimentos,
associações e setores, criando diversas estruturas, multiplicando serviços e
títulos, podendo dificultar a experiência iniciática da fé e subtrair a mística
dos ritos e símbolos, tão caros para a educação da fé dos candidatos aos
sacramentos da iniciação cristã.
Estamos
falando de modelos de ser Igreja. Estamos falando de nova eclesiologia. O
Documento 107 da CNBB exorta: “Há necessidade de envolver a
comunidade inteira no processo da Iniciação à Vida Cristã e na formação continuada
dos fiéis. A atual mudança de época exige que o anúncio de Jesus Cristo seja
explicitado continuamente e que os processos de iniciação, inspirados na
tradição catecumenal, sejam assumidos de modo criativo e adequado; [...] Não se
trata, porém, de uma pastoral a mais, e sim de um eixo central e unificador de
toa a ação evangelizadora e pastoral” (Doc 107, 75-76).
Da
inspiração catecumenal presente na Iniciação à Vida Cristã, deverá surgir nova
eclesiologia, ou não será cumprido o desejo de refletir e promover a Igreja:
casa da iniciação à vida cristã. Orienta-se que a Iniciação à Vida Cristã de
inspiração catecumenal seja a articuladora das urgências na ação evangelizadora
(cf. Doc 107, 63-64). É urgente manter a maturidade para investir na conversão das
atuais estruturas das comunidades, promovendo estudos, reflexões e atitudes
concretas de mudança, sem burocracia, mas com o frescor original que brota do
Evangelho, como nos inspira o papa Francisco: “Sempre que procuramos voltar à
fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas,
métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras
cheias de renovado significado para o mundo atual. Na realidade, toda a ação
evangelizadora autêntica é sempre ‘nova’” (EG 11).
A
inspiração para a paróquia que busca organizar suas comissões de Iniciação à
Vida Cristã, pode partir da catequese de Paulo com os cristãos da comunidade de
Coríntios: “Quando vocês estão reunidos, cada um pode entoar
um canto, dar um ensinamento ou revelação, falar em línguas ou interpretá-las.
Porém que tudo seja feito para edificação de todos” (1Cor
14,26).
Essas palavras
precisam ser lidas e entendidas no contexto de todo o capítulo 14 e do tema da
nova eclesiologia suscitada pela inspiração catecumenal. Trata-se da plena
participação de todos os membros dos encontros e reuniões da comunidade. Em
especial, nos Conselhos Pastorais, instância de comunhão e participação, que
tem o poder decisório sobre as atividades missionárias da comunidade. Infelizmente,
por vezes, decidindo apenas em dimensões financeiras.
Com
a inspiração do texto de Paulo, voltemos ao Documento 107 que insiste e repete
na novidade da inspiração catecumenal, afirmando que a comunidade é o lugar e a
responsável pela Iniciação à Vida Cristã: “É impossível crer sozinho Deve
haver uma unidade no meio da diversidade dos sentimentos e estilos de cada um.
[...] O processo de Iniciação à vida Cristã incide sobre a conversão da
comunidade de comunidades missionárias” (Doc 107, 225-226).
À luz da Carta aos
Coríntios e das inspirações do Documento 107, podemos resumir a eclesiologia da
nova Paróquia que caminha para renovação de sua estrutura, com inspiração
catecumenal, em:
a) Rezar.
“Cada um pode entoar um canto”, isto é, nosso múnus sacerdotal, como herança
batismal, nos permite investir em liturgias verdadeiramente mistagógicas,
conduzindo ao encantamento pelo Cristo que é cantado, rezado e celebrado em
nossas liturgias. Rezar uns pelos outros é sinal de unidade, bem-querer, afeto de
Igreja-Mãe.
b) Ensinar.
“Dar um ensinamento ou revelação”, ou seja, o múnus da profecia colocado à
disposição da comunidade. Profecia que alimenta-se do querigma: o
Crucificado-Ressuscitado. Infelizmente, a catequese tomou o rumo
sacramentalista, e as estruturas da Igreja (pastorais, movimentos, associações
e organismos) dispensam pouca atenção à catequese continuada e permanente. O
ensino, na inspiração catecumenal, tem a prerrogativa de partir da Palavra de
Deus, e não ensinar apenas a doutrina, mas instruir para o mistério de Cristo,
os valores evangélicos e o compromisso missionário.
c) Testemunhar.
“Que tudo seja para a edificação de todos” significa dar a devida atenção ao
múnus pastoral/régio do Batismo. A escuta da Palavra de Deus (rezar) e o ensino
da comunidade culmina em ação concreta. O testemunho da fé passa pela
reinterpretação do dízimo da comunidade e seu tríplice destino. A edificação
comum da comunidade exige renúncias e preferências.
As contribuições da
inspiração catecumenal são muitas. E todas remetem a um mesmo objetivo: tornar
as comunidades cristãs de nossos tempos um pouco mais parecidas com as
comunidades da Igreja nascente. Por isso, tratam-se de inspirações, com métodos
semelhantes e pessoas em tempos diferentes.
O que permanece é o
Evangelho.
Ariél Philippi Machado
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