terça-feira, 23 de outubro de 2012


Notícias do Sínodo dos Bispos 10 - Pe. Lima
O IMPORTANTE RELATÓRIO APÓS AS DISCUSSÕES


Completo a crônica de ontem com 3 dados. Foi lida na abertura de uma sessão da manhã a mensagem de Dom Lucas Li, bispo chinês, já bastante idoso, que ficou 20 anos na prisão pelo regime comunista, por causa de sua fidelidade à Igreja e ao Papa. A mensagem que transpirava grande fé e amor à Igreja estava escrita em simples, mas perfeito latim.
Aqui recebemos muitos livros, folhetos, coleções, convites para diversos eventos... Será um problema colocar tudo isso na mala, ao voltar, além da grande quantidade de papel com os textos oficiais que recebemos. Um livro que alegrou muito os latino-americanos ontem, foi o Documento de Aparecida traduzido em italiano. Assim, muita gente que não tem acesso ao castelhano ou português, poderá entrar em contato com nossa Igreja continental, sempre muito apreciada pela sua vivacidade, articulação e projetos pastorais.
Escrevendo ontem, pela segunda vez, a respeito da polêmica ao redor de um filme sobre o avanço do Islamismo, me auto-censurei diante da chamada de atenção de alguns sobre o "vazamento de informações do Sínodo". Mas hoje, lendo o noticiário Zenit (da Opus Dei) encontrei lá a maioria das informações que estavam no trecho censurado... e os jornais italianos hoje estão falando abertamente... Então resolvi transcrever agora o que havia escrito ontem: "Ainda na sessão de ontem, no momento do debate livre, o Card. Arcebispo de Paris, D. André Vingt-Trois protestou contra a projeção do filme sobre o islamismo, chamando-o de inoportuno, alheio ao debate sinodal e com dados falsos, pelo menos com relação à França (seu país), e sem citar fontes fidedignas. Argumentou que a evolução das civilizações possuem fatores muito mais complexos do que as apresentadas no vídeo, qualificando-o de maniqueísta e extremista. O Secretário Geral, D. Nikola Eterovic, logo acrescentou que a projeção não era oficial e que cada um responde pelo que diz ou propõe. Mas a seguir, o cardeal D. Joachim Meisner, arcebispo de Colônia, disse que o vídeo não está tão errado assim, uma vez que tal ameaça é real e os dados referentes à Alemanha procedem. Defendeu a família cristã e sua teologia, pois não pode haver família em base à ideologia. Por sua vez, o Card. Kodwo Appiah Turkson, que preside o Pontifício Conselho para a Justiça e Paz explicou que a iniciativa da projeção do vídeo foi dele e a intenção era falar do problema da diminuição das famílias, sem nenhuma intenção de provocar polêmicas. Hoje comentou-se que em algum jornal italiano os dados do filmes foram considerados inexatos e de conteúdo alarmista".
Falando do dia de hoje, ouvimos entre manhã e tarde, mais 52 discursos. O Card. Marc Ouellet, da Congregação para os bispos, fez um duro pronunciamento criticando setores da Vida Consagrada que não acatam o Magistério Eclesial, tomando posições contrárias ao ensinamento da Igreja. Visava, certamente, algumas religiosas dos EUA e de outras regiões, com posturas feministas, ou religiosos que vão na mesma linha. Ele apelou para o documento Mutuae Relationes, que trata justamente das relações entre os religiosos e a Jerarquia da Igreja. Nesse documento, de João Paulo II, muito trabalhou o então Reitor Mor dos Salesianos, Pe. Egídio Viganó.
Uma vibrante intervenção foi feita por Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana (MG) sobre a dimensão evangelizadora da Liturgia. Falou da "arte de celebrar", da importância da homilia, dos ritos que comunicam o mistério e sobre o papel mistagógico da Liturgia, ou seja, os ritos, bem celebrados, por si só são uma catequese através dos sinais que favorecem à educação da fé.
Hoje, finalmente, a palavra foi dada a algumas mulheres que participam na condição de auditrices (ouvintes), como a Soror Mary Lou Wirtz, presidente da união das superioras gerais, Sra. Maria Voce, superiora geral dos focolarinos, sucessora de Chiara Lubich, a Ir. Maria Antonieta Bruscato, Provincial das Irmãs Paulinas (brasileira) e Lydia Jiménez González, fundadora das Cruzadas de Santa Maria. Também foi dado a palavras a alguns leigos, o mais conhecido é Francisco José Gomes (Kiko) Argüellos Wirtz, fundador do Neocatecumenato, e outros, como o sr. Miguel Roy, presidente da Charitas Internacional, e Zoltán Kumzabó, diácono permanente da Arquidiocese de Budapeste.
Entretanto, o acontecimento mais importante do dia, foi no início da tarde. O Papa esteve presente, prestigiando o grande momento. O Relator Geral, Card. Ronald William Wuerl, arcebispo de Whasington, leu a chamada Relatio post disceptationem, ou seja: Relação após as discussões. Na verdade, as últimas discussões (ou discursos...), tinham sido no final da manhã, e logo às 16h30 todos nós, os 400 participantes, recebemos um belo livro com o texto do discurso impresso, muito bem diagramado e... em latim! Essa peça, de grande importância na dinâmica do Sínodo, foi escrita com a colaboração de nós peritos ou especialistas. Cada perito escreveu na sua própria língua e a redação final foi feita em inglês, pois o Relator Geral é americano, auxiliado também pelo Secretário Especial, D. Pierre Marie Carré, Arcebispo de Montpellier (França).
Entretanto o texto estava num latim, da melhor cepa clássica e consequentemente, bastante difícil. Confesso que tive dificuldades de entender certas palavras e construções rebuscadas... se tivesse sido redigido num latim eclesiástico, como aliás foi sugerido em Assembleia, teria sido muito mais fácil... Mas, junto com o texto latino, veio impresso também, na mesma brochura, a versão em inglês (que certamente é a versão original, vertida depois para o latim). Além disso, havia tradução simultânea em quatro línguas (italiano, espanhol, francês e alemão). A manutenção de tal formalidade literária não ajudou em nada... e foi criticada por muitos.
O grande texto tem como título o mesmo tema do Sínodo: Nova Evangelizatio ad Christianam Fidem Tradendam. Ele procura fazer uma grande síntese de tudo o que foi falado ao longo dos quase 300 discursos desses dias ou enviado por escrito para a Secretaria Geral. O texto foi lido pausadamente com sotaque americano, durante uma hora. Está articulado em quatro partes, com uma introdução ("Sereis minhas testemunhas") e uma conclusão de três parágrafos. As quatro partes são: 1. A natureza da Nova Evangelização; 2. O contexto atual do Ministério da Igreja; 3. As respostas pastorais às atuais circunstâncias e 4. Agentes e participantes da Nova Evangelização.
Cada parte é constituída de uma exposição inicial seguidas de algumas perguntas bastante longas. A parte que possui mais perguntas é a terceira (que é o núcleo do documento), com 6 extensas questões.
Uma hora após o término da leitura do texto, ele já se encontrava na Internet, no site já conhecido: http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog onde poderá ser lido em castelhano.
Amanhã irei expor o conteúdo desse documento e algumas reações que, logo a seguir, foram manifestadas por 15 oradores. Por agora basta dizer que, em base a esse documento e às questões por ele levantadas, os 12 Circuli Minores (grupos menores... o meu tem mais de 40 participantes) farão o trabalho final de redigir as 50 proposições, que naturalmente passarão ainda por discussões e aprovação em Assembleia Geral, e entregues ao Papa que, com os Lineamenta, o Instrumento de Trabalho e estas 50 proposição, irá elaborar e publicar uma Exortação Apostólica referente ao tema.

Roma, 16 de Outubro de 2012
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

 

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