Notícias do Sínodo dos Bispos 06 - Pe. Lima
HOJE FALOU O SUPERIOR GERAL DOS SALESIANOS
Hoje, solenidade
de Na. Sa. Aparecida, o dia prometia ser também diferente, e o foi. Para os espanhóis
é dia de Na. Sa. do Pilar e para todos os de fala castelhana, é dia da hispanidad em vista da descoberta da
América, por parte de Cristóvão Colombo, nesse dia. A três datas foram
lembradas em público. No Colégio Pio Brasileiro houve a tradicional Missa e Festa
de Na. Sa. Aparecida, onde, em geral, comparecem todos brasileiros ligados à
Igreja que estudam ou residem em Roma, como também outros. Mas nós,
participantes do Sínodo, não pudemos ir por causa dos trabalhos sinodais.
Das 09h30 às
12h00 houve mais uma longa sessão de discursos, ao todo 25. Falaram personagens
bastante conhecidas como o prelado da Opus
Dei (J. Echeverria), Dom G. Ravasi, do Pontifício Conselho para a Cultura).
Foi um dia também salesiano, pois falaram dois bispos nossos irmãos de Congregação
e o Reitor Mor.
Uma pensamento
que já foi bastante acentuado e que retornou hoje foi: a Nova Evangelização deve começar pela conversão dos Bispos, dos
Sacerdotes, dos Religiosos... e nessa linha se coloca a revalorização do
Sacramento da Penitência e a renovação da vida espiritual.
Bispos do Leste
Europeu (ex países comunistas), mas também de outras partes, insistiram que o
guardião da fé em muitos lugares é a família, principalmente em época de
perseguição ou de "desertificação espiritual", como afirmou ontem
Bento XV. Alguns apresentaram experiências em que toda paróquia gira em torno
da Pastoral Familiar e a evangelização, ou início de evangelização, se faz pela
Pastoral da Visitação, às vezes de porta em porta. Bispos da África, como também
da América Latina, sublinharam e defenderam muito as pequenas comunidades, com
meio de sustentar a fé do nosso povo.
Sobre elementos
que caracterizam o sacerdócio ministerial estão: seu lugar específico na
Igreja, sua origem sobrenatural e sacramental e sua ligação essencial com a
Eucaristia; o celibato, por sua vez, está ligado à identidade cristológica e
possui um grande valor de testemunho.
Outro tema que
nos dias passados, como hoje também aflorou com ênfase, foi o diálogo
intercultural e interreligioso. Isso interessa muito às jovens igrejas da Ásia
e África, que vivem num ambiente hostil, por vezes de martírio, e encontram no
diálogo interreligioso, como minoria, um meio de ter espaço na sociedade e
poder afirmar a própria fé. Já fiz referência às grandes dificuldades de
minorias cristãs diante do fundamentalismo e fanatismo religioso islâmico.
Alguns chegaram a dizer que nem aqui, num ambiente extremamente seguro e
fraterno, longe daqueles territórios de perseguição, eles têm coragem de falar
a verdade como ela é; temem a represália.
Mas também o
diálogo ecumênico não é fácil. Em parte nós sentimos isso com igrejas cristãs
que professam a mesma fé aqui no ocidente. Mas, no oriente o confronte com a igreja
ortodoxa é também, em muitos casos, extremamente difícil. Um bispo da Romênia
me dizia, por exemplo, que já há ortodoxos que negam poder rezar juntos o mesmo
Pai Nosso...
O Bispo
Salesiano, Dom Enrique Covolo, que esteve no Centro Unisal Pio XI (São Paulo)
no mês de julho, desenvolveu o tema da evangelização nas Escolas e
Universidades. Além da secularização do ensino básico, médio e superior, a
tendência dos estados modernos é de domesticar também as universidades
católicas, submetendo-as ao rigor e controle das leis acadêmicas, privando tais
institutos da liberdade que sempre tiveram; e denunciou o perigo que temos de,
em vista de obter um título civil, renunciarmos a currículos específicos de
nossa formação católica ou mesmo à influência do evangelho na cultura
acadêmica.
O problema da linguagem na evangelização voltou com a
intervenção de dom Gianfranco Ravasi. A nova
evangelização precisa adotar os novos cânones da comunicação telemática e
digital, e aprender dela a essencialidade, a brevidade e o recurso à imagem.
Elogiou a iniciativa do "Pátio dos Gentios" promovido por Bento XVI.
Fez referência ao mundo da arte, da cultura
juvenil, das ciências e da técnica. "Não devemos ter medo de penetrar
o mundo da ciência e da técnica, com o olhar sempre em Jesus que contemplava o
mundo vegetal e animal e recorria até às previsões meteorológicas (cf Mt 16, 2-3) para anunciar o Reino de
Deus".
O Pe. Pascual
Chávez, Superior Geral dos Salesianos, cuja fala já havia sido anunciada ontem,
intitulou-a assim: "Vinde e vede: a urgência de encaminhar e favorecer uma
cultura vocacional na Igreja".
Chamou a atenção para a centralidade das
vocações no projeto da Nova Evangelização, pois são dois elementos
inseparáveis. Mais do que "vocação", devemos cultivar uma cultura vocacional, isto é, "um
modo de afrontar e conceber a vida como dom recebido gratuitamente de Deus para
um projeto ou uma missão conforme o seu desígnio". Nesse contexto é que se
deve propor aos jovens os diversos caminhos vocacionais: matrimônio, vida
religiosa ou consagrada, serviço sacerdotal, empenho social e eclesial, e
acompanhá-los no trabalho de discernimento e de escolha.
Pe. Pascual
sugeriu que o Sínodo ajude todos os pastores a serem verdadeiros guias
espirituais para os jovens. Propôs, ao final, quatro linhas de ação: 1.
Favorecer um ambiente ou cultura em que a vocação do jovem possa germinar e
desenvolver-se; 2. Acompanhamento espiritual; 3. Intenso amor pela Igreja e 4.
Educar para a oração pessoal.
Nessa grande
"chuva de idéias" durante essa primeira, muitos outros temas foram
abordados e aprofundados. Há uma sensação de que o Sínodo está um pouco
disperso e genérico em sua impostação. Mas o pessoal que tem experiência de
outros Sínodos (há gente aqui que já participou de 6....), diz que isso é
normal na primeira semana. As coisas começarão a afunilarem a partir da 2a.
metade, ou seja, na metade da próxima semana!
A grande novidade
do dia foi o almoço oferecido para todos (umas 400 pessoas!) pelo Papa Bento
XVI. Na primeira parte da grande Sala
Paulo VI (aquela das audiências gerais das 4as. feiras, que comporta
milhares de fiéis) as cadeiras foram tiradas e montadas umas 50 mesas, além da
grande mesa central para o Papa e os convidados mais especiais.
Nós brasileiros
(os cinco bispos e mais três participantes) fizemos uma mesa onde, além da
refeição caprichada que nos foi servida, partilhamos muito nossos pontos de
vista sobre o Sínodo, assim como a vida da Igreja no Brasil. Na mesa do Papa,
além de cardeais, estavam dois ilustres visitantes que já haviam falado para os
padre sinodais: o patriarca ortodoxo de Constantinopla, sua Beatitude
Bartolomeu I e o Arcebispo Anglicano de Cantuária, sua Graça R. D. Williams.
Como curiosidade, foi um banquete de 6 talheres e 4 taças. Naturalmente o tom
das conversas estavam bem mais alto no final, do que no início...
O dia foi
concluído com a palestra de 45 minutos de um prêmio Nobel de Medicina em 1978 (Microbiologia),
Prof. Werner Arber, da University of Basel (Suíça) e Presidente da Pontifícia
Academia de Ciências da Santa Sé. É o primeiro não católico a ocupar esse cargo
(ele é protestante). Assim intitulou sua palestra em inglês: "Contemplation
on the Relations between Science na Faith". Em linguagem mais técnica do
que teológica, como é próprio do tema, ele apresentou as relações entre ciência
e fé, acentuando a compatibilidade entre o conhecimento científico e o conteúdo
essencial da fé. Seguiu-se um pequeno diálogo entre o ilustre palestrante e a Assembleia.
Roma, 12 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz
Alves de Lima, sdb.
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