Jesus Cristo, encarnação da misericórdia de Deus, por amor morreu
na cruz e por amor ressuscitou. Por isso, proclamamos hoje: Jesus é o Senhor!
A sua Ressurreição realiza plenamente a profecia do Salmo: a
misericórdia de Deus é eterna, o seu amor é para sempre, não morre jamais.
Podemos confiar completamente N’Ele, e damos-Lhe graças porque por nós Ele
desceu até ao fundo do abismo.
Diante dos abismos espirituais e morais da humanidade, diante dos
vazios que se abrem nos corações e que provocam ódio e morte, somente uma
infinita misericórdia pode nos dar a salvação. Só Deus pode preencher com o seu
amor esses vazios, esses abismos, e não permitir que submerjamos, mas
continuemos a caminhar juntos em direção à Terra da liberdade e da vida.
O anúncio jubiloso da Páscoa: Jesus, o crucificado, não está aqui,
ressuscitou (cf. Mt 28,5-6) oferece-nos a certeza
consoladora de que o abismo da morte foi transposto e, com isso, foram
derrotados o luto, o pranto e a dor (cf. Ap 21,4). O Senhor, que sofreu o abandono
dos seus discípulos, o peso de uma condenação injusta e a vergonha de uma morte
infame, faz-nos agora compartilhar a sua vida imortal, e nos oferece o seu
olhar de ternura e compaixão para com os famintos e sedentos, com os
estrangeiros e prisioneiros, com os marginalizados e descartados, com as
vítimas de abuso e violência. O mundo está cheio de pessoas que sofrem no corpo
e no espírito, ao passo que as crônicas diárias estão repletas de relatos de
crimes brutais, que muitas vezes têm lugar dentro do lar, e de conflitos
armados numa grande escala, que submetem populações inteiras a provas
inimagináveis.
Cristo ressuscitado indica caminhos de esperança para a querida
Síria, um País devastado por um longo conflito, com o seu cortejo triste de
destruição, morte, de desprezo pelo direito humanitário e desintegração da
convivência civil. Confiamos ao poder do Senhor ressuscitado as conversações em
curso, de modo que, com a boa vontade e a cooperação de todos, seja possível
colher os frutos da paz e dar início à construção de uma sociedade fraterna,
que respeite a dignidade e os direitos de cada cidadão. A mensagem de vida
proclamada pelo anjo junto da pedra rolada do sepulcro vença a dureza dos
corações e promova um encontro fecundo entre povos e culturas nas outras
regiões da bacia do Mediterrâneo e do Oriente Médio, particularmente no Iraque,
Iêmen e na Líbia.
A imagem do homem novo, que resplandece no rosto de Cristo,
favoreça a convivência entre israelenses e palestinos na Terra Santa, bem como
a disponibilidade paciente e o esforço diário para trabalhar no sentido de
construir as bases de uma paz justa e duradoura através de uma negociação
direta e sincera. O Senhor da vida acompanhe também os esforços para alcançar
uma solução definitiva para a guerra na Ucrânia, inspirando e apoiando
igualmente as iniciativas de ajuda humanitária, entre as quais a libertação de
pessoas detidas.
O Senhor Jesus, nossa paz (Ef 2,14), que ressuscitando derrotou o
mal e o pecado, possa favorecer, nesta festa de Páscoa, a nossa proximidade com
as vítimas do terrorismo, forma de violência cega e brutal que continua a
derramar sangue inocente em diversas partes do mundo, como aconteceu nos
ataques recentes na Bélgica, Turquia, Nigéria, Chade, Camarões, Costa do Marfim
e Iraque; Possam frutificar os fermentos de esperança e as perspectivas de paz
na África; penso de modo particular no Burundi, Moçambique, República
Democrática do Congo e o Sudão do Sul, marcados por tensões políticas e
sociais.
Com as armas do amor, Deus derrotou o egoísmo e a morte; seu Filho
Jesus é a porta da misericórdia aberta de par em par para todos. Que a sua
mensagem pascal possa sempre se projetar mais sobre o povo venezuelano nas
difíceis condições em que vive e sobre aqueles que detêm em suas mãos os
destinos do País, para que se possa trabalhar em vista do bem comum, buscando
espaços de diálogo e colaboração ente todos. Que por todos os lados possam ser
tomadas medidas para promover a cultura do encontro, a justiça e o respeito
mútuo, os quais só podem garantir o bem-estar espiritual e material dos
cidadãos.
O Cristo ressuscitado, anúncio de vida para toda a humanidade,
reverbera através dos séculos e nos convida não esquecer dos homens e mulheres
na sua jornada em busca de um futuro melhor; grupos cada vez mais números de
migrantes e refugiados – entre os quais muitas crianças - que fogem da guerra,
da fome, da pobreza e da injustiça social. Esses nossos irmãos e irmãs, que nos
seus caminhos encontram, com demasiada frequência, a morte ou, ao menos, a
recusa dos que poderiam oferecer-lhes hospitalidade e ajuda. Que a próxima
rodada da Cúpula Mundial Humanitária não deixe de colocar no centro a pessoa
humana com a sua dignidade e possa desenvolver políticas capazes de ajudar e
proteger as vítimas de conflitos e de outras situações de emergência,
especialmente os mais vulneráveis e os que sofrem perseguição por motivos
étnicos e religiosos.
Neste dia glorioso, «alegre-se a terra que em meio a tantas luzes
resplandece» (cf. Proclamação da Páscoa), mas ainda assim tão abusada e
vilipendiada por uma exploração ávida pelo lucro, o que altera o equilíbrio da
natureza. Penso em particular nas regiões afetadas pelos efeitos das mudanças
climáticas, que muitas vezes causam secas ou violentas inundações, resultando
em crises alimentares em diferentes partes do planeta.
Com os nossos irmãos e irmãs que são perseguidos por causa da sua
fé e por sua lealdade ao nome de Cristo e diante do mal que parece prevalecer
na vida de tantas pessoas, ouçamos novamente as palavras consoladoras do
Senhor: «Não tenhais medo! Eu venci o mundo!» (Jo 16,33). Hoje é o dia radiante desta
vitória, porque Cristo calcou a morte e com a sua ressurreição fez resplandecer
a vida e a imortalidade (cf. 2Tm 1,10).
«Ele nos fez passar da escravidão à liberdade, da tristeza à alegria, do luto à
festa, das trevas à luz, da escravidão à redenção. Por isso, proclamemos diante
d’Ele: Aleluia!» (Melitão de Sardes, Homilia
Pascal).
Para aqueles que em nossas sociedades perderam toda a esperança e
alegria de viver, para os idosos oprimidos que na solidão sentem as suas forças
esvaindo-se, para os jovens aos quais parece não existir o futuro, a todos eu
dirijo mais uma vez as palavras do Ressuscitado: «Eis que faço novas todas às
coisas... a quem tiver sede, eu darei, de graça, da fonte da água vivificante»
(Ap 21,5-6). Esta mensagem
consoladora de Jesus possa ajudar cada um de nós a recomeçar com mais coragem e
esperança, para assim construirmos estradas de reconciliação com Deus e com os
irmãos. E temos tanta necessidade disto!
Papa
Francisco Fonte: https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/urbi/documents/papa-francesco_20160327_urbi-et-orbi-pasqua.html