terça-feira, 23 de outubro de 2012


Notícias do Sínodo dos Bispos 04 - Pe. Lima

REUNIÕES EM GRUPOS MENORES E PRENÇA DE BISPO ANGLICANO

            Hoje, 10 de Outubro, o dia foi um pouco diferente dos dias anteriores. De fato, logo de manhã em vez de nos dirigir para a grande sala do Plenário do Sínodo, que aqui é chamada de Aula Sinodale, fomos para salas menores, no mesmo ambiente do enorme edifício Paulo VI. Conforme programado, todos os quase 400 participantes fomos divididos em grandes grupos, chamados Circuli Minori, usando como critério de divisão, as cinco línguas oficiais. Assim, eu fui designado para assessorar o Circulus Hispanicus A (havia um B e um C); portanto três grandes grupos de língua espanhola. Preferi esse grupo, ao dos italianos, por estar mais perto da América Latina. Nele somos cerca de 30, bastante exprimidos numa sala um tanto acanhada prá tanta gente. Nesse grupo está também o espanhol Francisco (Kiko) Argüello, fundador do neo-catecumenato!

            Nesse grupo, a grande maioria era dos países da América Latina, mas havia também espanhóis, portugueses, timorenses e angolanos (esses últimos falam português). A primeira coisa a ser feita foi a eleição do Moderador (aquele que coordena) e saiu eleito o Arcebispo Carlos Aguiar Retes, Presidente da Conferência Episcopal Mexicana, e Relator: o Arcebispo de Valladolid (Espanha), D. Ricardo Blázquez Peres. Dom Odilo (que está nesse grupo, junto com Dom Geraldo Lyrio) recebeu vários votos, mas não o suficiente para ser eleito.

            Após essas formalidades, e mesmo depois do intervalo, houve um amplo espaço, que ocupou toda manhã, para um debate sobre o tema do Sínodo, particularmente sobre o Instrumento de Trabalho. A discussão ficou um pouco polarizada em torno do conceito de Nova Evangelização. De fato, não há uma compreensão única sobre tal expressão. O mesmo Bem-aventurado João Paulo II que a criou, entendeu-a de diversas maneiras ao longo de seu pontificado.

            O que em geral foi rejeitado por todos é que tal expressão signifique toda a pastoral da Igreja... ou seja: cada um entende como quer, colocando tudo quanto é assunto debaixo desse guarda-chuva e... enfim, tudo fica como antes, sem mudar nada... Seria uma maneira de fugir do problema e seus desafios. De aí também evitar que se crie mais um slogan que todo mundo repete, mas sem nenhum conteúdo.

            Alguns veem a Nova Evangelização como uma proposta para enfrentar a descristianização de antigas cristandades, como é o caso dramático da Europa. Outros, como uma espécie de diálogo para encarar o mundo hostil contra a presença pública da Igreja na Sociedade (o que acontece até na ONU...). Não poucos a veem como projeto da Igreja para recuperar o prestígio perdido pelo desaparecimento da cristandade...

            Muitos identificam a Nova Evangelização com o projeto que nasce dos documentos de Aparecida de uma Igreja missionária, que busca gerar e formar discípulos missionários. Outros sugeriram que se busquem as razões pelas quais estamos falando agora de Nova Evangelização. Uma intervenção sugeriu que se aprofundassem os fundamentos antropológicos, teológicos, eclesiológicos e bíblicos dessa proposta da Igreja... pois ela não pode continuar dando respostas para perguntas que ninguém faz... quais seriam mesmo as questões às quais a Nova Evangelização quer responder?

            Nesse último sentido, alguns, entre eles Dom Odilo, criticaram a falta de um status questionis ou seja, uma espécie de ver a realidade concreta, esclarecer por que estamos aqui falando desse assunto? (falou da nossa prática latino-americana de, sempre, partir da realidade). O que nos leva a nos preocupar com uma Nova Evangelização? Bispos de países de recentíssima evangelização, como o Timor-Leste, afirmaram: "Nós nem ainda acabamos de realizar uma verdadeira evangelização entre o nosso povo, e por que já temos que pensar numa nova? Que novidade é essa, com relação com o que já estamos a duras penas fazendo?

            Houve quem defendesse a ideia de que Jesus Cristo e seu Evangelho são sempre novos, sempre trazem uma novidade para a humanidade, seja em que tempo for... precisaríamos explorar mais a etimologia da palavra Evangelho, evangelização. Por outro lado, uma Nova Evangelização requer novos evangelizadores... mas assim falando corremos o perigo de desvalorizar os milhões de cristãos que atualmente dão a vida pela Igreja trabalhando com projetos de pastoral tradicionais... não seria melhor falar de evangelizadores renovados?

            Para enfrentar os desafios da evangelização do mundo moderno técnico-científico, é necessário muita formação... sem tal preparação intelectual acurada dos evangelizadores, eles não nos ouvirão... Dom Geraldo Lyrio acentuou a dimensão comunitário-eclesial, para se evitar individualismos, ou compreensões de Jesus e de seu Evangelho, muito conforme a imagem e semelhança de cada um... ou de cada igreja...

            Muitos chamaram a atenção para a coerência de vida, para o testemunho, para o aprofundamento da fé pessoal de cada cristão; isso mesmo já se torna o primeiro passo para uma Nova Evangelização. A maioria dos que se afastam da Igreja não é por motivo dogmático ou de rigidez de disciplina... mas por questões de relações humanas, falta de acolhimento, de atualização de certas coisas que seriam tão fácil mudar.... Alguém sugeriu até fazer um "inventário" da Igreja para ver em que falhamos.... por que as pessoas se afastam?

            Muito apreciada foi a intervenção de Dom Cláudio Celli, encarregado da Comunicação da Igreja, apresentando algumas inquietações: não dar a idéia da Igreja como uma grande empresa que está perdendo vendas e faz então um novo esforço para aumentá-las. Há gente que vê a Igreja como atingida por um tutsunami e agora se põe a pensar como reconstruir-se... em que medida realmente estamos buscando o Reino de Deus? Ou será outra coisa que muito bispo, padre ou religioso está buscando? Outra inquietude: o Instrumento de Trabalho não tocou o problema da Comunicação! Não se trata de ter grandes recursos midiáticos, potentes meios de comunicação... trata-se da linguagem, da cultura (cultura midiática!)... Estamos tratando com pessoas que já possuem outra linguagem, outra cultura... ao passo que nossa linguagem e cultura continuam as mesmas... infelizmente.

            Sem dúvida, muitos intervieram falando de vida transformada, da conversão contínua ao Evangelho, do agente principal da Nova Evangelização que é o Espírito Santo, da importância do encontro com a pessoa de Jesus, da necessidade de reforçar o ato de fé mais do que compreensões doutrinais (embora elas também sejam necessárias...), de nós mesmos sermos evangelizados, da opção pelos pobres, etc.

            Como se vê, Nova Evangelização não é um conceito unívoco, mas equívoco... e ainda não há clareza do que, precisamente, tal expressão quer dizer no conjunto de toda a vida da Igreja, particularmente após o Vaticano II, cujo 50 anos amanhã vamos celebrar...

            Na parte da tarde, houve mais de 15 discursos, na mesma modalidade de ontem (cinco minutos para cada um) e se falou muita coisa interessante. Espero que os textos, em geral em castelhano, continuem no site já indicado: http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog - Aqui destaco apenas as intervenções de dois brasileiros: Dom Sérgio Rocha, Arcebispo de Brasília, falou do ministério do catequista, dando importância ao maior reconhecimento do trabalho de nossos abnegados catequistas, inclusive proporcionando, em toda a Igreja, aquilo que no Brasil já se faz: que seja um ministério reconhecido, sem muita burocratização, nem querendo transformar os catequistas em clérigos ou dependentes de uma missio canonica por demais jurídica, o que se transformaria, por parte da hierarquia, em controle e domesticação de um carisma que, por ser de natureza prevalentemente leiga, goza de suficiente autonomia para seu exercício.

            Sua intervenção, a meu ver bastante inspirada, se intitulou: "Sujeitos da transmissão da fé: os catequistas". Assim ele concluiu: "o conferimento de tal ministério não deverá comportar uma clericalização ou elitização dos fieis leigos, conservando sempre o seu caráter de serviço eclesial. Como também não deverá ser entendido como um ministério em substituição ou contraposição ao ministério ordenado, pois, sendo um autêntico serviço eclesial, ele deverá ser concebido e vivido em comunhão. Enfim, o reconhecimento e a configuração do "ministério de catequista" poderá representar um grande sustento e estímulo para aqueles que assumem com generosa dedicação o serviço da catequese. Ajudará os fieis a reconhecerem melhor o seu serviço e exigirá um renovado empenho na formação integral dos catequistas.

            Bom, ainda teríamos que falar de um dos pontos altos do dia que foi a apresentação e discurso, diante do Papa, do Anglicano R. Douglas Willians, arcebispo de Cantuária e primaz da Inglaterra... que foi muito interessante. Mas iria muito longe, e já passei do limite, por hoje.

            Amanhã, tratando das celebrações dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II e da Abertura do Ano da fé, terei oportunidade de voltar a esse assunto.

 

Roma, 10 de Outubro de 2012.

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.

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