segunda-feira, 3 de junho de 2019

A Liturgia e a Iniciação à Vida Cristã.

A Tradição da Igreja acredita que a fé celebrada é a fé acreditada e a fé acreditada é a fé celebrada. Lex orandi lex Credendi: a norma da oração estabeleça a norma da fé. No processo de iniciação à vida cristã, e não apenas nele, o serviço de rezar a fé é prestado pela Liturgia.
A Palavra LIT – URGIA vem da língua grega: laos = povo e ergon = ação, trabalho, serviço, ofício...Unindo os dois termos que formam a palavra, encontramos a raiz mais profunda do significado da LITURGIA, ou seja: AÇÃO, trabalho, serviço do povo e realizado em benefício do povo, isto é: um serviço público, como dizemos hoje.[1] 
Dito isto, a consciência primeira do liturgo é de prestar um serviço. A ação litúrgica é direito da comunidade reunida, por isso, quem se manisfesta responsável pela liturgia deve primar pelo caráter comunitário, participativo e testemunhal da fé que celebra.
O que celebramos? A Memória Pascal. “A liturgia [cristã] é a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Em volta deste núcleo fundamental da nossa fé, celebramos no Ano Litúrgico a memória do Ressuscitado na vida de cada pessoa e de cada comunidade.”[2] 
O que celebramos? Celebramos aquilo que somos. Uma vez que o mistério celebrado evoca a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, Filho de Deus, nossa ação litúrgica é memorial de nossa identidade: filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo (cf. Gl 3,25-26). Deste modo, a ação litúrgica é marcada pela repetição dos elementos fundantes da fé: o mito. Todo mito necessita ser contado para que seja garantido o núcleo de fé da comunidade religiosa. 
À repetição chama-se rito. “A repetição ajuda a criar o clima da celebração. Não é uma rotina, motivada por falta de criatividade. A repetição, num ritual, é um modo de dar “rosto” ao que estamos vivendo”.[3] O rito e o mito usam da linguagem simbólica para manifestar a realidade de sua intenção e originalidade. Os símbolos, através do rito, revelam o mistério que o mito mantém guardado em segredo. 
O Diretório Nacional de Catequese afirma que “aderir ao rito significa abrir-se ao sentido proposto por aquele grupo e, portanto, assumir sua identidade, fazer parte dele (DNC 116”.[4] 
Ao conjunto da liturgia chamamos celebração. Se celebrar é dizer que nossa ação é célebre, é importante, também dizemos que celebrar é comemorar. Isto é, fazer memória junto com. A comemoração será ação conjunta porque o fato celebrado é também partilhado, é evento comum. Em se tratando de um fato religioso, de caráter confessional, a celebração é ainda mais comunitária. 
Há diferença, portanto, entre: saber que o mito existe, conhecer a composição do rito e aderir ao mistério celebrado. “A celebração é também uma afirmação da identidade que queremos ter”.[5] 
Qual o mito fundante da fé cristã? Qual o rito que conta seu mistério? São respostas que o Catecumenato cristão respondeu na época Patrística e, agora, serve de inspiração para novos métodos de educação na fé. Todo ato litúrgico, por ser celebração do que a razão conhece, deve garantir a adesão consciente do mistério que excede à capacidade intelectual. 
Deste modo, a liturgia é o espaço onde os fieis devem sentir-se à vontade para celebrar o que conhecem. Do contrário, a atenção se desvia para o irrisório de conhecer apenas quem está celebrando comigo e não o que estamos celebrando juntos. A comunidade celebrante dá o sabor da fé que confessamos, da mesma forma que os comensais saboreiam os primeiros frutos da colheita. 
O desafio da iniciação à vida cristã será recuperar o sentido primeiro da fé comunitária que exala o doce odor de Cristo. A iniciação será bem feita quando a comunidade toma consciência de que existe para favorecer a festa. Ela [a comunidade], é o local por excelência da comemoração, por isso, local da celebração.
Ariél Philippi Machado

[1] CNBB. Liturgia em mutirão: subsídios para formação. Brasília: CNBB, 2007. p. 7.
[2] CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Brasília, CNBB: s.d. p. 7.
[3] CNBB. Celebrar e crescer na fé: Catequese e liturgia. Brasília, CNBB: 2008. p. 7. (Coleção Catequese à luz do Diretório Nacional de Catequese)
[4] CNBB. Diretório Nacional de Catequese.
[5] CNBB. Celebrar e crescer na fé: Catequese e liturgia. Brasília, CNBB: 2008. p. 26. (Coleção Catequese à luz do Diretório Nacional de Catequese)

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