domingo, 1 de dezembro de 2013

Advento de esperança


Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba (RN)
Como eu estou colaborando na construção de ambientes sadios, tentando dar os meus humildes préstimos como tributo para os alicerces da civilização do amor, da paz, da fraternidade solidária? Meu verdadeiro interesse pela felicidade das pessoas é sincero? Tento transmitir afeto e compreensão diante dos que fracassam, descartados, rejeitados, excluídos da comunhão? O que faço para diminuir a dor dos que carregam o fardo da cruz das suas próprias fraquezas, apontadas pelos que se julgam impolutos, ilibados, puritanos? Conheço a situação real dos que são banidos da convivência dos bons?
Por vezes escutamos e embarcamos nas fofocas animadas sobre as culpas da vida pregressa de alguém, submetido ao escárnio dos que se deliciam com sua queda. Consigo trazer em minha bagagem espiritual o antídoto da compaixão, aliviando o desconforto de quem está sufocado, intoxicado pelo veneno de comentários inoportunos, não raro, inverídicos?
Tento me esforçar para ser bálsamo aplicado qual lenitivo nas feridas da alma, ressequidas pela tristeza de quem perde a alegria de viver? Assumo atitudes proativas, tentando fazer aos que precisam e merecem ao menos um pouco de bem através de pequeninos gestos de conforto e esperança? Qual é mesmo o compromisso que assumi, em horas de consolo e alegria, tomando a firme resolução de me abrir aos outros, em vez de permanecer fechado nos meus caprichos egoístas?
Estou convicto de que meus gestos são gratuitos e generosos, sem exigir resultados imediatos nem confetes e aplausos, granjeando a promoção das minhas vaidades? Ou esqueço tudo quanto meditei na Palavra? Por receio de desagradar se não imitar a moda, por medo dos que falam pelas costas e riem de mim, anelo aos deboches apimentados, machucando ainda mais os corações quebrantados pelas coisas ditas com ironia mordaz, espalhadas por críticas amargas, capazes de desestruturar alguém mais frágil?
O que faço para tentar transformar a realidade que nos cerca, cheia de contradições, como também carregada de sinais de vida e de esperança? Estou consciente de meus limites e simplicidade humilde e despretensiosa dos meus gestos que, por mínimos que sejam, entanto fazem grande diferença para dar sentido à vida? Que valor eu dou ao sacrifício diário, empenhado como investimento na melhoria de vida das pessoas, dando-lhes crédito, ajudando-as a criar condições para se sentirem mais amadas e seguras?
Ou não, assumo a atitude passiva, cômoda, covarde, típica de invejosos que desferem farpas e vomitam negatividades, desejosas de ver as pessoas desqualificadas, suas iniciativas abortadas, suas expectativas frustradas? Por que não tentar transformar o nosso egoísmo e perseguição em amor, dedicação, teimosa resistência pelo bem?
São questionamentos apropriados para quem se prepara durante o advento do Natal e ano novo que se aproximam. Para uma frutuosa preparação, nós podemos dispor da Novena do Natal em família, utilizando o subsídio que ora é amplamente divulgado em todas as nossas paróquias. Nossa triste constatação é perceber claramente que, mesmo entre nós cristãos, o Natal de Jesus foi encampado pelo comércio, reduzido a um evento altamente lucrativo, de caráter consumista. A figura representativa do encanto do Natal do menino Jesus foi substituída pelo papai noel, tão obeso como a volúpia do prazer de possuir e manipular coisas materiais.

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