sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Amor!




Como podemos verificar se, como Igreja, nós já entramos na glória, na Ressurreição, no tempo pascal? A resposta é simples: pelo Amor com A maiúsculo, dado gratuitamente, generosamente, sem restrição alguma. Faz muito tempo que repetimos esta frase do evangelho de São João: Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado! É um Amor gratuito, generoso, que deve contagiar o outro, os outros. O Amor que se espalha, que se multiplica; o Amor que se transmite.

A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 5º Domingo de Páscoa (28 de abril de 2013). A tradução é do Cepat.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
Segunda leitura: Ap 21, 15a
Evangelho: Jo 13, 31-33a.34-35

Nas duas próximas semanas, nós voltaremos à noite da Quinta-feira Santa, quando Jesus, no Evangelho de João, nos deixa seu testamento. Este se resume a uma palavra: Amor! Esta semana, em Joliette, os padres tiveram uma jornada de atualização com Jacky Stinchens, padre belga flamenco que mora há 30 anos em Québec, e que nos disse que é na experiência humana, na carne, que acontece a manifestação de Deus, a revelação de Deus... E cada experiência é única; ela não pode ser imitada. Portanto, quando o Jesus de João nos diz: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros” (Jo 13, 34), isso quer dizer que nós devemos amar não como Jesus amou, mas como cada um pode amar cada um do seu jeito, com o mesmo objetivo que Jesus... Isto é, para que o Amor se espalhe. O “como” não é comparativo; eu diria que é multiplicativo.

Alguém me disse certo dia, após a celebração de um funeral: Raymond continue a amar com compaixão; nós temos tanta necessidade disso. Isso me fez compreender o sentido do evangelho de hoje: o Amor nos faz pequenos; ele ressuscita; ele dá a vida; ele nos faz parecer com o Cristo da Páscoa e cria um mundo novo.

1. O Amor ressuscita

No evangelho de hoje, São João fala de glória: “Quando Judas Iscariotes saiu, Jesus disse: ‘Agora o Filho do Homem foi glorificado nele. Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo’” (Jo 13, 31-32). O evangelista João dirige-se à Igreja do final do século primeiro, uma comunidade de crentes que, apesar das perseguições, já vive no mundo da glória, da ressurreição, o mundo novo pós-Pascal, fundado sobre o Amor. Não é a realidade descrita pelo Apocalipse, que nós também lemos hoje? “Vi, então, um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21, 1). Isso torna essa paisagem descrita pelo autor do livro do Apocalipse engraçada, mas ao mesmo tempo, pode-se reconhecer aí uma paisagem pascal, pois sabemos que o mar, na Bíblia, era o lugar da moradia das forças do mal; portanto, nesse mundo novo, o mundo da Ressurreição, não há mais lugar para o mar, porque o mal foi vencido. Mais ainda: nesse mundo novo não há mais sofrimentos e morte: “Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram” (Ap 21, 4).

2. O Amor é contagiante

Como podemos verificar se, como Igreja, nós já entramos na glória, na Ressurreição, no tempo pascal? A resposta é simples: pelo Amor com um grande A, dado gratuitamente, generosamente, sem restrição alguma. Faz muito tempo que repetimos esta frase do evangelho de São João: Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado! É um Amor gratuito, generoso, que deve contagiar o outro, os outros. O Amor que se espalha, que se multiplica; o Amor que se transmite.

Quanto tempo perdido em ignorar, fingir, odiar, recusar, demonstrar indiferença, em vez de amar, simplesmente, gratuitamente, sinceramente, honestamente, generosamente, incondicionalmente. E, no entanto, a vida é tão curta! Recusar a amar é, em primeiro lugar, a nós que faz mal: desenvolvemos o rancor, a angústia, a amargura; vivemos cheios de pena, de angústia, de sofrimento, de indiferença e de um mal-estar que pode afetar inclusive a nossa saúde fisiológica e psicológica. Então, por que não amar verdadeiramente?

3. O Amor é desinteressado

Nós somos capazes de amar: um amor seletivo, interessado, calculado, controlado. Um amor que é mais voltado para si mesmo que para os outros. Um amor que se detêm nos nossos limites e nas nossas pobrezas. Mas o Amor evangélico, o Amor cristão, não tem nenhum limite e exprime o que nós somos verdadeiramente: “Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13, 35). O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “Não é pelo crucifixo que eles carregam no pescoço que nós reconheceremos os discípulos de Cristo, mas pelo Amor que eles têm uns pelos outros”.

Recordemos as três etapas do Amor apresentadas por Santo Agostinho, no século IV:

1) Amar ser amado: Todo o mundo gosta disso; não há nada de particular ou de extraordinário nisso. O Amor verdadeiro é, seguramente, mais que isso.

2) Amar amar: Dois infinitivos... Isso já é melhor, mas é perigoso. Isso pode tornar-se uma espécie de narcisismo demostrando um excesso de generosidade no Amor.

3) Amar: Amar simplesmente, sem mais; não para comprazer-se ou para fazer o bem... Não! Amar simplesmente, por amor, sem esperar nada em troca.

Foi desta maneira que Cristo nos amou: incondicionalmente, gratuitamente, simplesmente. Não para comprazer-se ou para se mostrar. Não! Simplesmente por Amor! Para encarnar esse Deus que não é senão Amor. E mesmo se o Amor o levou à cruz, amou até o fim, sem exigir nada em troca do seu Amor. O evangelho não diz: “Amem-me como eu amei vocês!”, mas: “Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros” (Jo 13, 34b). É o apogeu do Amor; é o Amor em sua perfeição. É o Amor que nos faz parecer com Deus e que nos identifica com o Cristo ressuscitado.

Finalmente, por que São João disse que o mandamento do Amor de seu Evangelho é um mandamento novo? Ouçamos Santo Agostinho nos dizer por quê: “Esse mandamento já não existia na lei antiga, uma vez que está escrito: tu amarás teu próximo como a ti mesmo? Por que, então, o Senhor chama novo um mandamento que tem evidência tão antiga? É um mandamento novo porque, ao nos despojarmos do homem antigo, ele nos reveste do homem novo? Certamente, o homem que escuta esse mandamento, ou que a ele obedece, é renovado não por qualquer amor, mas por aquele que o Senhor nos dá: Como eu amei vocês. É este Amor que nos renova pelo qual somos os herdeiros da nova Aliança. Eis porque ele nos amou: para que nós, por sua vez, nos amemos uns aos outros. Ele nos tornou capazes de nos amar, a fim de que pelo Amor mútuo sejamos unidos entre nós e que, pela união muita suave que liga seus membros, sejamos seu corpo, o corpo de uma só Cabeça, o Cristo da Páscoa”.

Eis a glória de Deus! O Homem erguido! Somos capazes de amar como Cristo, cada qual do seu jeito, mesmo se devemos pagar com a nossa própria vida...

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519616-o-amor

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