Cardeais e
bispos brasileiros participaram de uma missa de ação de graças pela canonização
do padre José de Anchieta. A cerimônia foi presidida pelo papa Francisco, na
quinta-feira, 24, na igreja Santo Inácio de Loyola, em Roma, e concelebrada
pelo arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno
Assis, e pelo arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer. A assinatura
do decreto da santidade do Apóstolo do Brasil ocorreu no dia 3 de abril.
Féis do
Brasil, peregrinos, autoridades civis e religiosas compareceram à celebração
para homenagear São José de Anchieta. Membros da CNBB também marcaram presença
como o arcebispo emérito de São Paulo, cardeal dom Cláudio Hummes, o arcebispo
de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, o bispo de Limeira, dom
Vilson de Oliveira. O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida
Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, cardeal dom João Braz de
Aviz, estava entre os membros da Cúria Romana.
Agradecimento
Ao final da cerimônia, o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno,
agradeceu ao papa Francisco por decretar santo o missionário brasileiro, padre
Anchieta. Na mensagem, o cardeal recordou a trajetória do santo que dedicou-se
à catequese e viveu a pobreza e a simplicidade.
Abaixo, a
íntegra do discurso:
"Santidade,
A Igreja no Brasil e o povo brasileiro agradecem a Deus por lhes permitir
realizar um sonho que durou mais de 400 anos: ver o Apóstolo do Brasil
apresentado à Igreja Universal como testemunha de Jesus Cristo.
Estou certo,
Santo Padre, de trazer à sua presença centenas de jesuítas que, ao longo de
muitos anos, trabalharam para este momento. Não só dou voz aos filhos de Santo
Inácio, mas também a milhares de fiéis leigos envolvidos pela santidade e
carisma do Padre Anchieta. Eles deram o melhor de si para que esta celebração
acontecesse. Assim, em nome de todos eles, vivos ou já na visão beatífica,
quero, do fundo do coração, dizer-lhe: muito obrigado, Santidade! José de
Anchieta chegou jovem ao Brasil, com 19 anos de idade, pouco depois de ter
emitido os votos religiosos de pobreza, castidade e obediência. Com um coração
juvenil, amou, desde o primeiro contato, o povo brasileiro. A ele, dedicou sua
grande inteligência, cultura e erudição, a capacidade de amar e de sofrer por
amor. A ele, consagrou suas qualidades humanas, a capacidade de lutar, de ser
aguerrido e a sua espiritualidade.
Como um São
Francisco do Novo Mundo, revelando notável capacidade de observação da
natureza, escreveu a chamada Carta de São Vicente. Nela, com grande erudição, e
de modo muito completo e preciso, fez a primeira descrição detalhada da Mata
Atlântica, importante bioma brasileiro. Anchieta, também como o santo de Assis,
viveu a pobreza e a simplicidade. Em carta, descreveu como as vivia com os
indígenas, chegando ao ponto de relatar que, como toalha de mesa, usavam folha
de bananeira, para, em seguida, completar que dela não tinham necessidade, pois
qual a razão da toalha se lhes faltava a comida? Como o pobrezinho de Assis, no
espírito da perfeita alegria, asseverou que estavam tão felizes naquela
situação – ele e os demais jesuítas –, que, ao pensarem no tipo de vida levada
nos colégios da Europa, nenhum tipo de saudade lhes vinha ao coração.
Santo Padre,
contemplando no Padre Anchieta a simplicidade de vida, o serviço prestado aos
marginalizados, o seu modo de vida, encontramos o Senhor da Vida. Nosso
Apóstolo se fez santo servindo aos indígenas, aos negros e a todos os pequenos
do Brasil. Queremos seguir seus passos. Ele foi o nosso grande e incansável
evangelizador. Seu exemplo motiva-nos a irmos destemidamente ao encontro de Jesus
Cristo e dos irmãos. O Padre Anchieta deixou-nos também o exemplo do grande
amor que dedicava a Nossa Senhora, a quem sempre pedia socorro.
Ela foi sua
força e apoio nos momentos cruciais de sua vida: no ambiente conturbado de
Coimbra, quando percebeu que sua vida cristã poderia arruinar-se, ou na Aldeia
de Iperoig, na costa brasileira, onde, sem nenhum apoio visível - a não ser a
oração -, por vários meses permaneceu refém dos índios tamoios. Nesse trágico
momento, mais uma vez recorreu a Maria e, certo de sua ajuda, começou a
escrever o Poema da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, expressão de sua
extraordinária devoção e amor à Santíssima Virgem.
Santo Padre,
muito obrigado por nos permitir partilhar com os cristãos do mundo todo o belo
testemunho que foi a vida de São José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil".
Cardeal
Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo
de Aparecida (SP) e presidente da CNBB
Como funciona um processo de canonização?
Canonização é
um processo de tempo indeterminado que deve ser cumprido para que um beato seja
proclamado santo da Igreja católica.
Canonização é
o termo usado pela Igreja católica para o processo em que se proclama um beato
como santo. Trata-se de um processo que inclui diversas fases, que vão desde a
investigação da vida do candidato a santo até a constatação de milagres
realizados por sua intercessão.
Doutor em
Direito Canônico, padre Cristiano de Souza e Silva, concedeu entrevista ao
noticias.cancaonova.com em que explicou como funciona um processo canônico.
Basicamente, é
preciso solicitar a abertura da causa, nomear um responsável para acompanhar o
processo, investigar a fama de santidade do candidato, comprovar um milagre realizado
após a morte do candidato a santo, beatificar o candidato, comprovar um segundo
milagre, desta vez realizado após a beatificação, para enfim proclamar o
candidato santo, que é a canonização propriamente dita.
Jéssica Marçal
Da Redação
Confira no infográfico
abaixo o passo-a-passo para que uma pessoa seja proclamada santa.
Fonte:
cancaonova