terça-feira, 28 de maio de 2013

CORPUS CHRISTI - 30 de maio de 2013

                              O CORPO DE CRISTO: VIDA PARA O MUNDO





A festa de Corpus Christi tem origem no século XIII. Santa Juliana de Mont Cornillon, da Bélgica, incentivou a solenidade em honra ao santíssimo sacramento e, em 1264, o papa Urbano IV publicou a bula Transiturus, na qual louva o amor de Jesus manifestado na eucaristia e ordena que seja celebrada a solenidade de Corpus Christi na quinta-feira seguinte ao domingo dedicado à Santíssima Trindade. A partir do século XIV, as procissões foram sendo incorporadas à celebração desta festa. O Concílio de Trento reconhece que, pela piedade popular, foi sendo introduzido na Igreja de Deus o costume de celebrar anualmente, em dia festivo, o excelso sacramento e declara que, com honra e reverência, seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos. Com essa manifestação pública de fé, os cristãos e cristãs testemunham a sua gratidão pelo dom da eucaristia, pelo qual se torna presente a vitória sobre a morte e a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

A eucaristia é o memorial da última ceia de Jesus, em que ele ofereceu seu Corpo e Sangue aos discípulos, anunciando a sua morte como dom total de sua vida em resgate da vida de todos (II leitura). Os elementos eucarísticos, pão e vinho, são referências antigas, usadas já pelo sacerdote Melquisedec como oferta a Deus pelos benefícios concedidos a Abraão (I leitura). Pão e vinho – Corpo e Sangue: Jesus entregou a vida em favor da humanidade não apenas na hora de sua morte, mas em todo o seu ministério. Ele ensina a partilhar os bens e empenhar a própria vida a fim de que todas as pessoas tenham suas necessidades dignamente satisfeitas. Para isso, conta também com seus discípulos (evangelho).

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. II leitura (1Cor 11,23-26): Em memória de Jesus

O relato que Paulo faz a respeito da Ceia de Jesus é o mais antigo, tendo sido redigido ao redor do ano 56, anteriormente aos evangelhos. Ele diz que recebeu “do Senhor” o que está transmitindo à comunidade. Certamente, refere-se à tradição dos apóstolos. A narrativa está inserida num contexto de divisão da comunidade cristã de Corinto, manifestada até mesmo na celebração da Ceia. Provavelmente, nas comunidades primitivas, a Ceia do Senhor era feita em uma cerimônia de ação de graças (= eucaristia) pela redenção do gênero humano trazida por Jesus. O momento principal era precedido por uma refeição comum, também chamada de “ágape”, como expressão de companheirismo entre os membros da comunidade. A comida, provavelmente, era trazida de casa e partilhada com todos. No caso de Corinto, Paulo critica com veemência a atitude dos que chegam mais cedo, comem e bebem à vontade, sem esperar as pessoas pobres que chegam depois. Essa conduta está em total desacordo com o sentido sagrado e solene da eucaristia.

Ao comer do mesmo pão e do mesmo cálice, do Corpo e do Sangue de Jesus, os participantes expressam a unidade com o Salvador e com a comunidade. Paulo enfatiza, então, a íntima relação entre a eucaristia e o amor fraterno. Por isso, a celebração não é mero simbolismo, mas expressão de comunhão com a pessoa e a proposta de Jesus, com o seu mesmo amor oblativo. Por isso, é anúncio de sua morte, é a nova aliança em seu sangue.

2. Evangelho (Lc 9,11b-17): Ação de graças na partilha

Jesus retira-se com os seus discípulos, recém-chegados da missão que lhes havia confiado. A multidão segue a Jesus para onde ele vai. Ele lhes anuncia o reino de Deus e realiza sinais de cura e de libertação. O local em que se encontra é deserto, despovoado. Teologicamente o deserto revela o espaço de decisões, de caminhada e de encontro com Deus. Lembra o êxodo como caminho de libertação da escravidão do Egito; lembra também o profeta Elias, que, fugindo da perseguição do rei Acab, atravessa o deserto e se encontra com Deus numa gruta no monte Carmelo; lembra o próprio Jesus, que supera as tentações no deserto com jejum e oração.

Certamente, esse cenário da multidão com Jesus num lugar deserto revela uma situação de crise. Ela é reforçada pela referência à hora avançada do dia: a noite vinha chegando. É a mesma hora em que os discípulos de Emaús, após um longo caminho, pedem que Jesus (o forasteiro, companheiro de caminhada) permaneça com eles (Lc 24,29).

No relato de Lucas, percebe-se nitidamente a intenção de explicitar duas posturas diferentes diante da situação de crise. Uma é a dos Doze, que se aproximam de Jesus e lhe pedem que despeça a multidão, a fim de esta poder comprar alimentos e providenciar pousada. Comportam-se como um grupo de elite e procuram livrar-se do “incômodo” que as pessoas necessitadas representam. Mergulhados ainda numa ideologia de poder, apontam uma saída baseada no individualismo e numa ótica mercantilista.

A postura de Jesus, porém, revela-se em desacordo com o exclusivismo dos Doze. Eles ainda não haviam assimilado o testemunho do ministério de Jesus, que sempre é de acolhida, de anúncio do Reino, com sinais em favor da vida digna sem exclusão. Por isso, Jesus os impele a enfrentar a situação: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ensina-lhes o método antigo de organização em pequenos grupos e de partilha do que as pessoas tinham. É a memória e a aplicação atualizada dos princípios econômicos e políticos do povo de Israel, segundo os relatos de Ex 16 e 18. Lembra também a ação do profeta Eliseu, que, mesmo diante da dúvida resistente de seu servo, pede que sejam servidos para cem pessoas os 20 pães que possuía. Todas ficaram saciadas e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor (2Rs 4,42-44).

Lucas faz questão de precisar a quantidade de alimento que havia no meio do povo: cinco pães e dois peixes (perfazem o número sete, de plenitude); representam os bens que a benevolência divina concede aos seus filhos e filhas. Quando administrados com justiça, segundo a necessidade de cada pessoa, satisfazem plenamente e ainda sobra em abundância (12 cestos).

A bênção de Jesus sobre os alimentos revela o costume entre os judeus. O Talmude chega a dizer que “aquele que desfruta de algo sem dar graças é como se tivesse roubado a Deus”. As palavras usadas por Jesus nessa bênção, juntamente com o gesto de partilha, faziam parte da Ceia do Senhor, celebrada pelas comunidades primitivas. Lucas lembra que foi exatamente na hora da bênção e da partilha dos pães que os olhos dos discípulos de Emaús se abriram e reconheceram a Jesus ressuscitado (Lc 24,30-31).

3. I leitura (Gn 14,18-20): Pão e vinho, oferta de gratidão

Este breve texto de Gênesis é inserido após o relato da vitória de Abraão e sua família sobre um grupo de guerrilheiros que havia sequestrado seu sobrinho Lot juntamente com seus bens. Melquisedec é apresentado como rei de Salém (muitos a identificam com Jerusalém) e sacerdote de Deus altíssimo. O pão e o vinho trazidos por Melquisedec, junto com a bênção sobre Abraão, indicam um tipo de cerimônia religiosa de ação de graças entre os judeus. Pode-se constatar aí a preocupação de Melquisedec, rei e sacerdote, em suprir as necessidades corporais e espirituais do ser humano.

Com base neste texto de Gênesis, a carta aos Hebreus apresenta Melquisedec como uma figura profética de Jesus Cristo, sacerdote eterno, livre e autônomo, sem possuir nenhuma ligação dinástica. Aplica a Jesus o significado etimológico do nome de Melquisedec: “Rei de justiça” e “Rei de Salém”, o que quer dizer “Rei da paz” (Hb 7,1-3.15-17).

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

A festa de Corpus Christi oferece a oportunidade de refletir sobre o sentido da eucaristia na vida dos cristãos e cristãs. Celebrar a memória de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é atualizar seus gestos de amor oblativo em favor da vida de todas as pessoas. De modo particular, não podemos esquecer a dimensão social da eucaristia. “São João Crisóstomo exortava: ‘Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda enquanto fora o deixam passar frio e nudez’” (DAp 354).
 
A celebração adquire seu verdadeiro sentido quando é expressão de relacionamentos justos e fraternos, vividos no cotidiano da vida familiar, comunitária e social. Não é, portanto, por meio de manifestações triunfalistas que expressamos a fé e o louvor a Deus. Para evitar essa tendência e todo tipo de alienação, Paulo adverte: “Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha”.

O pão e o vinho oferecidos por Melquisedec – “Rei da justiça” e “Sacerdote da paz” – em louvor às bênçãos de Deus sobre Abraão apontam para a identidade e a missão de Jesus. Ele é, por excelência, a bênção do Pai em favor do povo. Toda a sua vida é, na verdade, um ato eucarístico em louvor a Deus concretizado no amor ao próximo. Sua prática indica o caminho da paz como fruto da justiça. O seu gesto de bênção sobre os alimentos com a partilha entre todos nos alerta para o desdobramento da eucaristia na vida cotidiana de cada um de nós. “A eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade: ‘Aquele que se alimenta de mim viverá por mim’ (Jo 6,57)” (DAp 354).

“Nossa existência cotidiana se converte em missa prolongada (…)” (DAp 354). Todas as pessoas, todas as coisas, todos os momentos e todos os espaços são sagrados porque dons de Deus. Não se podem admitir situações excludentes, o acúmulo dos bens, a exploração egoísta do tempo, nem conformar-se com isso. Jesus mostrou o caminho para uma nova sociedade, organizada a partir da base e com a administração justa dos bens. Ele conta com a colaboração dos seus seguidores e seguidoras para continuar a sua obra. 

► A celebração da festa de Corpus Christi pode constituir um bom momento de valorizar a corresponsabilidade de todos no cuidado e respeito por todas as formas de vida. Em coerência com o que celebramos na eucaristia, não podemos prescindir do empenho em favor da superação de toda espécie de violência e exploração, tanto do ser humano como da natureza…

Celso Loraschi
Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos, professor de evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos no Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC). fotos retiradas do site : www.liturgia.pro.br 

 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

FESTA DA SS. TRINDADE - Evangelho de João 16,12-15



Festa da comunhão

Neste domingo, celebramos a festa da Santíssima Trindade, e é-nos proposto refletir e viver esta passagem do discurso de Jesus do quarto evangelho.

Para compreendê-la, vamos fazer o exercício de lê-la do fim para o início. No final deste texto, Jesus apresenta o Espírito Santo como nosso "intérprete".

O intérprete é aquele que faz o possível para que pessoas que falam línguas diferentes se entendam. Colabora, então, na comunicação, no diálogo.

A missão do Espírito seria então fazer o possível para que os discípulos/as de Jesus pudessem entrar em relação com Ele e, por Ele, com o Pai, acolhendo e compreendendo a Palavra de Deus e podendo, assim, responder-lhe.
alt


O evangelho nos narra que o Espírito interpretará para nós tudo o que recebe do Jesus e antes Ele mesmo disse que tudo o que o Pai tem é dele!

Maravilhosa comunhão, em que um é totalmente do outro a ponto de não se entenderem sem a relação com os outros, e ao mesmo tempo continuarem sendo cada um!

Essa comunhão de amor do Pai, Filho e Espírito Santo é o que o Espírito Santo quer fazer os amigos e amigas de Jesus participarem e viverem.

É através da amizade com Jesus que amadurece no seguimento, que seus amigos/as vão descobrindo e participando por obra do Espírito deste mistério de comunhão.

O apóstolo Paulo o expressa da seguinte maneira: "Enraizados e cimentados no amor vocês se tornarão capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de Cristo que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de toda plenitude de Deus" (Ef 4, 18-19).

A abertura da Conferência de Aparecida nos disse que quando o discípulo chega à compreensão deste amor de Cristo «até o extremo», não pode deixar de responder a este amor senão for com um amor semelhante: «Eu te seguirei por onde quer que fores» (Lc 9, 57).

Esta experiência de comunhão com Deus é também uma experiência de comunhão com toda a humanidade, o/a discípulo/a de Jesus se descobre sendo parte viva do Corpo de seu Mestre, que tem em sua diversidade e pluralidade uma única missão ou causa: o Reino de Deus!

No encontro com os Movimentos acontecido na noite do Pentecostés o Papa Francisco expressou de uma maneira muito clara que "ir ao encontro dos pobres significa, para os cristãos, ir “para a carne de Cristo”, razão pela qual este compromisso concreto pertence à essência da experiência da fé vivida e testemunhada verdadeiramente.

O importante – destacou Bergoglio– é ter Cristo e a dignidade do ser humano no centro. É o Espírito Santo que dá a coragem para alcançar as "periferias existenciais", onde é preciso testemunhar o Evangelho. É a dignidade do ser humano, é o encontro com os pobres que devem ser postos no centro desse testemunho.

É claro, então, que, longe de tirar-nos da realidade, a verdadeira experiência de Deus, nos leva a um compromisso maior com o mundo no qual vivemos, fazendo-nos trabalhar por outro mundo possível.

Parafraseando as palavras de Paulo V, viver em comunhão com o Deus de Jesus Cristo nos impulsiona a doar nossas vidas para que os nossos povos passem da miséria à posse do necessário, à aquisição da cultura... à cooperação no bem comum... até o reconhecimento, por parte do homem, dos valores supremos e de Deus, que deles é a fonte e o fim. (Populorum progressio, 21).

Nas palavras de Jesus, que hoje a comunidade de João nos anuncia, fica claro que é o Espírito Santo que garante esta vida e missão. Aquele que tornou possível a encarnação do Filho de Deus no seio da jovem Maria de Nazaré continua tornando possível que o projeto de Deus continue visibilizando-se, em nossa história, através da disponibilidade de homens e mulheres, jovens, idosos e até crianças!

A festa da Santíssima Trindade nos leva por um lado a sermos cientes e agradecidos/as pela vida de Deus da qual somos partícipes, e por outro exorta-nos a sermos colaboradores na gestação, defesa e cuidado da Vida de nosso planeta, para que as palavras de Jesus se façam realidade: "Que todos tenham vida e vida em abundância".

Festa da Trindade, festa da comunhão, festa da humanidade!


Oração

Os pobres sinal de contradição

Convidamo-los a nossos comércios,
expulsamo-los de nossas mesas.
Fechamo-los com cercas em nossas fábricas,
afastamo-los com cães de nossas casas.

Seduzimo-los com o sorriso da publicidade,
fechamos o rosto quando se aproximam
Recebemo-los quando são trabalho e moeda,
esquivamo-nos deles quando são justiça e encontro.

Arrasamos em minutos um bairro vivo,
estudamos a colocação de uma estátua morta.
Congregamo-los com promessas quando dão um voto,
dispersamo-los com balas quando exigem um direito.

Contratamo-los quando são força jovem,
varremo-los quando são bagaços espremidos.
Admiramo-los quando levantam nossas mansões,
separamo-los com as mesmas paredes que construíram.

Damos-lhes esmolas quando são pequenos e fracos,
encarceramo-los com suspeitas quando são dignos e fortes
Exaltamos em livros e sermões sua bem-aventurança,
sua proximidade não mede o sentido de nossa vida.

Jesus, Acolhemos-te quando és bondade e perdão,
excluímos-te quando és denúncia e justiça
Como todo pobre de nossos caminhos
és um sinal de contradição.

Referências

DUFOUR, Xavier Leon. Leitura do evangelho segundo João IV. São Paulo: Loyola, 1998.

GONZALES BUELTA, Benjamin. Salmos para sentir e saborear as coisas internamente. Disponível em http://migre.me/eEh41

KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.

QUEIRUGA, Andrés Torres. Re-pensar a Ressurreição. São Paulo: Ed. Paulinas, 2004.




Como é grande o vosso nome

Festa da Santíssima Trindade



Mesmo que a palavra “trindade” designe algo abstrato, o nosso Deus não é um conceito: é um Deus de amor que se faz Criador, Salvador e Guia para a nossa felicidade.

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras da Festa da Santíssima Trindade (26 de maio de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
1ª leitura: Provérbios 8,22-31
2ª leitura: Romanos 5,1-5
Evangelho: Jo 16,12-15

A Sabedoria do começo

Não passemos com pressa demais sobre a primeira leitura. Como o Novo Testamento vê em Cristo a Sabedoria de Deus, ficamos sabendo que o Cristo está aí desde o começo. Falo do Cristo sim: deste Cristo de sempre, que se tornou homem em Jesus de Nazaré, quando “os tempos se cumpriram”. É este o Jesus dos nossos evangelhos, de quem Paulo fala, em Colossenses 1,15-20: “Ele é a imagem do Deus invisível (a visibilidade do invisível), primogênito de toda criatura; porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra.” Paulo não fala somente do Verbo, como no início do Prólogo de São João: para ele, é exatamente o “Verbo encarnado” que está aí, muito antes do aparecimento do homem; a Sabedoria do livro dos Provérbios é Ele, que está em ação em todas as coisas para produzir a Imagem e Semelhança de que fala Gênesis 1. Esta expressão que define o homem define em primeiro lugar o Filho, em quem Deus se conhece e se reconhece. Com Jesus, revela-se à plena luz do dia o que está fora do tempo. Nele, saído de si mesmo, Deus se revela: “generosidade expansiva”, conforme o biblista Paul Beauchamp. Não que, além de Deus, haja mais esta generosidade. Não. Ele é esta generosidade. “Deus é amor”. Existir, para Ele, consiste em se dar este “face a face semelhante a si mesmo” e, no entanto, sendo outro. Outro tirado de si mesmo (Gênesis 2,18 e 22-24). Isso é o que nos ensina a vinda de Jesus. Ver: Tito 3,4 e 1Jo 1,1-4.

O Espírito e a Sabedoria

Há na Sabedoria “um Espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil...” (Sabedoria 7,22). Este Espírito é “artífice de todas as coisas”. Mas, então, quem é criador? O Pai, o Filho ou o Espírito? Digamos que quem cria é esta troca, esta tríplice relação que “constitui” Deus. Nós fomos concebidos e assumidos numa relação de procriação. Deus é procriador, procriado, procriação. Foi preciso muita audácia aos primeiros cristãos para que cressem nisto e que o dissessem, a partir do gesto de Jesus e do dom do Espírito. A imagem que fazemos de Deus, do divino, transformou-se radicalmente. Não se pode mais dizer simplesmente que Deus é Um; é preciso dizer que é “União”, conforme santo Inácio de Antioquia que conclui que só existimos verdadeiramente como homens fazendo-nos também “União”. Um só corpo. A “função” atribuída ao Espírito é de ser a uma só vez o agente da comunhão entre o Pai e o Filho e quem dá ao Cristo um corpo novo, corpo a uma só vez uno e múltiplo. O sopro de Deus, que é a sua própria vida, expande-se e se comunica, fazendo-nos existir por participação com a natureza divina (2 Pedro 1,4). O Sopro carrega a Palavra e a Palavra se vê dar um corpo, o que vale para a Anunciação e, finalmente, para o Pentecostes. Só podemos existir sendo assumidos no intercâmbio trinitário.

Um programa para a humanidade

Temos, pois, que voltar a nos ligar ao “divino” que se revela dom de si. Isso exige a duração toda da nossa história: o que vale para cada um de nós e para a humanidade inteira. Mas será preciso esperar até o “final dos tempos” para que o Deus-União termine esta criação “à sua imagem”? De fato, entramos na comunhão divina a cada vez que, com os outros, criamos ligações autênticas. Lembremos este canto muito antigo: “Onde há a caridade e o amor, aí Deus está”, ou ainda estas palavras de Jesus: “Quando dois ou três se reunirem em meu nome, eu estarei no meio deles”. Ele está “no meio” para ser o “meio” no qual nos encontramos. Não apenas o mediador, o que faz o traço de união, mas a própria união; nele chegaremos a ela. Fazendo-nos irmãos, portanto, é que nos tornamos Filhos. Entramos já, por certo, na eternidade de Deus, mas permanecemos no tempo; nosso estatuto de irmãos e de filhos é para ser sempre reconquistado, sem cessar, no decorrer dos eventos e encontros de nossas vidas. A Trindade, que parece estar sempre tão acima de nós, tão distante, está, no entanto, bem aqui, ao alcance de nossos corações e de nossas mãos. Vivemos tudo isto na obscuridade da fé. Enquanto esperamos a plena revelação, busquemos viver e agir em Cristo, Ele que é a visibilidade do Pai (Santo Irineu). E o Espírito é que dá testemunho.

Leia mais no site www.ihu.unisinos.br

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Encontro de Formação de Catequistas – 2013


Comissão AB-C da Diocese de Santos e Pastoral do Menor
Encontro de Formação de Catequistas – 2013.


Tema da formação: O evangelizador, sua realidade e suas ações.



Comissão AB-C da Diocese de Santos, convida a todos os catequistas e evangelizadores do Guarujá para participarem  do Encontro de Formação de Catequistas – 2013. Tema da formação: O Evangelizador, sua realidade e suas ações.  O encontro se realizará no sábado dia 25 de maio na Paróquia Santa Rosa de Lima  com inicio às 13h30min até às 18hs.  Tragam uma Biblia, o Diretório Nacional de Catequese, caderno e caneta para anotações.

Catequistas e Evangelizadores participem sua presença é muito importante.

Local: Paróquia Santa Rosa de Lima
TEL: (13)3358-1479
ENDEREÇO :Av. Manoel da Cruz Michael, 297.
BAIRRO: Santa Rosa
CIDADE: Guarujá
CEP: 11430-090
E-MAIL: paroquiasantarosagja@hotmail.com

Veja no mapa como chegar.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Seu nome é Jesus


A poesia a seguir, de Pedro Casaldáliga, foi publicada originalmente em Itaici – Revista de Espiritualidade Inaciana n. 17 (Especial), setembro de 1994, ano 5, e republicada no sítio Religión Digital, 19-05-2013.

 
À Juventude envolvida nos desafios da

Jornada Mundial da Juventude

Seu Nome é Jesus

Deus veio até a casa, desdizendo-se de sua glória.
Pediu licença
ao ventre de uma menina sacudido por um decreto de César,
e se tornou um de nós:
um palestino entre tantos, em sua rua sem número,
semiartesão de toscas tarefas,
que vê passar os romanos e as andorinhas,
que morre depois, de morte ruim, matada,
fora da Cidade.

Já sei
que faz muito que os sabeis,
que vo-lo dizem,
que o sabeis friamente
porque vo-lo disseram com palavras frias...

Eu quero que o saibais
de repente,hoje, quiçá,
pela primeira vez,absortos, desconcertados, livres de todo mito,
livres de tantas mesquinhas liberdades.

Quero que vo-lo diga o Espírito,
qual machadada em tronco vivo!
Quero que O sintais como um esto de sangue no coração da rotina,
em meio a esta carreira de rodas entrechocadas.

Quero que tropeceis com Ele como se tropeça com a porta da Casa,
retornados da guerra, sob o olhar e o beijo impaciente do Pai.

Quero que O griteis
como um alarido de vitória pela guerra perdida,
ou como o parto sangrante da esperança
no leito de vosso tédio, noite adentro, apagada toda ciência.

Quero que O encontreis, em um total abraço,
Companheiro, Amor, Resposta.

Podereis duvidar de que haja vindo para casa,
se esperais que vos mostre a patente dos prodígios,
se quereis que vos sancione a desídia da vida.
Mas não podeis negar que seu nome é Jesus, com patente de pobre.
E não podeis negar-me que O estais esperando
com a louca carência de vossa vida rejeitada
como se espera o sopro para sair da asfixia
quando a morte já se enroscava ao pescoço,
como uma serpente de perguntas.

Seu nome é Jesus.
Seu nome é como seria nosso nome
se fossemos, de verdade, nós mesmos.