Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!
Antes da missa, o novo pontífice, de 76 anos, saudou os milhares de fiéis que
lotavam a Praça de São Pedro, no Vaticano, diante da Basílica, para acompanhar a
cerimônia.
O pontífice citou São Francisco de Assis, padroeiro do meio ambiente e inspirador de seu nome papal.
Ele afirmou que seu ministério é "cuidar das pessoas, principalmente dos mais pobres".
"Peço a todos aqueles que ocupam papel de
responsabilidade nos meios econômico, politico e social, a todos homens e
mulheres de boa vontade, para que cuidem da criação. Do desenho de Deus na
Natureza. Cuidem um do outro, do meio ambiente", disse.
O pontífice, primeiro jesuíta a exercer o cargo,
também apelou aos fiéis e principalmente às pessoas em postos de comando para
que não deixem que os "sinais de destruição" dirijam o mundo.
"Vamos lembrar que o ódio, a inveja, a soberba
sujam a vida", afirmou o pontífice. "Cuidar, então, significa vigiar
nosso sentimento, nosso coração, porque é dali que vem as coisas boas e as más
intenções. Aquelas que destroem e aquelas que constroem."
Francisco terminou a homilia pedindo a intercessão
da Virgem Maria, de São José, de São Pedro, São Paulo e de São Francisco, para
que o Espírito Santo acompanhe o seu ministério.
Durante a missa, o pontífice recebeu o anel do pescador e o pálio, símbolos da
autoridade papal.
Após a cerimônia, começou o tradicional "beija
mão", em que membros de delegações de 132 países e líderes religiosos de
todo o mundo fizeram fila para cumprimentar o pontífice.
A cerimônia demorou cerca de uma hora e meia.
Entre os chefes de Estado presentes no Vaticano,
estava a presidente brasileira Dilma Rousseff.
Homilia do Papa Francisco na Missa de início do Ministério Petrino
Queridos irmãos e
irmãs!
Agradeço ao Senhor por poder celebrar esta
Santa Missa de início do ministério petrino na solenidade de São José, esposo
da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência densa de
significado e é também o onomástico do meu venerado Predecessor: acompanhamo-lo
com a oração, cheia de estima e gratidão.
Saúdo, com afecto, os Irmãos Cardeais e
Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas e todos os
fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos Representantes das outras
Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos representantes da comunidade
judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo a minha cordial saudação aos
Chefes de Estado e de Governo, às Delegações oficiais de tantos países do mundo
e ao Corpo Diplomático.
Ouvimos ler, no Evangelho, que «José fez
como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa» (Mt
1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José: ser custos,
guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se
alarga à Igreja, como sublinhou o Beato João Paulo II: «São José, assim como
cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus
Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a
Virgem Santíssima é figura e modelo» (Exort. ap.Redemptoris Custos,
1).
Como realiza José esta guarda? Com
discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma
fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. Desde o casamento com
Maria até ao episódio de Jesus, aos doze anos, no templo de Jerusalém,
acompanha com solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de Maria, sua
esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difíceis da vida, na ida a
Belém para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento
dramático da fuga para o Egipto e na busca preocupada do filho no templo; e
depois na vida quotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria onde ensinou o
ofício a Jesus.
Como vive José a sua vocação de guardião de
Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus
sinais, disponível mais ao projecto d’Ele que ao seu. E isto mesmo é o que Deus
pede a David, como ouvimos na primeira Leitura: Deus não deseja uma casa
construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu desígnio; e
é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu
Espírito. E José é «guardião», porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela
sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que
lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento
àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. Nele, queridos amigos,
vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas
vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na
nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!
Entretanto a vocação de guardião não diz
respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é
simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a
beleza da criação, como se diz no livro de Génesis e nos mostrou São Francisco
de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde
vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma,
especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que
muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na
família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos
filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos
pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na
intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda
do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões
dos dons de Deus!
E quando o homem falha nesta
responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra
lugar a destruição e o coração fica ressequido. Infelizmente, em cada época da
história, existem «Herodes» que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam
o rosto do homem e da mulher.
Queria pedir, por favor, a quantos ocupam
cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os
homens e mulheres de boa vontade: sejamos «guardiões» da criação, do desígnio
de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que
sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para
«guardar», devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a
inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos
sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as
más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade,
ou mesmo de ternura.
A propósito, deixai-me acrescentar mais uma
observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura.
Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador,
mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos
fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude,
de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da
bondade, da ternura!
Hoje, juntamente com a festa de São José,
celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que
inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de
que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se
o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas.
Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa,
para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu
vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de
fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e
acolher, com afecto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais
pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no
Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu,
doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que
servem com amor capaz de proteger.
Na segunda Leitura, São Paulo fala de
Abraão, que acreditou «com uma esperança, para além do que se podia esperar» (Rm
4, 18). Com uma esperança, para além do que se podia esperar! Também hoje,
perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da
esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e
cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança,
é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!
E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança
que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada
sobre a rocha que é Deus.
Guardar Jesus com Maria, guardar a criação
inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós
mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o
qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança:
Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!
Peço a intercessão da Virgem Maria, de São
José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo
acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim! Amen.
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