Notícias do Sínodo dos Bispos 13 - Pe. Lima
DIÁLOGO DE JESUS COM A
SAMARITANA: EXEMPLO DE EVANGELIZAÇÃO
Um primeiro rascunho da
grande Mensagem do Sínodo
Na sessão da manhã de hoje, foi apresentada à Assembleia, um primeiro rascunho
da Mensagem do Sínodo. Dom
José Betori, arcebispo de Florença e presidente da Comissão de Redação, começou dizendo que é um texto
para transmitir imediatamente uma mensagem a todo o povo de Deus; é um olhar
orgânico sobre os grandes temas do Sínodo com muita transparência. A mensagem não é dirigida tanto
àqueles que devem ser evangelizados, mas às comunidades cristãs que, se supõe,
devem ser evangelizadoras. Trata-se de uma parenese (exortação) muito cálida,
um encorajamento e um elogio ao trabalho evangelizador já realizado.
A Mensagem é
bastante longa, pois precisa nomear muita gente, e o tema do Sínodo é vasto. O
texto é bíblico, perpassado pelo ícone de Jesus junto ao poço de Jacó
evangelizando a samaritana. A linguagem é fácil, incisiva e bem figurada. Ao
final da leitura de uns 45 minutos, um longuíssimo aplauso (mais do que o jovem
Tommaso ontem...), indicou a aprovação maciça da Assembleia. Teve início uma
rodada de observações; falaram 12 bispos, mas haveria ainda 36 inscritas e
foram exortadas a enviarem por escrito suas observações. Como sempre acontece,
há contradições nas observações, pois todo muito diz que é longa de mais, mas
não há quem não peça para inserir isso ou aquilo...
Como o conteúdo é muito extenso, dividido em 14 pontos, irei apresentá-los em
dois momentos. Hoje vai uma síntese dos 7 primeiros números e segunda feira
mais 7. O conteúdo essencial está presente, embora de forma abreviada.
Introdução:
antes de retornar às nossas dioceses, queremos nos dirigir aos fieis do mundo
inteiro para apoiar e orientar o serviço ao Evangelho nos diversos contextos
onde hoje se encontram.
1.
Deixamo-nos iluminar pelo encontro de Jesus com a Samaritana; não há mulher ou
homem que não se encontre ao lado de um poço com um jarro vazio esperando
encontrar respostas a seus problemas. Hoje há muitos poços, mas a água nem
sempre é boa... está poluída! Só Jesus é capaz de ler no fundo do nosso coração
e revelar nossa verdade. Então como a samaritana, tornamo-nos anunciadores da
salvação.
2. Por toda
parte se sente a necessidade de reavivar a fé que corre o risco de
obscurecer-se diante de tantas dificuldades. Essa é a nova evangelização (NE). Não se trata de começar tudo
de novo, mas de colocar-se no caminho do anúncio do Evangelho que atravessou
toda história e edificou a comunidade dos fiéis por todas as partes, fruto de
tantos missionários e não poucos mártires. Os tempos atuais nos conclamam para
algo de novo: viver de uma forma renovada nossa experiência comunitária de fé e
de anúncio através de uma evangelização "nova no seu ardor, métodos e
expressões". Bento XVI nos recordou que ela tem em vista principalmente as
pessoas que, embora batizadas, afastaram-se da Igreja, para que redescubram a fé,
fonte de graça e esperança. Estamos conscientes do enfraquecimento da fé de
muitos batizados. Queremos enfrentar o problema que os tempos geram nas formas
tradicionais de transmissão da fé.
3. Queremos,
de saída, afirmar nossa convicção: a fé depende inteiramente da relação que
estabelecemos com a pessoa de Jesus. A NE consiste
em repropor ao coração e à mente, muitas vezes distraídos, a beleza e a
novidade perene do encontro com Cristo. Convidamos todos a contemplar o rosto
do Senhor Jesus, entrar no mistério de sua existência, doada por nós até à cruz
e confirmada com o sua Ressurreição. Em sua Pessoa se revela todo o amor do Pai
por nós. A Igreja é o espaço que Ele nos oferece para encontrá-Lo, já que lhe
confiou sua Palavra, o Batismo, seu Corpo e Sangue, a graça do perdão, a
experiência de uma comunhão que é reflexo do mistério da SS. Trindade e a força
do Espírito que gera o amor para com todos. Compete a nós hoje possibilitar
experiências de Igreja, multiplicar os poços para convidar homens e mulheres a
saciar sua sede no encontro com Jesus. As comunidades cristãs são responsáveis
por isso e, nelas, todo discípulo do Senhor: a cada um é confiado um testemunho
insubstituível, para que o Evangelho possa chegar a todos. Essa é nossa tarefa
na NE: ser para os
outros a beirada de um poço acolhedor, no qual aas pessoas possam encontrar
Jesus.
4. Não se
trata de inventar estratégias, como se o Evangelho fosse um produto a ser
vendido no mercado das religiões. Devemos, sim, descobrir os modos pelos quais,
na aventura de Jesus, as pessoas se aproximaram dEle e por Ele foram chamadas.
Como poderemos fazer o mesmo? Sem dúvida a mídia
é uma estrada na qual se entrecruzam tantas vidas, questionamentos, dúvidas e
busca de respostas. Lembremo-nos: André, Pedro, Tiago e João foram questionados
por Jesus no trabalho do dia a dia; Zaqueu passou da simples curiosidade ao
entusiasmo de partilhar a mesa com Jesus; o Centurião pediu um milagre por
ocasião da doença de uma pessoa querida; o cego de nascença o invocou como
libertador de sua marginalidade; Marta e Maria o receberam em casa e no
coração... Percorrendo as páginas do Evangelho encontraremos diferentes modos
pelos quais a vida das pessoas se abriram para a presença de Jesus. Encontramos
a mesma coisa nas experiências missionárias dos apóstolos nos inícios da
Igreja. A leitura frequente da Bíblia à luz da Tradição ajuda a descobrir
espaços de encontro com Ele, modalidades verdadeiramente evangélicas,
enraizadas nas profundas necessidades humanas: a família, o trabalho, a amizade,
a pobreza, as provações da vida, etc.
5. Ai de nós
pensar que a NE não nos toca pessoalmente... a Igreja, antes de evangelizar o
mundo, deve evangelizar-se a si mesma. Revigorar a fé é antes de tudo trabalho
de vida interior de cada fiel e da vida interna da Igreja. O convite para
evangelizar se traduz num apelo à conversão. Precisamos de conversão:
reconhecemos, com humildade que a pobreza e fraquezas dos discípulos de Jesus,
especialmente de seus ministros, pesam demais na credibilidade da missão. Sabemos
que não estamos à altura da missão de levar o anúncio de Jesus a todos os
povos; somos vulneráveis, cheios de feridas... Mas estamos convictos de que a
força do Espírito do Senhor pode renovar sua Igreja e tornar resplandecente
suas vestes, se deixarmo-nos plasmar por ele. O propósito da conversão nos
envolve profundamente. Se tal propósito dependesse de nossas forças, pouco
alcançaríamos. Mas a conversão, assim como a Evangelização, não depende de nós,
mas do mesmo Espírito do Senhor. Aqui está nossa força e a certeza de que o mal
não terá a última palavra, nem na Igreja, nem na história. Confiamos na
inspiração e força do Espírito, que nos ensinará o que deveremos dizer e fazer,
mesmo nas circunstâncias mais difíceis. É nosso dever, pois, vencer o medo com
a fé, o aviltamento com a esperança e a indiferença com o amor.
6. Essa
coragem serena ilumina também nosso olhar sobre o mundo contemporâneo. Não
temos medo dos tempos que vivemos. Nosso mundo está cheio de incongruências e
desafios, porém permanece como criação de Deus, ferida pelo mal, mas também
terreno no qual a boa semente pode germinar. Não há lugar para o pessimismo no
coração daqueles cujo Senhor venceu a morte e nos quais o Espírito Santo opera
com potência. Assim, com coragem e decisão olhamos para o mundo, sentindo o
chamado de Jesus para aí sermos suas testemunhas. A globalização é uma oportunidade para dilatar mais a
presença do Evangelho no mundo; as migrações
são ocasião de difusão da fé e de comunhão entre culturas diferentes. A mesma secularização, reduzindo o espaço
da Igreja na sociedade, pode ser uma prova dolorosa, mas também proporciona
nova liberdade para propor o Evangelho, sem recuar nossa presença na Sociedade.
As novas formas de pobreza aumentam
os espaços para o serviço da caridade. No próprio ateísmo agressivo e inquieto agnosticismo podemos entrever, não
um vazio, mas a saudade, uma expectativa de que alguém possa dar uma resposta
adequada. Diante disso e dos questionamentos que as culturas dominantes colocam
à fé cristã, renovamos nossa confiança de que o Evangelho também para eles
possa ser luz e força do homem. A NE
não é obra nossa: a iniciativa e ação primeira vem de Deus; somente
inserindo-nos nessa iniciativa divina e invocando-a, poderemos - com Ele e nEle
- ser evangelizadores. Essa verdade gera, naturalmente, em nós a responsabilidade; mas não podemos
nos deixar abater.
7. Desde a
primeira evangelização e no suceder das gerações, a transmissão da fé sempre
foi nas famílias. Nelas, sobretudo pela ação das mulheres, os sinais da fé, a
comunicação das primeiras verdades, a educação à oração, o testemunho dos
frutos do amor foram introduzidos na existência das crianças. O Sínodo,
constatando em todas as culturas e latitudes a importância da família, reafirma
seu papel essencial na transmissão da fé. Não se pode pensar em NE sem a responsabilidade
indispensável da família no anúncio do Evangelho e sua missão educativa. Não
ignoramos que a família, constituída no matrimônio por homem e mulher,
atravessa crises assustadoras. Justamente por isso devemos cuidar da família e
sua missão na sociedade e na Igreja. Ao mesmo tempo, expressamos nossa gratidão
a tantos esposos e famílias cristãs que dão testemunho de comunhão e serviço,
sementes de uma sociedade mais fraterna e pacificada. Não ignoramos situações
em que a família não reflete aquela imagem de unidade e amor por toda vida,
como o Senhor nos ensinou. Há casais que convivem sem a bênção divina e humana,
multiplicam-se casais de segunda união, cujas consequências os filhos padecem.
Queremos lhes dizer que o amor de Deus não os abandona, que a Igreja é Casa
acolhedora para todos e que a comunhão eclesial não lhes é negada, mesmo se não
podem partilhar a Eucaristia e que não faltam meios para continuarem membros
vivos e atuantes da Igreja. Jesus não se apresenta à samaritana como aquele que
somente dá a vida, mas a vida
eterna. O dom da fé não é somente para esse mundo, porém uma
promessa de que o sentido último de nossa vida vai para além desse mundo, na
comunhão plena com Deus que esperamos após a morte. Desta vida futura são
testemunhas particulares os chamados à vida consagrada, pois vivendo na
pobreza, castidade e obediência, apontam para um mundo futuro que relativiza os
bens daqui da terra. O Sínodo reconhece e agradece-lhes a grande contribuição
que dão à missão da Igreja e convida-os para que sejam testemunhas e promotores
da NE nos vários
ambientes de vida nos quais vivem o próprio carisma.
Roma, 20 de Outubro de 2012, quinta feira
Pe. Luiz Alves de Lima,
sdb.